No começo era uma casa assombrada. Agora houve uma globalização do medo, uma epidemia do Japão para o mundo. Se eu entendi direito, o troço fugiu de controle. A parte três (que desde já aviso que não vou assistir), marcada pro ano que vem, será um filme de zumbis, imagino. Neste 2 tem um momento em que alguém diz: “O que começou não pode ter fim!”, e, mesmo que essa alma maligna morra em seguida, se a profecia dela estiver se referindo a essa franquia, Deus tenha piedade de nós. Depois outra alma penada diz: “Isso tem que acabar!”. Acho que ela se referia ao filme, não à franquia. Quando terminou, juro que houve um princípio de vaia. Uma moça atrás de mim falou pro namorado: “Que sem graça!”.
Uma cena que cativou o público (digamos, a única que gerou alguma reação) foi a de uma colegial que vê um fantasma e faz xixi de tanto medo. Não entendi o porquê, mas o público se mijou de rir. Se bem que acho que o xixi tem uma ligação emocional com o primeiro filme. Lá alguém não banha uma idosa com urina? Ou era assim que “Todo Mundo em Pânico 4” parodiava o um? Mas os espectadores perderam a maior atração, logo no início, quando uma mocinha entra num armário de uma casa mal-assombrada. Permita-me repetir: há uma casa mal-assombrada. Há um armário na casa. Há uma débil mental que sente que sua vida só será completa se ela entrar nesse armário. Uma pessoa assim merece morrer. Mas o grande mistério é que ela entra no armário e seus lábios ficam automaticamente vermelhos. Ela não tinha batom antes de entrar, agora tem. É um armário auto-maquiador. Pensando bem, várias mulheres topariam enfrentar fantasminhas que imitam barulhos de arroto e miado pra saírem de lá ultra-maquiadas.
Por falar em vaidade, tem uma cena que deve ser o pesadelo das patricinhas: montes de cabelo caindo durante o banho. A personagem em questão leva alguns minutos pra notar que os fios no ralo são negros e lembrar-se que ela é loira. Mas isso é pouco se comparado a um outro modelo de inteligência superior. Uma líder de torcida vai ver a vizinha. Esta olha feio pra ela, não fala nada, e bebe uma garrafa de leite num só gole. Essa já seria uma boa indicação que a pessoa não anda nada bem, mas em seguida ela vomita todo o leite na mesma garrafa. E a líder de torcida vai embora e depende do irmãozinho pentelho pra lhe informar que a vizinha tá com problemas?! Ela virou líder de torcida porque não a deixaram entrar pro clube de xadrez, né?
É incoerência após incoerência, desta vez com a participação da Jennifer Beals, de “Flashdance”, fazendo um papel mais perdido que monstrinho em armário japonês, e a volta da Sarah Michelle Gellar, de “Buffy”, caindo pelas tabelas. Literalmente. Continua aquela irritante panacéia de filme de terror. Alguém morre num recinto. A próxima vítima decide perguntar “Nate? Nate? Trish? Trish? Pai? Pai?” e entrar no mesmo lugar. Só que nem isso assusta, porque a gente sabe que até uma produção chinfrim precisa ter um pouco de criatividade, então esse infeliz não vai morrer no mesmo local. Se não daria um filme mais monotemático que a campanha do Alckmin: sujeito A entra em quarto de revelar foto. Morre. Sujeito B, procurando sujeito A, entra em quarto de revelar foto. Morre. Sujeito C... E assim por diante. Parece uma daquelas pirâmides milionárias dos anos 80. Só me resta implorar: mulheres cabeludas, menininhos traumatizados, aposentem-se, por favor.