BRASIL RESPONDE DIREITINHO À PESQUISA INTERNACIONAL
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BRASIL RESPONDE DIREITINHO À PESQUISA INTERNACIONAL


Uma pesquisa da Pew Global sobre igualdade de gênero realizada em 22 países nos meses de abril e maio revelou dados que, pra mim, são espantosos — no bom sentido. Checando os números desse levantamento com meu olhar Polyanna, devo constatar que o mundo mudou, ou ao menos mudou a percepção geral de que mulheres são cidadãs de segunda classe. Claro que eu poderia adotar um olhar mais crítico e enxergar o copo pela metade. Mas o que me deixa mais feliz é que as respostas dos entrevistados brasileiros batem com as do países mais ricos.
Olha só que ótimo: uma das perguntas da pesquisa era se as mulheres deveriam ter direitos iguais aos dos homens. No Brasil, 95% respondeu sim (mesma porcentagem da China e do Líbano, contra 97% nos EUA, 99% na França e Espanha, 89% no Japão, 79% no Paquistão, 60% no Egito e na Jordânia, e 45% na Nigéria). Até aí tudo bem, porque alguém precisaria ser um ogro pra defender a desigualdade. Para essa vasta massa de entrevistados que respondeu “sim”, a pergunta seguinte foi se a maioria das mudanças já havia sido efetuada, ou se mais mudanças eram necessárias. No Brasil, incríveis 84% optaram por mais mudanças, número que só perde pro Japão, onde 89% defenderam que muita coisa ainda precisa mudar. O país em que a maior parte dos que defendem direitos iguais crê que não há muita necessidade para mais mudanças é a Indonésia (58%). Esta questão das mudanças é importante. Eu lembro quando comecei a escrever pro jornal, doze anos atrás. Meu feminismo ficou evidente desde o início, o que levou meu editor a questionar: “Mas por que você é feminista? Tudo que vocês queriam já foi conquistado!”. Não vou nem falar do “vocês queriam” na afirmação, que denota que ele não queria. A gente ouve isso sempre: parem de lutar, abaixem essas armas, vocês já ganharam. Lógico que isso não é verdade, e qualquer estatística desmente que conseguimos a igualdade. Não só no Brasil mas em todo o mundo, o salário das mulheres ainda é menor que o dos homens (outro dia suecas queimaram dinheiro numa manifestação contra as diferenças salariais). Cuidar da casa e dos filhos ainda é considerado uma obrigação feminina. Esposas e namoradas ainda são vistas como propriedade do homem, e, consequentemente, continuam sendo espancadas e assassinadas por quem deveria amá-las. Mulheres ainda são minoria no Congresso, no Senado, e também no executivo — na política, enfim. Ainda há um padrão diferente para os gêneros no que se refere à questão sexual. Mesmo que a virgindade não seja mais sinônimo de decência, como era na minha adolescência, ainda achamos que um rapaz que tem várias parceiras é um garanhão digno de elogios, enquanto que, se uma moça decidir ter o mesmo comportamento, será uma vadia. E por aí vai. A lista do que precisa ser mudado é longa. E, se a gente acredita que as conquistas já foram obtidas, paramos de lutar. Por isso que é tão admirável que 84% dos brasileiros creiam que são necessárias mais transformações.
O Brasil também tem uma resposta comparável à dos países civilizados quando a pergunta é se as mulheres devem poder trabalhar fora de casa (96% no Brasil diz sim, 97% nos países desenvolvidos e na China. Na Argentina, esse número cai para 87%! O mais baixo é a Jordânia – 58% - e o Egito – 61%). Dããã, você pode pensar, com razão: é óbvio que mulher deve poder trabalhar fora! Quem vai dizer o contrário? Mas lembra daquelas pesquisas que perguntam “Você é racista”, e 90% dos entrevistas juram que não, de jeito nenhum? E aí quando a pergunta é “Você conhece alguém racista?”, a afirmativa vem em quase 100% dos casos? Então. Uma coisa é dizer da boca pra fora que sim, mulher pode trabalhar. Outra é testar essa afirmativa. Não é à toa que a pesquisa internacional pergunta: “Quando o emprego é escasso, homens deveriam ter mais direito a um emprego?”. 12% dos ingleses e espanhóis e 14% dos americanos concordaram com essa alternativa. Na Índia, 84%! Na China, 73%. Na Rússia, 47%. O Brasil até que se saiu bem: 37%. Um pensamento desses segue forte e esconde vários conceitos arraigados, como aquele que o homem deve ser o provedor da casa. O interessante é que, se analisarmos a resposta de mulheres e homens separadamente, veremos que, ao contrário do que prega aquela velha acusação de que “se a sociedade é machista, a culpa é das mulheres”, há muito mais homens defendendo prioridade de emprego pros homens do que mulheres. Um exemplo: no Egito, impressionantes 92% dos homens concordam que, durante uma crise, o que vale é o emprego do homem. 58% das mulheres pensa assim. É altíssimo ainda, mas tá longe da unanimidade dos 92%.
Outra questão fascinante que a pesquisa fez é “Quem tem uma vida melhor?”. Esta foi a pergunta que teve respostas mais variadas. O Brasil, surpreendentemente, está no time dos países que acham que os homens levam uma vida melhor (42% dos brasileiros responderam “os homens”, 30% “as mulheres”, 27% “os dois”), junto com a França (75% acham que são os homens), a Polônia (55%), Nigéria (46%), e os EUA (36%). Os países que dizem que a vida é igual pra ambos os gêneros são México (56%), Rússia (52%), China (49%), e Egito (46%), aquele país em que apenas 61% aceitam que a mulher trabalhe fora. Na Coreia do Sul e no Japão, mais gente pensa que a vida é melhor pra mulher (49% e 47%, respectivamente). Esta pergunta é importante, já que envolve a questão dos privilégios. O pessoal que grita “Não deveria haver Dia Internacional da Mulher! As mulheres estão em condições melhores que os homens!” costuma dizer também que as minorias em geral (mulheres, negros, gays) encontram-se num patamar muito superior ao do homem branco hétero, e que o verdadeiro discriminado hoje em dia, tadinho, é o bicho homem.
O lado bom dessa pesquisa internacional é que parece haver um consenso de que a mulher merece direitos iguais aos dos homens. O lado formidável é que, se a gente comparar as respostas brasileiras com as de outros países, chegaremos à conclusão de que o Brasil é menos machista do que esperávamos. Maravilha que, na teoria, o Brasil não seja um país machista. Que tal aplicar isso na prática?




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