CAUSOS DE UM BRASILEIRO NUM RESTAURANTE ITALIANO EM PORTUGAL
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CAUSOS DE UM BRASILEIRO NUM RESTAURANTE ITALIANO EM PORTUGAL


Cavaca é brasileiro e trabalha num restaurante italiano em Lisboa há cinco anos. Semana passada, ele escreveu um excelente guest post falando sobre gorjetas. Agora ele compartilha conosco causos da sua experiência como garçom (as fotos que acompanham este post são dele também. Visitem o Valentino quando estiverem em Portugal!).
- A coisa mais deplorável que fiz com uma cliente, que vou me arrepender eternamente, foi há dois anos. Sexta-feira, 20:00. Era uma americana de 40, vinha de braços dados com o marido, e ao seu lado um cão-guia. Eu lhe dei boa noite e ela me perguntou como eu estava. Respondi e perguntei como ela estava também. Meu patrão estava ao meu lado. Então ela disse que era cega e que o cão era absolutamente dócil, e que nós poderíamos colocá-los em qualquer cantinho. Eu abri a porta, mas meu patrão me olhou interrogativamente e hesitei (a lei diz que não pode!). E não sabia o que dizia a lei quanto ao fato de o cão ser um cão-guia. Eu disse se eles gostariam de sentar dentro ou fora, e o marido respondeu que estava demasiado frio para se sentarem fora. Então meu patrão, num inglês ruim cheio de sotaque, disse que não poderiam por causa do cachorro. A mulher começou a repetir que era cega e que o cão era o seu guia, era os seus olhos. Começou até mesmo a nos explicar isso em espanhol. E subitamente o marido disse: “Let's go baby, we don't belong to this place” (“Vamos, querida, não pertencemos a este lugar”).
Se eu pudesse voltar no tempo... Os cães-guias podem entrar em qualquer lugar.
- Agora algumas coisas que já aconteceram comigo.
Em Portugal, por regra, os copos grandes são para água e o
s menores, para o vinho. Nós usamos copos diferentes, os de vinho são taças, e os de água são como aqueles copos americanos de tomar cachaça. Não dá para beber vinho ali, né? Até dá, mas não num restaurante, quando se tem uma bela taça para esse fim. Uma senhora não concordou comigo e me disse:
"Estás a me servir no copo errado".
"Desculpe senhora, mas usamos esses copos maiores para o vinho".
"Mas são copos errados"
"Ok". Troquei os c
opos.
Ela ainda não estava contente em estragar o meu dia, e arrematou:

"Ouve-lá uma pessoa que sabe mais que tu e meta esse vinho no copo como dever ser".

Respirei fundo e disse em pensamento:
"Para mim é igual, coloco até no prato se vai fazê-la sentir-se melhor".
- Uma vez um cliente indiano milionário quis que eu começasse a saltar ao lado da mesa, assim como se fosse uma mascote, porque não tínhamos o vinho que ele pediu.
Eu saltei foi para longe daquela mesa e o meu pensamento não dá para ser transcrito aqui.
- Costumamos colocar um cesto de pão com dois pães nas mesas, que é o couvert, para as pessoas irem comendo enquanto esperam pela comida. Uma vez um senhor reclamou com o meu colega e pediu para falar comigo. Quando cheguei na mesa, notei pelos olhares das mesas vizinhas que ele já se tinha feito ouvir:
"Ouve lá, por que dois pães se somos quatro?”

"Boa noite para o senhor também... Quanto aos pães, é só pedir mais ao meu colega que ele traz imediatamente".
"Foi o que ele fez. Mas essa é uma mesa de quatro, não é? Você é brasileiro?". Parecia estar sentindo um cheiro ruim quando disse isso.
"Sou".
"Já não há mais portugueses em Portugal", sussurrou ele para os convivas.
"Desculpe?" - eu disse.

"Isso mais par
ece racionamento", tornou ele. "Sabe o que significa racionamento?"
Em pen
samento, respondi: "É o que o senhor deveria fazer com as suas palavras”.
- Tem gente que recebe um tratamento que nunca teve na vida e deixa 0,20 cêntimos. Sacanagem, é melhor não deixar nada. Eu devolvo.
- Uma vez um colega meu foi esmurrado. O cliente de um grupo havia ido ao banheiro e deixado a carteira sobre a mesa. Já estavam de saída; no entanto, a namorada apanhou a carteira e ficou à espera dele no carro. Ele simplesmente acusou meu colega de ter roubado a carteira e deu-lhe um murro. Brasileiro é tudo ladrão mesmo, né? Depois vem a namorada com a carteira dele na mão. O nosso segurança teve uma conversinha com ele. Acho que não aparece mais por aqui.
Isso acontece no nosso restaurante, que é considerado de luxo.
- Uma das coisas que dá mais nos nervos de toda a gente é aquela pessoa que come azeitona de garfo e faca, ou que trisca a pontinha da faca numa gota de manteiga, e cruza os talheres quando chegam os pratos para você ter que trocá-los! E você com mais oito mesas requisitando a sua atenção.
- O que a maioria dos portugueses faz: apenas se senta, levanta o braço e te chama.
Você vai: “Boa noite”.
Nada. Todo mundo olhando a carta e falando entre si.
“Boa noite...” - você fala, ligeiramente mais alto.
Nadinha.
“Já escolheram?”
“Filipa”, - diz o marido - “queres partilhar uma pizza comigo?”.
“Não, quero uma massa, mas nem sei se é aquela com tomate ou com caril. Ai, vamos pedir para os miúdos primeiro. Pedrinho, que pizza queres?”
“Não quero pizza!” - grita a peste.

O cara nem escolheu, e já me chama!
É melhor parar, senão me empolgo. Se calhar o Vitor teve mais sorte lá no Havaí.
Aviso lolístico: Essas são experiências e observações do Cavaca, não minhas, que infelizmente ainda não fui à Portugal. Tenho certeza de duas coisas: que Cavaca adora Portugal, ou não moraria lá há quinze anos, e que os leitores portugueses deste bloguinho são super bem educados e simpáticos.




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