O bacana de escrever sobre Arquivo X: Eu Quero Acreditar é que não preciso resumir a trama. Afinal, os fãs da série vão conhecê-la muito melhor que eu, e os não-fãs não devem estar interessados. Basta dizer que aqueles dois agentes do FBI daquela série que terminou há seis anos são chamados pra resolver um mistério.
Pra mostrar que o filme tem senso de humor, a musiquinha (aqueles acordes famosos) é usada três vezes: nos créditos iniciais, nos créditos finais, e lá pelo meio, quando Mulder e Scully estão num corredor do FBI e vêem uma foto do Bush. Toca a musiquinha. As quatro pessoas que estavam na sessão comigo riram. Do lado da foto do Bush há um quadro do J. Edgar Hoover, ex-chefão da agência (essa ninguém riu. Acho que não entenderam). Mas essa referência e mais as dezenas de linhas dos dois ex-agentes dizendo “eu não pertenço aqui”, “não vou voltar de jeito nenhum”, “eles é que têm que me pedir desculpas”, me deixaram com a impressão que o filme é totalmente contra o FBI (ao contrário de Silêncio dos Inocentes). Por falar em diálogos, eles deviam ser enxugados. Há palavras demais manifestando dúvidas. Quando alguém diz: “Você não precisa ficar aqui”, pensei que estivesse se referindo a minha estada no cinema.
Mas o problema maior é a Scully, feita pela Gillian Anderson. Ô mulherzinha chata! Ela não tem um pingo de humor e está sempre com a mesma cara meia cadavérica, dependendo do ângulo - boca entreaberta e pinta de quem vai se desmanchar em lágrimas. O Mulder (David Duchovny) ao menos faz alguma piadinha e se leva menos a sério. E o que um menininho doente tem a ver com qualquer coisa da trama? Esses momentos, que focam exclusivamente na insuportável da Scully, não estão minimamente relacionados com o resto. É só pra revelar como a agente é uma excelente médica e uma pessoa que se preocupa com os outros. Tá, juro que eu já sabia disso tudo. Próxima! Toda vez que essas cenas apareciam, eu ouvia o barulho do filme indo pra UTI. Sabe aquela maquininha que mede as funções vitais de um paciente? Eu ouvia o troço apitar Pi pi pi pi sempre que o garotinho olhava pra Scully. E pensava: cadê o Patch Adams pra animar aquele clima de velório? Nunca na minha vida imaginei que sentiria saudade do Patch Adams!
Aliás, alguém me explica como médicos, padres e freiras trabalham juntos no mesmo hospital. Pra igreja tem que jogar tudo na mão de Deus, e cientistas não costumam ser muito religiosos. O filme tenta tocar nessas questões de fé, mas é bastante incompetente. Em compensação, entendi perfeitamente a parte em que algum agente entra onde os russos realizam cirurgias ilegais e gritam: “Alguém aqui fala em inglês?!”, e ninguém se manifesta. Foi assim comigo em Moscou. Igualzinho, só que eu tava desarmada na ocasião. E vocês que viram o filme com legendas, colaborem: eu ouvi errado ou tem uma hora em que o Mulder berra pra um sujeito “Costure o pescoço dela de volta!”? Porque se é isso mesmo que ele diz, bem, é um diálogo pra entrar na galeria dos clássicos.
A cena mais interessante é uma em que Mulder e Scully estão na mesma cama casal. Mas o filme não dá a menor pista de como eles chegaram lá, ou do que veio antes. Alguma nave espacial jogou os dois lá? Agora, não sei se este é um spoiler ou se fará você desistir de vez de ver o bagulho. Preciso contar: o Mulder aparece mais de 25 minutos com uma barba. Assim que a Scully lhe diz “Essa barba espeta!”, ele corre pro banheiro cortá-la (a barba, não a Scully). Isso prova que não houve absolutamente nada entre eles, certo?