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O ambiente econômico da rua brava - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 28/06
Economia não levou pessoas as ruas, mas mediocridade até 2014 não deve ajudar a desanuviar o clima
O BANCO CENTRAL do Brasil prevê uma inflação média rodando em torno de 5,5% em 2013 e 2014. Perdoe-se e releve-se a imprecisão decimal. O cansaço com anos de inflação nesse patamar desbastava lentamente o prestígio do governo na "Era AP" (antes dos protestos).
Segundo o Banco Central, a coisa não vai ser muito diferente até 2014, na média. Decerto mudanças relativas de preços podem ocorrer, aliviando a pressão. Por exemplo, a inflação da comida pode não subir tanto quanto nos últimos anos. Nos últimos meses, o preço da comida subia ao ritmo anual de 15% ano, por aí, quase o dobro dos aumentos de salários.
A diferença deste biênio final de Dilma Rousseff é que a taxa de juros será maior.
A taxa de desemprego em tese deveria subir ligeiramente neste período. Mas, dadas as esquisitices recentes da economia brasileira, nem isso dá para prever.
Sim, o crescimento será maior do que a miséria de 2012. Em termos políticos e sociais, não fará assim diferença para o cidadão comum. A julgar pelo lento andar da carruagem, o crescimento virá um pouco mais de investimento do que de consumo, o que é bom, mas tal mudança não aparece para mulheres e homens da rua.
A dúvida politicamente mais relevante diz respeito ao ritmo de aumento dos salários, que está diminuindo. Mas tal resposta depende, óbvio, do que vai acontecer com o emprego, bem incerto, como se observou linhas acima. De qualquer modo, não parece razoável esperar que os salários passem a crescer mais do que agora.
O cálculo da probabilidade de o protesto ter algum efeito econômico é uma pilhéria ainda maior. Por ora, parece que não vai ser bom. Governos acuados, politicamente tontos, para não dizer ineptos, estão acumulando alguns problemas fiscais (desequilíbrios entre receitas e despesas). Isso ainda vai pingar algumas gotas azedas num cenário econômico na melhor das hipóteses medíocre.
No mais, a especulação sobre o efeito da rua na economia é ainda mais pretensiosa, embora a demagogia e o oportunismo das respostas de governos e parlamentos sempre nos permitam esperar o pior.
E daí? O protesto da rua dificilmente foi uma reação geral à deterioração das condições econômicas. A gente mal vê reivindicação de salários, embora apareçam ali e aqui queixas sobre o custo de vida.
Mesmo nas pesquisas realizadas durante os protestos as pessoas se disseram "satisfeitas ou muito satisfeitas" com sua vida em 71% dos casos.
Ainda assim, mais um ano e meio de mediocridade econômica com redução do poder de compra (ou estagnação do processo de melhorias) certamente não vão desanuviar o ambiente.
Observe-se ainda que nem toda a população teve ganho de renda "na média". Pessoas com nível de renda bem acima da média e abaixo dos raros ricos, vamos dizer o "quinto" ou o "décimo" realmente classe média não progrediram tanto assim. Estava aí o bastião do azedume contra o governo, são daí muitos dos manifestantes da rua, pelo menos das ruas centrais das cidades. Essas pessoas parecem mais iradas do que o restante dos seus concidadãos.
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