Geral
CRÍTICA: DE OLHOS BEM FECHADOS / Um filme que pisca
Último trabalho de Kubrick é inquietante, mas está longe de ser uma obra-prima É difícil analisar De Olhos Bem Fechados, último filme de um gênio, sem se lembrar a toda hora de seu diretor, Stanley Kubrick. Isso, de não separar autor da obra, é frequente, ainda mais quando o realizador morre logo em seguida. Mas a pergunta que não quer calar, e que deve ser considerada, é: o que acharíamos do filme se ele não fosse de Kubrick?De Olhos Bem Fechados é interessante, sem dúvida alguma, mas inconsistente. É frouxo, e faz que pensemos o tempo todo que Kubrick faleceu antes de realmente terminá-lo. Tem toda a pinta de obra inacabada e imperfeita. Agora, não deixem que digam que é chata, pois não é, em nenhum momento. É um filme estranho, não sujeito a classificações, adulto, inquietante, insatisfatório.Começa bem, com um Tom Cruise meio que marido típico, desses que não olham mais para a mulher. Nicole Kidman, sua esposa, radiante em um vestido de festa, implora tanto por um elogio que afinal o recebe, sem que Tom, no entanto, tenha lhe dirigido o olhar. Não é isso, claro, que nos informa que o casamento não vai bem, e sim o comportamento de Nicole, que flerta com um cavalheiro, que discute com o marido, até revelar-lhe algo surpreendente: de que teria abandonado a família por um caso de uma só noite com alguém que só vira de relance.O atordoado Tom sai por aí, talvez tentando entender a alma feminina. Acaba entrando em uma orgia ultra-secreta e as coisas se complicam. E, assim como fica incompleto, inútil até, resumir o filme, entender seus múltiplos temas é missão impossível. É sobre quê? Sobre sexo? Talvez seja, mas seria um filme de sexo sem sexo. Sobre desejo (que também inexiste), sobre a morte, sobre sonho versus realidade? Você decide.Por falar em sexo, você deve ter ouvido falar das cenas da orgia, dos 65 segundos que foram “censurados” naquele país puritano que é os Estados Unidos. Para que De Olhos Bem Fechados não recebesse uma classificação que proibisse o drama para menores de 17 anos (matando-o financeiramente, no contexto atual de bilheteria), foram sobrepostas imagens de computador cobrindo os atos. Fique sabendo que a versão passada no resto do mundo, inclusive no Brasil, é a integral. Americano se choca à toa, não? Esses 65 segundos frustrantes mostram uma orgia ritualística, paradona, com poucos participantes e muitas máscaras. Os dois segundos de O Iluminado, quando o passado do hotel vem à tona, descobrindo dois homens fantasiados fazendo sexo oral, têm mais suspense e sabor. Algumas cenas em De Olhos Bem Fechados estão desconexas, não parecem ter nada a ver com nada. Por exemplo, por que Tom liga para a filha do paciente que morreu, aquela que havia dado em cima dele? Tampouco fica claro por que ele procura a prostituta. Porém, nada é tão sem nexo como as bobagens que foram e são ditas a respeito. Os jornais continuam contando a história como “casal de médicos...”? Que casal de médicos, cara-pálida? Só o personagem do Tom é médico, o de Nicole é ex-curadora de arte, desempregada. Já li também que ambos seriam psicólogos, sexólogos... Correu o boato que Harvey Keitel foi despedido (e para seu lugar chamado Sydney Pollack) por ter sido pouco profissional e ter tido uma ereção com Nicole - sendo que não há uma única cena em que esses dois personagens tenham qualquer coisa ligada a sexo. E basta Tom ir a um necrotério para a internet inteira gritar, em coro: necrofilia no último do Kubrick! Tsc tsc tsc.Entretanto, há algumas verdades a serem ditas: o roteiro é ruim, os diálogos sofríveis. Todos os personagens repetem as perguntas, na base do “O que você acha?” - “O que eu acho? Vejamos...” Se isso fosse cacoete de um só personagem, faria sentido, especialmente se fosse o do Tom, já que o cara é confuso e abobalhado (sacanagem chamarem-o de Forrest Gump), mas todos têm esse vício. E o pessoal fala devagar.De Olhos Bem Fechados merece ser apreciado e deve ser visto. Mas não é, absolutamente, uma obra-prima. Por mais que gostaríamos que fosse, por tudo que Kubrick representa para o cinema.
-
O Homem Que Quase Foi Kubrick - Ruy Castro
FOLHA DE SP - 05/10 RIO DE JANEIRO - O MIS de São Paulo abrirá no dia 11 uma grande mostra "Stanley Kubrick". Exibirá os 12 filmes oficiais de Kubrick e mais de 500 objetos usados neles ou com que o diretor trabalhou em 48 anos de cinema. Imagine agora...
-
Mulher Como Prateleira
Mulher é exposta como objeto sexual em 99% dos comerciais de cerveja. Neste que a Suzana mandou, da Guinness, isso fica ainda mais explícito. O único imperativo – e propaganda é a arte dos imperativos (compre, beba, faça, experimente) – está...
-
Releitura EngraÇada De Um ClÁssico
A Suzana recomendou este trailer incrível do Iluminado, uma releitura total, apelando pra todos os clichês do gênero – só que de outro gênero, talvez do dramalhãozinho com toques cômicos. Puxa, é uma idéia formidável pegar um filme consagrado...
-
ClÁssicos: O Iluminado / Trivialidades Sobre Um Marco Do Terror
O que torna um filme comum um clássico? Difícil responder, mas uma das evidências é o quanto a obra influencia as outras, as chamadas citações. Portanto, se dois dos suspenses mais bem-sucedidos do ano passado, O Sexto Sentido e A Bruxa de Blair,...
-
Kubrick, O Iluminado
Morto na semana passada, o diretor de 2001 era um dos maiores cineastas da história É difícil falar de Kubrick sem se emocionar, pois trata-se de um gigante. Se falecesse qualquer um desses diretores por dúzia, geralmente de encomenda, não sentiríamos...
Geral