Outras dúvidas vieram, estas de caráter mais pessoal. Fui até o maridão e indaguei: se você descobrisse que eu tenho um amante, o que você faria? E ele: eu diria rua! Pegue suas coisas e caia fora! Os cds do Chico ficam! Pois é, não haveria perdão. O Richard também fica muito chateado quando descobre a traição da Diane. Tanto que vai ao ap do carinha conversar com ele, numa seqüência altamente suspeita. Imagino que o maridão iria igualmente tirar satisfações com meu virtual amante. Sobre o que eles falariam? Futebol, talvez. Mas o amante é francês, e discutir futebol em plena desclassificação da França na Copa não produziria um bate-papo ameno.
Um motivo pra Diane conseguir um amante, mesmo tendo o Richard à disposição, é a questão da variedade. Aquele negócio: picanha é ótima, mas quem quer comer apenas picanha pro resto da vida? Seguindo a tradição do diretor Adrian Lyne, o galã francês leva a Diane pra transar no banheiro de um bar, no corredor do prédio, e num cinema, o que me levou a perguntar pro maridão em que lugar público ele deseja fazer amor comigo. Sua resposta foi "No Havaí". Não ligo pra ele, mas as taras do Adrian merecem atenção. Ele dirigiu "9 1/2 Semanas de Amor" que, se não me engano, ficou dois anos em cartaz em SP. Dois anos! Inúmeras moçoilas foram ver aquela lambança... e hoje ninguém sabe quem foi Mickey Rourke. Fora isso, o Adrian fez "Atração Fatal" e "Proposta Indecente". Como ex-publicitário, ele conhece o metiê. Coloca casais chegando às vias de fato em elevadores e metrôs e, na categoria "utensílios domésticos", na porta da geladeira, na pia, em cima do fogão e em outros locais confortáveis que mantêm acesa a chama da paixão. Claro que o ápice de sua sutileza veio quando dois pombinhos se amaram em cima de uma cama coberta de dólares. Mas, pô, dentro de um cinema é sacanagem! Note a engrenagem: "Infidelidade" é baseado num filme francês, do Chabrol. A Diane e o galã vão a um Festival do Cinema Francês. E a sala está vazia! Nem uma alma! Não percebi o filme que passava enquanto a Diane tava tendo um orgasmo. Era "Zero de Conduta"? A mensagem do diretor é clara – os franceses fizeram um filme que ninguém viu, agora vamos refilmá-lo com o Richard e faturar.
Serei justa e confessarei que "Infelicidade" é bem menos pior do que eu podia supor. Claro que tem seus lapsos. A Diane tá lavando louça e de repente bate na porta do galã com uns docinhos. Imagino que eles perderam alguns fotogramas na sala de montagem, pois aquilo pareceu um sonho e, nisso, evaporou-se todo o encanto da sedução. E não achei o latin lover grande coisa, não, se bem que estou aberta a qualquer homem que esbarre comigo na rua. Ah! Tem uma cena absolutamente nojenta da Diane tirando um chiclete da boca do filho e colocando-o em sua boca. O que foi aquilo, transplante de chiclete? Filme de terror? Argh. O amor é lindo, mas cada um com sua escova de dente, por favor.