CRÍTICA: KATE E LEOPOLD / Minha ponte por um Leopoldo
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CRÍTICA: KATE E LEOPOLD / Minha ponte por um Leopoldo


Que homem é uma mercadoria em falta, não há dúvida. Agora, se nós mulheres precisamos nos transportar pra outro século pra encontrar um, então a crise tá braba mesmo. É mais ou menos disso que trata "Kate e Leopold", uma comédia romântica que cabe fácil na categoria "que meigo!". Ahn, eu gostei do filme. Só vou falar contra porque é meu costume, mas este típico date-movie (programa pra namorados) deixa-se assistir sem grandes convulsões.

É bem verdade que "Cate o Leopoldo" começa mal, com um trocadilho sem graça com os significados da palavra ereção. Mas eu compreendi, porque na mesma seqüência surge o Hugh Jackman, aquele pedaço de mau caminho que fez o Wolverine em "X-Men", e ereção seria um chute decente pra definir o que a platéia feminina sente ao ver o Hugh, se a platéia feminina tivesse um, bom, você entendeu. Estamos em 1870, e o Hugh interpreta um duque falido prestes a dar o golpe do baú, quando ele persegue o Liev Schreiber (o espião mais eficiente de "A Soma de Todos os Medos"), os dois caem de uma ponte e vão parar na Nova York de hoje. O Liev inventa o túnel do tempo, mas o mais importante é que ele é vizinho da Meg Ryan. E, num filme com a Meg, o mais importante é o penteado que ela tá usando. Desta vez, ela desfila com o cabelo loiro alisado, estilo égua-lambeu, que lhe cobre os olhos. Deve ser o penteado mais medonho dos últimos dois séculos, mas o Hugh se apaixona por ela. E vice-versa. Aliás, eles caem um pelo outro rapidinho, o que é compreensível, já que eu também fiquei perdidamente enamorada pelo Hugh desde que seu nome surge nos créditos. Só não gostei que o Liev tenha que sofrer (tipo quebrar perna, ser internado num hospício etc) pro amor dos dois pombinhos prosperar.

O início de "Cate" é mezzo "Splash, Uma Sereia em Minha Vida", mezzo "Crocodilo Dundee", mostrando o sereio australiano Hugh se debatendo com a parafernália da vida moderna. Mas as coisas não são tão difíceis assim pra ele pois, voltando ao século XIX, ele inventará o elevador. Levante a mão quantos de nós sobreviveriam sem a criação do elevador. Eu sou uma que consigo fantasiar outras utilidades mais práticas pro Hugh do que ficar inventando elevador. Mas, pensando bem, o que seria da obra do Adrian Lyne se seus casais não pudessem transar dentro de elevador?

A Meg faz uma loira que ambiciona tornar-se a vice-presidente de uma firma de pesquisa. Ela está procurando alguém pra atuar num comercial de margarina, e o Hugh cai como uma luva. Porém, na hora de provar a margarina, ele fica uma arara porque o produto é horrível, e ele não aceita propaganda enganosa. Imagino que fazer campanha política pro Maluf esteja fora de cogitação, né? É bizarro que um personagem que tava pra se casar por dinheiro queira dar lição de moral, mas o Hugh é pintado como o homem ideal. Sabe por que? Porque ele põe a Meg na cama, lava a louça e prepara café pra ela. Meu maridão também faz isso e ninguém o considera ideal. Só eu, amor! Só eu!

A mensagem do filme é que a mulher deve abdicar da carreira pra permanecer ao lado do homem que ama. No final, a Meg sofre a maior pressão pra pular da ponte e se transportar pra 1870. Eu só tava esperando ela pular pro pessoal cair na risada e anunciar o trote: "ela acreditou?!". Seria inverossímil a Meg largar tudo pra ir morar com um sujeito sem um vintém em outro século? Claro que não, se o sujeito for o Hugh. Eu também me mudaria pro século XIX pra casar com o Hugh. Quer dizer, depende – tinha luz elétrica naquela época? Ah, sem problema, eu pularia de pontes pra perpetuar-me no colo do Hugh. Inclusive, acho essas produções perigosas. De repente inicia-se uma onda de pulos de ponte em massa de moçoilas à procura do homem ideal.

"Cate o Leopold" lida com temas edificantes, como sugerir que o ritmo de vida noutros tempos era melhor. E foi super legal usarem uma tradutora das antigas pro filme. Nas legendas, ela trocou "gay" por "alegre". Vai ver que em 1870 gay ainda tinha esse significado *.


* Na realidade, gay ainda podia ser traduzido por alegre até 1970. Há vários filmes do século passado com gay no título, como "The Gay Divorcee", com a dupla Fred & Ginger, traduzido para "Alegre Divorciada". Sim, Fred Astaire era hetero convicto.





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