CRÍTICA: PERTO DEMAIS / Nada de mais
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CRÍTICA: PERTO DEMAIS / Nada de mais


Por motivos estranhos, “Perto Demais” ganhou classificação livre, e só depois alguém percebeu o erro e proibiu pra menores de 14. Se alguma criança incauta viu o filme, deve ter achado um tédio. A temática não é nada infantil, sem falar que há uma cena de sexo pela internet que é, como direi, longa demais. Sem dúvida, “Perto” é pra adultos, uma raridade hoje em dia em que a ambição de todo mundo, grandões e baixinhos, é ser adolescente. Mas nem por isso é uma obra-prima. A história só focaliza o início e o fim de cada caso: dois casais meio que se misturam, discutem muito a relação, discorrem sobre sexo e amor, traem e são traídos, e a conclusão elementar, pra mim pelo menos, foi – os homens são uns pamonhas mesmo. Tudo bem, você pode ter outra interpretação, mas o que dizer da cena final (que, aliás, não entendi a que veio)?

No fundo, esse pessoal, interpretado pela Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman (“Guerra nas Estrelas”) e Clive Owen (“Rei Arthur”), é complicado demais. Basicamente só existe esse ménage a quatre, mais ninguém, assim como no primeiro e melhor filme do Mike Nichols, “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”. O mesmo Mike, quase uma lenda em Hollywood por se recusar a fazer blockbusters, dirigiu “Ânsia de Amar” em 71, que tem suas semelhanças com “Perto”. A personagem da Natalie, por exemplo, é bem parecida com a da Ann Margret em “Ânsia”. Mas nenhuma dessas criaturas eu gostaria de ter como amiga. Não me identifiquei com elas. Falta em “Perto”, além de senso de humor, aquele click, aquele momento em que a gente pensa “Ih, já aconteceu comigo”. Sabe, o tema é sobre a dificuldade em se dizer a verdade pra quem se ama. Isso pras negas deles! Eu não tenho dificuldade nenhuma. Não é o caso de fazer minhas as palavras do Clive e declarar pros quatro, “Obrigado pela sinceridade. Agora vá se f**** e morra”. Mas nosso envolvimento com essa gente é zero.

O papel da Julia é o mais ingrato, já que ela mal muda durante a trama. É fácil ver quem a Renata Sorrah interpretou quando houve a montagem da peça do Patrick Marber em SP. Foi o Patrick que adaptou a peça pro filme. A Julia faz uma mulher neurótica e deprê; em suma, uma chata. A única razão pra que dois homens queiram se casar com ela é que ela se parece muito com a Julia Roberts, ué. Se você acha que tô exagerando, é só sentir a desculpa que a Julia dá pra não transar com o Clive: ela acabou de tomar banho. Hã? E o Clive é quem se sai melhor dos quatro, talvez por ser o mais manipulador. Mas o desnível de talento também fica evidente no confronto entre ele e o Jude. Dez a zero pro Clive.Tanto que a cena mais poderosa é entre ele e a Natalie, que faz uma dançarina de strip tease. Gostei do jeito que ela diz “obrigada” a cada dois minutos.

Mas, sei lá, este é o tipo de filme pra quem acha que “Crash” revela um monte sobre relações humanas. É vazio. A gente já viu uma mulher fotografar a rival em outro drama, “A Insustentável Leveza do Ser”, este sim denso. Lá não tinha mais sentimento? Pros críticos americanos, hiper moralistas, o que mais chama a atenção é assistir a princesa de “Star Wars” fazendo strip e ouvir a Julia declamar um texto sobre, ahn, esperma. Lembra da celeuma causada pelas duas linhas mais fortes proferidas pela Cameron Diaz em “Vanilla Sky”? É por aí. Mas pra gente, que é adulta e não se choca assim tão fácil, “Perto Demais” não tem nada de mais.





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