CRÍTICA: ALBERGUE / Quanto custa um americano?
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CRÍTICA: ALBERGUE / Quanto custa um americano?


Em “Albergue” um grupinho de turistas vai parar na Eslováquia atrás de sexo e encontra uma câmara de tortura onde ricos se saciam trucidando gente. Não entendo bem o apelo desses troços. Não assustam. Não fazem rir. Não comovem. Em “Wolf Creek” eu pelo menos dialoguei com a tela (“Não! Não! Não vai lá!”). Mas aqui só fiquei assistindo pensando “Por que eu tô vendo isso mesmo?”. Aliás, desde a primeira meia hora de seios pululando na tela, me dei conta que aquilo não era pra mim. Esse tipo de terror vem se popularizando no cinemão desde “Jogos Mortais” (o gênero existe no Japão e na Europa faz tempo, em produções que não tivemos o prazer de assistir). Mais ou menos responde à pergunta: como infligir maior dor a uma pessoa? Como torturá-la de forma original? Pra quem gosta de “Faces da Morte”, deve ser um prato cheio. É “Faces” na sua versão ficção. Ou talvez seja surrealismo versão narrativa. Em “O Cão-Andaluz”, de 1929, vemos o close de um olho sendo cortado com navalha, só pra chocar, entre outras imagens asquerosas e sem nexo. Em “Albergue” e “Jogos Mortais”, acrescenta-se uma história. E quando chega ao ponto de alguém recortar o olho de um felizardo e sair pus, vira “Albargh” mesmo. O público vai ao delírio.

Trata-se de uma experiência totalmente sado-masô, mas não nessa ordem. Primeiro é masoquista, se nos identificarmos com as vítimas. A gente pensa que podia ser com a gente (bom, eu não pensei, porque dificilmente viajaria a algum país à procura de peitos). Mais tarde, quando uma das vítimas vira algoz, é puro sadismo. É o que a gente gostaria de fazer com os torturadores (bom, eu não, porque desmaio ao ver sangue, e só fantasio em matar alguém quando meus vizinhos põem pagode em volume máximo).

Mas vou fazer um esforço pra desenterrar alguma coisa filosófica no meio dessa barbárie. A palavra mais repetida no filme, fora “fuck” e talvez “Por favor, nããão!”, é claramente “americano”. Desde o começo somos repetidamente bombardeados com a nacionalidade dos mochileiros. A explicação pra isso vem à tona quando tem início o terror, e vemos que torturar e matar alguém custa caro, dependendo da nacionalidade. Americana é a nacionalidade mais cara de todas, lógico. A gente sabe disso de tanto ver filme sobre algum ianque em perigo tirando o passaporte e gritando pra população hostil “Sou um cidadão americano!”, o que deve querer dizer que eles podem invadir terras alheias e eliminar quem estiver pela frente, mas o oposto não se aplica. Ainda bem que em “Albargh” não tinha vítima brasileira em promoção, porque isso não faria bem pra nossa auto-estima.

Essa gosma custou de 30 mil a 4 milhões de dólares, dependendo em quem você prefere acreditar. Pros padrões deles, uma bagatela de qualquer jeito. Mas se a gente pensar em termos mercantilistas, a 25 mil dólares a vítima, quantas vítimas daria pra comprar e matar de verdade com essa grana? Não precisa ser vítima americana, pode ser qualquer uma em liquidação do terceiro mundo. Pra que gastar com efeitos especiais e ketchup? Acho que fazer um “snuff movie” sairia ainda mais em conta.

Mas até que “Albargh” seria interessante se falasse mais do tipo de sujeito que se diverte em torturar pessoas até a morte. Pelo menos o filme deixa claro que só homem pra se interessar por essa modalidade de entretenimento. As mulheres servem apenas pra seduzir os incautos ou pra serem vitimadas. Praticamente não há atriz aqui que não mostre os seios. Mas, apesar de altamente misógino, “Albargh” tampouco limpa a barra do sexo masculino. Por exemplo, um sujeito diz pros mochileiros que a Eslováquia tá cheia de mulher fácil que adora transar com qualquer um com sotaque porque os homens morreram na guerra. Ahn, que guerra? Como os turistas são machos, e americanos, eles caem.

Também é de se pensar em quem esse gênero de cinema atrai. É gente que se tivesse 25 mil dólares torturaria um humano? Ou é gente que quando criança torturou animaizinhos? Ou, como todos nós, é gente que (com sorte) jamais vai experimentar essa violência na vida real, e satisfaz sua curiosidade em vê-la na tela? Será que a gente pode reverter a crítica à violência na mídia (que cenas de violência, mesmo que não gerem violência, nos anestesiam), e dizer que cenas de violência cortam a vontade de um psicopata? Taí, encontrei um sentido pro filme.





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