CRÍTICA: FABULOSO DESTINO DE AMELIE / La vie en rose
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CRÍTICA: FABULOSO DESTINO DE AMELIE / La vie en rose


É fácil ser cínica quando se fala em boas ações, como fiz com “Corrente do Bem”. Lembra, né? Era a história de um menininho que decide ajudar três pessoas, cada uma delas ajudaria três pessoas, e o mundo se transformaria num conto de fadas. Meu receio em ver “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” era parecido. Sabia que se tratava da garçonete que auxilia seus amiguinhos a encontrar a felicidade. Mas “Amélie”, graças a Deus, não tem nada a ver com “Corrente”. E não é só por um ser francês, e o outro, hollywoodiano, apesar disso já fazer uma enorme diferença. É que “Amélie” é agradavelmente diferente do que estamos acostumados a ver.

O início do filme narra a infância do personagem-título e é delicioso. Nele descobrimos que o único momento em que o pai de Amélie a tocava era para ouvir seu coração. Com a emoção, seu coração disparava, o que levou seu pai a concluir que ela sofria de problemas cardíacos. Vemos também a tragédia da morte de sua mãe e nuvens em formas de bichinhos. E ouvimos listas das coisas que as pessoas que vão pipocando na tela gostam e não gostam. É esta rápida montagem que dá o tom à comédia que não é bem comédia e ao drama que não é bem drama. Ou seja, é um filme sobre os detalhes do cotidiano. Quer um exemplo do que nossa heroína gosta? De colocar a mão nos sacos de grãos, de observar as pessoas no cinema e de ver nuances que ninguém mais nota, como uma mosca no meio de uma cena de amor. Aparece a mosca circulada, para que possamos notá-la. Ela não gosta de gente que dirige sem olhar para a estrada, tal e qual os motoristas nos filmes americanos. Corta para uma cena ilustrativa. E sabe que estranho? Funciona.

Amélie decifra seu fabuloso destino de ajudar o próximo ao descobrir uma caixinha com objetos de infância. Ela encontra o dono da caixinha, manda o anão de jardim do pai viajar (parece o tourist guy do World Trade Center, mas é anterior), serve de cupido para dois solitários, e se apaixona por um cara que gosta de colecionar fotos 3x4. Mas a seqüência mais comovente do filme ocorre quando ela ajuda um cego a atravessar a rua. Pensei que iria acontecer o básico – que, ao chegar ao outro lado, o velhinho reclamaria que não queria atravessar. Mas “Amélie” surpreende o cego e o espectador e promove um tour, descrevendo tudo que há à sua volta. Nesta hora, eu até chorei. Note o “até”; até parece que nunca choro no cinema. É uma das cenas mais bonitas homenageando a cegueira desde “Marcas do Destino” e “A Prova”. E por falar em “A Prova”, “Amélie” também celebra a fotografia. Sobre a Princesa Diana, constantemente citada, traz um olhar menos benevolente.

Quando li sobre o filme e as gracinhas do roteirista – o porquinho do abajur desanda a conversar com o cachorrinho do quadro; um dos retratados nas 3x4 tagarela com um personagem –, pensei: iiih, isso não vai dar certo. Mas não é que dá? Soa até natural numa película em que a protagonista dialoga direto com o espectador. Assim, o narrador conta que Amélie aprecia adivinhar quantos casais estão tendo orgasmo simultâneos num dado momento. Ela fita a câmera e diz: “Quinze”. E é nessas minúcias que ela nos ganha. A gente se identifica com aqueles tipos. Quem não tem um pouco de voyeur ou de hipocondríaco que atire a primeira pedra. Afinal, muita gente adora fazer ploc naquelas embalagens com bolinhas plásticas. “Amélie” não tem vergonha de ser um filme que nos faz sair mais leve da sessão. A alienação é atraente, e não há nada de errado nisso. De vez em quando.

“Amélie” está recheado de ousadias. O diretor Jean-Pierre Jeunet carrega nas cores pra pintar a Paris que ele quer mostrar, que é a cidade maravilhosa que a protagonista vê. Jeunet fez “Delicatessen”, que eu não gostei, mas que era visualmente estimulante, e “Alien 4: A Ressurreição”, que ninguém gostou, e que não tinha nada de estimulante. Tomara que, depois do sucesso de “Amélie”, ele desista de Hollywood e fique na França mesmo, de onde possa nos oferecer mais pequenos prazeres.





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