MORTE AOS HOMENS
Geral

MORTE AOS HOMENS


Agora vi Ms. 45, um filme B de 1981 conhecido no Brasil como Anjo da Vingança. Se minha mãe souber que estou vendo produções de segunda ao invés de todos os clássicos franceses e italianos à disposição (estou vendo alguns desses também), ela me deserda. Mas eu entendo da seguinte forma: quando veria Ms. 45 se não fosse agora, aqui nos EUA? Eu peguei o DVD principalmente porque antes vi I Spit on Your Grave (Eu Cuspo na sua Cova), típico exemplo do sexploitation movie, sobre o qual ainda vou escrever. E, como alguns críticos mencionam Ms. 45 e Spit na mesma frase, pensei que fossem parecidos, e achei que um filme do Abel Ferrara seria uma forma mais nobre de encerrar minha experiência com esse tipo de cinema (dois sexploitation movies! Já deu pra tosse, né?). Bom, ou eu vi uma versão muito, muito cortada de Ms, ou o filme tem quase tanto a ver com Spit como o remake de Funny Games tem a ver com Albergue e Jogos Mortais o que os críticos americanos andam dizendo – o que eles fumam antes de escrever?). Ms é sobre uma jovem muda numa Nova York repleta de predadores, como mostra o trailer. Todos os homens parecem ser tarados que falam sacanagens pras mulheres que passam. A personagem-título é estuprada duas vezes no mesmo dia, uma por um psicopata na rua, outra por um criminoso que invade seu apê (ser violentadas duas vezes no mesmo dia é extremamente pouco realista, ainda mais se considerarmos que mais de 80% das vítimas de estupro conhecem o estuprador, que ora é alguém da família, ora “amigo” da família ou da vítima). No caso do estuprador no seu apê, ela consegue matá-lo com um ferro de passar roupa. Fica com a arma dele, uma pistola 45. E pouco a pouco vai gostando cada vez mais de matar homens. E não precisa ser apenas estupradores. Qualquer homem que beije uma mulher em público entra pra sua listinha. Nisso Ms tem muitas semelhanças com Repulsa ao Sexo, clássico de 66 do Polanski (se você não viu, veja. É um terror psicológico de primeira. Mas saiba que tem seu ritmo próprio, muito mais europeu que americano). Aliás, em ambos os filmes as protagonistas trabalham com armas em potencial – em Ms, Zoe Lund passa roupa com um ferro pesado e quente; em Repulsa, Catherine Deneuve faz uma manicure. Enquanto em Repulsa o sinal mais explícito da deterioração da moça seja uma carne de coelho deixada fora da geladeira, em Ms a preocupação maior é o que fazer com seu único cadáver (os homens mortos na rua ela pode deixar onde estão). Ela o corta em pedaços e despeja um pacote por dia em diversos pontos da cidade. Pra mim fica claro que trata-se de uma fantasia feminina/feminista quando Ferrara mostra como é fácil cortar o braço de alguém com uma faquinha de cozinha (mas nem as facas Ginzu!). Enfim, esse tipo de exploitation geralmente tem duas partes, igualmente importantes. Na primeira a vítima sofre o diabo, é estuprada e espancada, tudo diante da câmera. Na segunda a vítima se vinga de seus algozes, usando o máximo de crueldade (e originalidade). A primeira parte deve ser bem executada pra que a gente vibre com as mortes na segunda (como fazemos em Desejo de Matar e, mais recentemente, Valente, com a Jodie, se bem que Valente tem algumas discussões éticas no meio, o que o desqualifica como exploitation). Em Ms, os dois estupros são rápidos, sem sensacionalismo, e a vingança também. Ok, eu mentalmente pensei “Mata! Mata!” no instante em que a vítima segura um ferro de passar em cima da cabeça do estuprador (que deve ser uma homenagem ao modo que a filha-zumbi mata a mãe em A Noite dos Mortos-Vivos). Mas as mortes que vêm depois são todas limpinhas (com revólver!), e envolvem homens que não são necessariamente monstros (na festa de Halloween, em que ela atira em todos os machos que vê pela frente, sabemos que um deles é um sacana – não quer mais fazer a vasectomia que prometeu à esposa. Mas, ainda assim, pena de morte é uma sentença meio forte prum crime desses). E nossa heroína nunca mais encontra seu primeiro estuprador; logo, não pode vingar-se dele. Um exploitation movie sem tanta exploração. Eu gostei. É um cult.

Zoe Lund dá uma de psicopata de Taxi Driver em Ms. 45. Aqui ela está vestida de freira porque 1) é Halloween no filme, e 2) Abel Ferrara é tarado por freiras, o que a gente sabe por causa de Vício Frenético.





- Como Decidir Se Um Filme É Ou NÃo Feminista?
No começo do ano falei do Bechdel Test, um teste que não é bem um teste criado por uma cartunista americana lésbica para determinar se um filme vale a pena ser visto por ela. Para que ela se disponha a sair de casa e ir ao cinema, um filme deve cumprir...

- Alguns Consensos Sobre A ViolÊncia Contra A Mulher, Por Favor?
Segunda passada, no post em que respondi ao Dedalus, ele e um outro rapaz sentiram-se injustamente acusados pelo post e pelos muitos comentários. E, perdoem-me, mas falaram muita besteira também. Tentaram justificar o estupro apelando pra vantagens...

- CrÍtica: Valente / Desejo De Matar Replay
É muito estranho que “Valente” (“The Brave One”), marcado pra chegar ao Brasil dia 2 de novembro, tenha tido a estréia cancelada e agora vá direto pra DVD. Não que o filme seja uma maravilha, mas é com a Jodie Foster, que até pode ser indicada...

- CrÍtica: Albergue / Quanto Custa Um Americano?
Em “Albergue” um grupinho de turistas vai parar na Eslováquia atrás de sexo e encontra uma câmara de tortura onde ricos se saciam trucidando gente. Não entendo bem o apelo desses troços. Não assustam. Não fazem rir. Não comovem. Em “Wolf...

- CrÍtica: Colateral / Use Transporte Colateral: Vá De Metrô
Ver "Colateral" me levou a algumas reflexões. Uma: taxista é fogo. Será que essa categoria é igual em todo canto? Aqui eles são famosos por apoiarem pena de morte e odiarem a esquerda com todas as forças. Mesmo nos EUA, creio eu, as chances de pegar...



Geral








.