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CRÍTICA: O ILUSIONISTA / Borboletas carregando lenço e outros truques fajutos
Pra não fugir do costume, este ano o Oscar também deve passar longe de Joinville, e quem quiser ver os principais indicados terá de ir até Curitiba. Triste. Com uns dois meses de atraso, esta semana estreou “O Ilusionista”, que até concorre a uma estatueta de melhor fotografia, e é só. É uma das duas produções feitas no ano passado sobre mágicos do século 19. A outra é bárbara, “O Grande Truque”. Já “Ilusionista” é um tédio: fraquinho, lento, duro e rígido, no mau sentido. Tem menos a ver com magia e mais a ver com uma história de amor bem das antigas. A propósito, existe coisa mais brega que duas borboletinhas carregando um lenço? Aqui o Edward Norton, que faz o mágico, não apenas não é fuzilado por essa amostra de mau gosto, como ainda é aplaudido de pé. Foi só o Edward aparecer na tela que a menina atrás de mim comentou com seus amiguinhos, “Não gosto deste ator”. “Este ator” deve ser dos melhores de sua geração, mas não dá pra presumir isso vendo “Ilusionista”. Logo depois a menina cismou com os dentes da atriz mirim. Não a ouvi desdenhar do tamanhão do bumbum da Jessica Biel (do temeroso “Ameaça Invisível - Stealth”), mas eu podia estar dormindo na ocasião. O Edward tem que representar um homem apaixonado pela Jessica, só que é impossível depurar paixão na sua atuação. O único homem apaixonado na trama é o inspetor de polícia feito pelo Paul Giamatti (“Sideways”). Apaixonado pelo Edward. Nem dá pra reclamar, porque há mais química entre eles que entre o casal hetero. E o amor é lindo e tal, e por ele a gente suporta muitos sacrifícios. Por exemplo, se meu amado quisesse me hipnotizar e em seguida decapitar a minha imagem no espelho, tá limpo. Mas ai dele se colocasse um sapo vivo (ou morto) na minha mão.
Olha, não é que não gostei de nada do filme. É óbvio que Viena tá bem reconstruída (surpresa se não estivesse), com várias carruagens e cartolas. Mas o cenário que me impressionou foi um corredor do príncipe bigodudo, cheio de troféus de caça. Isso foi pra matar de inveja o Norman Bates embalsamador de pássaros em “Psicose”. Muitos críticos até gostaram de “O Ilusionista”, captaram sua alma, adoraram o estilo e o ritmo. Na realidade, eles se dividem entre os que acham que o elenco tá fabuloso e até a Jessica não passa vergonha, e os que sacaram tudo desde o comecinho e acham que nem o Edward se salva. Pertenço ao segundo grupo. Não me envolvi com o dilema da trama, que é: o carinha é um super mágico ou alguém com poderes ocultos? Pra mim não houve mistério. Achei que ele era sobrenatural mesmo. Ah, eu não creio nessas coisas? Pra você ver como eu não tava nem ligando. E a comparação com “O Grande Truque” se faz inevitável. Nele, eu queria ser enganada. Aqui, ao ver uma semente virar árvore com frutos na minha frente, eu acreditei. Que trazer fantasminhas pra falar com a platéia, que nada! Pra mim o truque supremo foi o da árvore, porque as sementinhas aqui de casa levam anos pra vingar, quando vingam. O maridão até hoje chama uma das árvores de “laranjeira bonsai”. Espero que ela cresça logo pra jogar laranjas em cima da sua cabeça, mas estou me desviando do assunto, eu sei.
E agora um minutinho da sua atenção. Uó, uó, uó (barulho de ambulância). Baticum baticum (tambores?). Não leia este último parágrafo a menos que você tenha visto o filme, porque preciso revelar alguns truquinhos. Guarde pra ler depois. Sei que os olhos não resistem e a gente vai direto ao que é proibido, mas imploro. Não leia! Última chamada: vou estragar sua surpresa se você ler. Bom, acho que você foi avisado. Seguinte: Eu não acreditei nem um minuto que a Jessica tinha morrido. Por quê? Porque é uma historinha de amor, e Hollywood só aceita que a morte os separe se for Romeu e Julieta. E também porque o casal não pode ser tão burro a ponto de se beijar em público pra todo mundo ver e narrar seus planos na estação de trem pra todo mundo ouvir. Já o maridão acreditou piamente. Eu gritei: “Amor, é tão previsível!”, mas ele insistiu, dizendo: “Ela morreu pra mim”. Eu só pude retrucar, sem ânimo: “Pois é, que bom que o filme não subestima seus espectadores”.
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