CRÍTICA: ATIVIDADE PARANORMAL / Até a cética aqui se arrepiou
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CRÍTICA: ATIVIDADE PARANORMAL / Até a cética aqui se arrepiou


Muito medo nessas horas.

Vocês já devem ter visto o trailer no cinema de um dos grandes fenômenos de 2009, o terror Atividade Paranormal, que custou a merreca de 15 mil dólares e já rendeu mais de cem milhões só nos EUA, destronando Jogos Mortais Perdi a Conta bem no mês de halloween. E o trailer, que mostra a reação de uma plateia de exibição-teste, me parece totalmente verdadeiro. Na sessão em que estive o pessoal também se comportou assim. Se tivessem colocado uma câmera na minha frente veriam o espetáculo degradante de uma Lolinha pulando da cadeira, gemendo, respirando com dificuldade, e estrangulando o braço do maridão, que se fazia de durão. Eu digo "degradante" porque vocês estão cansados de saber que sou acima de tudo uma cínica. Uma cética. Não acredito em nada dessas coisas ― espíritos, demônios, fantasminhas, anjos, comigo não, violão. Por outro lado, produções de terror bem feitos sempre me pegam. Eu entro no clima mesmo.
Na realidade, o filme foi feito em 2007, com dois atores totalmente desconhecidos (e não lindos no padrão Hollywood!) recrutados através do Craigslist, e por um diretor (Oren Peli) que nunca havia dirigido nada ou feito escola de cinema. As filmagens duraram uma semana. Depois Atividade entrou na rota de festivais específicos, foi oferecido a e recusado por vários exibidores, até cair nas mãos do Spielberg. Só que a ideia do mestre era refilmar o troço com um orçamento maior. Peli insistiu para que o original fosse exibido para uma sessão teste só pra ver como seria a reação. Quando os produtores viram os epectadores deixando a sessão no meio por puro medo, decidiram lançá-lo daquele jeito mesmo. E, através do boca a boca, o filme foi ganhando seu espaço (é muito eficiente o recado no final do trailer, instigando o público a pedir que Atividade passe na sua cidade). Ah, adoro essas histórias de sucesso!
Interessante como o trailer passa uma impressão errada da dinâmica dos personagens. Nele, vemos a pobre Katie insegura, se borrando de medo, enquanto seu namorado, Micah, aparece em controle da situação. O longa-metragem não é assim! A história é a mais simples possível: o jovem casal de namorados mora junto numa casona na Califórnia (ela é estudante de Letras; ele, corretor da bolsa que deve ganhar bem pra chuchu, porque a casa tem piscina e quartos de hóspedes). Katie recebe visitas de espíritos desde que tinha oito anos, tadinha. Micah não a leva muito a sério, mas compra uma câmera pra filmar os acontecimentos. Um dos méritos de Atividade é que pouco acontece ― portas se mexem, luzes se acendem e apagam, e o negócio vai piorando num crescendo (pegadas, coisas embaixo dos lençóis, mordidas). Como clima é a alma de um filme de terror, o negócio funciona. Outro mérito é que, graças a deus, não somos brindados com câmeras de mão histéricas à la Bruxa de Blair e Cloverfield. Aqui a câmera fica num tripé em frente à cama do casal na maior parte do tempo. E outra coisa positiva: não há sustinhos fáceis, daqueles barulhentos que fazem pular mas não acrescentam nada, como no fraquérrimo O Grito. Atividade não tem trilha sonora ou barulhos desnecessários. E seus personagens se comportam como pessoas bastante normais, não como dois bobalhões que ficam pregando sustos um no outro até que um Jason apareça pra por ordem na casa.
Mas não pude evitar de pensar em várias coisinhas não-relacionadas. Primeiro, nessas horas deve ser fantástico morar numa quitinete minúscula como a que alugávamos em Detroit. Quanto menos espaço pra espíritos demoníacos ocuparem, melhor. Segundo, ter bichinhos de estimação numa situação dessas é bom ou mau? (Não estou pensando nos bichinhos: pra eles deve ser péssimo, ponto). Penso nisso desde Os Outros. Tem o lado bom de você sempre poder achar que quem tá fazendo barulho no outro cômodo é o seu gatinho, ou do cãozinho fazer xixi no espírito pra marcar território. O lado mau é aquilo não acabar bem pro bichinho.
O maridão reclamou que o casal não acende as luzes quando algo suspeito ocorre, mas acho que tudo é bem iluminado. Só concordo com minha alma gêmea sobre a improvável dificuldade de encontrar um médium especialista que possa ajudá-los. Como disse o meu amor, “Até na época do Exorcista era fácil achar um exorcista. E olha que não tinha internet, celular...”. Ah, eu odiaria estar numa situação dessas do casal do filme com o maridão. Ele não acreditaria em nada que eu dissesse e discutiria o tempo todo. Ainda bem que um espírito demoníaco resolveria logo o seu destino, ha ha ha (risadinha possuída).
Agora com licença que vou ter sérios pesadelos.

P.S.: Devo admitir que na noite de sexta, após ver o filme (e escrever esta crônica), eu dormi mal pacas. Minto: eu nem dormi. Isso que é pavor. Imagine se eu acreditasse nessas coisas.
P.S.2: Comentei com o maridão, que dormiu como uma pedra, sobre a minha noite insone, e ele não perdeu a oportu
nidade de me criticar: "Eu sonhei que alguém desligou a TV, ligou o ventilador na minha cara, e jogou um lençol em cima de mim. Um espírito maligno!".
P.S.3: Na noite seguinte (a de sábado), dormi com uma gata preta nas minhas pernas e o medo se foi. Acho que gatos, independente da cor, têm o dom de negociar com espíritos. Como disse minha mãe, "Como assim, você não acredita em paranormalidade?! Gatos são paranormais!".




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