Chegou “Matrix Revolutions”, vulgarmente chamado de “Matrix 3”, que segue a regra de 95% das seqüências. Assim: o filme original é ótimo, o segundo é meia boca, e o terceiro é uma anomalia, feito com o único propósito de gerar lucros. Bom, se “Matrix 3” fosse uma aventura independente, e não a parte final (espero) de uma trilogia, ele não seria tão ruim. Mas como desfecho do que hoje já é tido como um clássico da ficção científica, ele é decepcionante. Triste. Fajuto. Você adorou a filosofia de botequim do primeiro? Eu também. Aqui não tem nada disso. A frase mais cabeça desta terceira investida é “todo começo tem um fim”, que é bem clichê. E aqueles efeitos especiais revolucionários do primeiro? Aqui eles estão meio velhinhos. Ahá! No mínimo, o filme irá responder questões deixadas em aberto por “Matrix Reloaded”, certo?. Pode esquecer. Quando um personagem, mais pro fim, lança um “Isso não faz sentido!”, minha vontade foi me levantar da cadeira e gritar “Apoiado!”.
Desta vez é encenada a batalha de Zion. Ela é longa, militarista, de dar tédio mesmo. Deveria ser uma luta de pessoas contra máquinas, mas os humanos usam enormes geringonças. Na hora, eu pensei em “Robocop”; o maridão em “Tropas Estelares”. Mais tarde ele revelou que tava torcendo pelas máquinas. Esta guerra interminável ocupa boa parte do filme, e o padrão é simples: montes de efeitos gerados por computador, e de repente insertam um close de algum ator desconhecido pra nos lembrar que isto não é um desenho animado. Pô, se eu quisesse ver rabiscos de última geração, brincaria com joguinho de videogame. Já a revolta do maridão foi mais singela: se é só uma nave chegar e fazer GOLOB pra destruir todas as sentinelas que mais parecem polvos mecânicos, por que não fazem isso antes? Não respondam, pelo amor de Deus!
Outro erro dos irmãos Wachowski foi confiar demais na nossa memória. Sem chance de eu me lembrar da trama de “Matrix 2”, que vi em maio. Ou isso prova que estou ficando caduca, ou que o “Reloaded” não deixou exatamente uma impressão indelével. Os quilos de personagens olvidáveis do segundo episódio voltam aqui com força total, a ponto de eu jurar que vi o Dr. Spock. O quê, você quer Neo, Morpheus e Trinity, os heróis do original? Aqui eles são quase coadjuvantes. Até o agente Smith tem tempo limitado. Se bem que, quando surge, ele mais parece uma caricatura, com direito à risada diabólica e tudo. Após uma luta de meia hora entre Neo e o agente, luta esta vencida por Neo (acho que não estou contando um grande segredo), tinha certeza que Neo diria: “Ufa! Agora só faltam mais 245.000 agentes Smith. Próximo!”.
Gostei da estação de trem fantasma no começo, pois ecoou “A Viagem de Chihiro”, um anime assumido. Mas não entendi uma penca de coisas. Por exemplo, por que termina a guerra entre máquinas e humanos, se o conflito inicial não se resolve? As máquinas não vão mais se alimentar da nossa energia? Aliás, na cena totalmente anticlimática em que é anunciado o fim da guerra, pensei que as pessoas de Zion iam se virar umas pras outras e perguntar, tais como os americanos: “Ish, e agora, o que vamos fazer da vida?”. Ah, e se a gente reclamou da aparição do Rodrigo Santoro em “As Panteras Detonando”, o que dizer da Monica Bellucci neste filme? Ela tem uma só fala, mas dois rapagões atrás de mim não prestaram atenção. Tudo que eles diziam no único minuto da Monica era “Que peitões!”. Foi pra isso que a Monica saiu da Itália, tadinha?
Agora que a trilogia chega ao fim, vamos ser sinceros: o primeiro “Matrix” pegou todo mundo de sopetão ao virar cult da noite pro dia. Os dois outros “Matrix”, safra 2003, servem pra abastecer os fãs de carteirinha do original, desses que colecionam óculos escuros, participam de sites interativos, e sabem até o nome da mãe do Neo. Como não me incluo na seita, o melhor a fazer é rever com carinho o primeiro e fingir que a trilogia acabou ali em 1999. Afinal, o “Matrix” original já valia por uns três filmaços, né?