CLÁSSICOS: BLADE RUNNER / Vinte anos do futurista noir
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CLÁSSICOS: BLADE RUNNER / Vinte anos do futurista noir


Tal qual o Tarantino, meu primeiro emprego foi numa locadora de vídeo. Naquela época (1986), o mercado de vídeo estava engatinhando, e quase todo o acervo era pirata. Pois bem, adivinhe qual era o filme mais requisitado e comentado pela minha seleta clientela? Era "Blade Runner, O Caçador de Andróides". Quatro anos depois do seu lançamento, ele já havia se transformado em grande cult. A gente podia ficar aqui falando horas sobre como mudou o gosto do público consumidor (temo em pensar qual o blockbuster mais popular nas locadoras de hoje), mas não, vamos nos concentrar em "Blade Runner", que agora está completando duas décadas de vida.

Por incrível que pareça, "BR" foi mal recebido por vários críticos americanos, e ainda hoje há quem torça o nariz pra ele. Aqui no Brasil, é difícil encontrar quem não o considere uma obra-prima. Pra mim, não dá pra fazer uma lista dos melhores filmes de ficção científica sem incluir "BR". Claro que podemos discutir se este clássico recente é ficção mesmo ou se chega mais perto das histórias de detetive da década de 40. Digamos que seja um futurista noir, como nunca se fez outro.

A trama se passa numa Los Angeles chuvosa, feia, poluída, sem o menor resquício de natureza, num futuro não tão distante: 2019. Daqui a quantos anos mesmo? Nesses tempos, teremos carros voadores e colônias terrestres em outros planetas. Construiremos andróides pra trabalhar nas colônias feito escravos, e nossa vasta tecnologia criará diversos tipos de replicantes. Mas daremos uma efêmera existência de quatro anos a esses andróides e embutiremos neles falsas memórias de uma infância que nunca tiveram. Tudo isso pra impedir que comecem a fazer aquelas perguntinhas básicas: de onde vim? Para onde vou? Por quanto tempo? Qual minha finalidade nesse mundo? Alguns andróides se rebelam e voltam pra Terra. Querem conhecer seu criador e ter a resposta pra essas questões. Cabe a um ex-policial desiludido, interpretado pelo Harrison Ford, localizar e eliminar esses replicantes implicantes.


O filme é baseado num livro do Philip K. Dick, "Do Androids Dream of Electric Sheep?", algo como "Andróides Sonham com Carneirinhos Elétricos?". O romance mostra uma civilização desoladora, em que só milionários terão animais de verdade, tão raros que são caríssimos. O resto da população terá de se contentar com bichos sintéticos. Na mesma linha pessimista, vem também de Dick a fonte pros ótimos "Minority Report – A Nova Lei" e "O Vingador do Futuro". O homem tá com tudo. Pena que tenha morrido poucos meses antes do lançamento de "BR" e não pôde usufruir da sua fama cada vez mais crescente. Não me lembro se nos livros dele transparece essa fixação por olhos que existe nos filmes. É impressionante como tem olho focalizado em "BR". Tem olho congelado, olho de coruja, olho que salta das órbitas...

Quando o diretor Ridley Scott (que vinha de "Alien") acabou de montar "BR", o estúdio não gostou. Então os senhores de terno forçaram o Harrison Ford a gravar uma narração e mudaram o final – a derradeira seqüência vem de sobras de "O Iluminado" e, de fato, não tem nada a ver com o clima. Ridley lançou sua versão do diretor em 93 e ela é bem legal, cheia de nuances (talvez o detetive seja um andróide também), mas espero não ser linchada ao afirmar que prefiro o filme de 82. Pessoalmente, adoro a narração do Ford. Ela é tão displicente, tão abertamente descontente, que dá um ar ainda mais vagabundo a "BR", jogando-o definitivamente no noir. E o personagem do Ford é tudo menos heróico. Apanha de todos, é meio covarde, só funciona empunhando uma arma, e está constantemente assustado. Ou seja, é mais humano que os super-heróis a que estamos acostumados. Ford está perfeito. Ele era meu velho conhecido: eu já havia me apaixonado por ele em "Caçadores da Arca Perdida". Mas conhecer o holandês Rutger Hauer (o líder dos andróides) abalou meu coração fiel. Só eles já são dois motivos mais que filosóficos pra ver ou rever o bárbaro "BR".





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