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CRÍTICA: O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON / Contagem regressiva pro Oscar?
O amor é lindo, o mundo é lindo, o Brad é lindo, tudo é lindo em BB. Gostei mas não amei O Curioso Caso de Benjamin Button. Quando o filme terminou, quem eu encontro do meu lado, separada por algumas cadeiras (o cinema estava bastante vazio)? Minha editora do jornal, em prantos! Ela, que foi a única alma que não chorou em Marley e Eu, se acabou legal aqui. Eu não preciso nem descrever como eu estava, né? A história de amor sobre um homem que nasce velho e vai rejuvenescendo é episódica, e como tal há alguns episódios que funcionam, outros não. Brad Pitt nasce em 1918, e vive de trás pra frente. Isso pode até ser bom, uma espécie de contagem regressiva. A gente não sabe exatamente quando vai morrer, mas sabe quando vai nascer. No entanto, BB vê seu curioso caso apenas como uma praga, nunca como uma vantagem. Como o personagem é simples, ele nunca se revolta. E talvez seja nisso que ele é mais parecido com Forrest Gump. O roteiro é do mesmo cara, Eric Roth, e a narração em off lembra muito a de Forrest. Sai a pena, entra o beija-flor. Mas ao menos em BB a mulher da trama não é punida com a morte por ser sexualmente promíscua (veja um vídeo fantástico falando mais das semelhanças). E não há reconstrução da História. Meu problema com Forrest Gump não é com a narração em si - é um filme fácil de se assistir. É com o moralismo da trama, com o revisionismo histórico. Só que também não sei até que ponto uma narrativa surreal como a de BB combina com o estilo seco/cínico do David Fincher (Clube da Luta, Seven). É meio estranha essa união entre Fincher e Roth, como o cabeção do Brad num corpinho de criança. Passou pela minha mente como seria o filme nas mãos de alguém que gosta mais de fantasia. Sabe, e se fosse O Curioso Caso de Tim Burton? Pode ser que o Fincher simplesmente não esteja acostumado à bondade de BB. Todo mundo é legal, o mundo é lindo. Não existe maldade no planeta. O maior vilão é o pai, que abandona seu rebento logo depois de prometer à esposa que cuidaria dele. Mas ele se arrepende e sofre. O mundo é tão bom que não existe nem racismo no sul dos EUA. E ninguém discrimina um pigmeu negro ou uma pessoa com uma doença como a do Benjamin. O velhinho até aprende a tocar piano, e? Por que não toca nunca mais? No filme inteiro, ele não usa o que aprende. Eu não consigo imaginar algum outro motivo pra alguém se apaixonar pelo Ben fora a beleza do Brad. Tá, ele é um bom ouvinte, mas nem isso: numa das cenas, a narração revela que ele não está prestando atenção no que a Cate Blanchett diz. Quer dizer, a personagem da Cate também não é fácil. Bastante arrogante, megalomaníaca, antipática às vezes, impaciente.Cate, a atriz, até parece uma moça de 20 e poucos anos. Muito branca de tanta maquiagem e um pouco sem expressão por causa dos efeitos especiais, mas parece. Não há o que dizer: a maquiagem do filme é excelente. Normalmente o pessoal sabe envelhecer ator, mas não atriz. Lembra de Uma Mente Brilhante? O personagem do Russell Crowe vai ficando velhinho, velhinho, com rugas e todo um trabalho corporal, e a Jennifer Connelly, que faz sua mulher, ganha uma peruca branca. Fica parecendo a bisneta dele com uma peruca roubada de Psicose. Aqui não. Desta vez envelhecem a Cate até ela ficar irreconhecível. E eu acho linda a Julia Ormond, que faz a filha. Ela já não teve um caso com o Brad num filme? Então, foi em Lendas da Paixão, em 94. Gostaria que sua personagem fosse mais desenvolvida. Já o trabalho do Brad é mais do maquiador, na minha opinião. Não que ele esteja mal, mas falta alguma coisa. Ele é uma tela em branco em que ninguém projeta nada. O Brad lembra o Robert Redford quando jovem. Mas o Robert tinha um ar inteligente. O problema é o personagem, passivo demais, sem reação. E um pouco covarde também. Por que ele precisa ir embora? Se com 40 anos ele tem uma filha, pode muitíssimo bem cuidar dela durante umas duas décadas. Eu entendo mais a motivação da Cate, que não pretende tomar conta do seu amado quando ele for bebê. Mas toda esposa é um pouco mãe de um marido chorão e mimado. Lógico que o filme é interessante. É sobre fazer escolhas em diferentes pontos da vida, e como cada uma dessas escolhas nos leva a um novo caminho, como se fossem fases de videogame. E gosto do que um pigmeu diz a um Benjamin ainda baixinho: as pessoas altas também ficam sozinhas, mas morrem de medo disso. E gosto também de toda o momento com a Tilda Swinton. Porém, a sequência mais intrigante de todo o filme eles conseguem estragar me chamando de burra. Não, é sério: é uma sequência narrativa ótima, em que o narrador, em off, descreve todos os detalhes que levam a um só desfecho: uma mulher atropelada. O motorista de táxi pára pra tomar um café, a passageira precisa esperar a vendedora embrulhar a encomenda, a mulher aguarda sua colega amar o sapato, e por aí vai. E a gente sabe que, em algum momento, o táxi vai atropelar a mulher, ou por que o narrador estaria contando tudo isso? Ele explica que, se um mero detalhe tivesse sido diferente, isso não teria acontecido. Aí ele corta pra mostrar o que já está mais do que óbvio desde o começo - uma cena do táxi atropelando a mulher! Pô, precisa? Ninguém vai entender? Eu fiquei revoltada, me senti uma estúpida. O narrador deveria ter pulado para “Ela fraturou a perna”. Pronto. Ficava perfeito. A última narração também está meio solta. Sei que é pra comover, e certamente cumpre seu papel, mas digamos que todas as narrações em off até então ou vinham da mulher à beira da morte ou da filha (cuja voz era logo sobreposta pela do Brad). Esta não. Sem falar que o texto contradiz o que foi dito anteriormente, sobre cada um poder ser o que quiser na vida, e sempre poder mudar, nunca ser tarde pra começar, a gente fazer nossas próprias regras e tal (tudo mensagem válida, a meu ver). Só que aí a narração final rotula cada personagem: algumas pessoas são mães, algumas dançam, algumas nadam. Onde fica o lado de poder ser o que quiser? É como se dizessem pra ótima Taraji P. Henson, que faz a mãe: você pode ser o que quiser, desde que seja mãe. Ok, BB é uma fábula, uma história de amor, não uma ficção científica (o que até seria legal, algo nas linhas de O Incrível Homem que Encolheu, sobre um homem que vai encolhendo na vida, ao invés de aumentando. Pra mim a cena final, em que aquele átomo de homem decide sair ao jardim pra se misturar com todas as outras coisas vivas, sem medo, é mais metafísico que Benjamin Button inteiro). Mas BB é longo demais, e algo me diz que a duração é pra fazer o filme mais oscarizável, mais épico. Pensando bem, quase qualquer episódio poderia ter sido deixado de fora da trama sem prejuízo do conteúdo. E o lado místico e espiritual da trama, com milagres, capitães de navio virando beija-flor, essas coisas, não me convence. Se eu pareço intolerante, é porque gostei mais do filme enquanto o via do que agora, que penso nele. Ish, assim como a idade do Ben, meu gosto por BB também tá regredindo.
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