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CRÍTICA: O SEQUESTRO DO METRÔ / Vontade de atirar em reféns
- Cadê o Denzel? Eu só falo com o Denzel! Eu nem desconfiava que O Sequestro do Metrô é um remake de um policial de 1974. Mas isso não salva o filme. O que acontece é o seguinte: John Travolta é o malvadão (com um vasto currículo em interpretar vilões exagerados, vide A Senha e Face/Off) que quer dez milhões de dólares em troca do vagão de metrô que sequestrou; Denzel Washington é um funcionário da casa que vai negociar com ele. E como a direção é do Tony Scott, irmão menos esperto do Ridley, é garantido que vai haver várias explosões e perseguições de carro (mas não é num metrô?, você pergunta. Pra você ver, respondo eu). Ridley já assinou alguns clássicos, como Blade Runner e Thelma & Louise. Mas Tony certamente deve ter mais dinheiro, porque são dele Ases Indomáveis, Um Tira da Pesada 2, e Deja Vu. Ele é o alpha male director por definição, aquele que jorra testoterona. Há pouquíssimos personagens femininos relevantes em toda sua obra (a exceção é Fome de Viver). No entanto, há muita ação, barulho, e piadinhas másculas. Em Sequestro do Metrô, quando alguém pergunta sobre o personagem do Travolta, “Quem viajaria pra Islândia num fim de semana com uma modelo de bunda?”, e o outro responde, na lata, “Um corretor de Wall Street!”, juro que meu primeiro chute seria “um diretor de cinema do tipo Tony”. Não é coincidência que o único personagem feminino de Sequestro seja uma pentelha, que só tá lá pra atestar que o protagonista é espada (apesar de passar a vida falando e correndo atrás de homens). No trailer é pior: fazem a mulher do Denzel (que tem menos de duas cenas de dois minutos cada) parecer uma super megera egoísta. Tipo, o Denzel tá lá, negociando a vida de reféns, fazendo o seu trabalho, colocando sua vida em risco, e a muié diz que não quer nem saber: ele que traga um galão de leite pra casa quando voltar à noite. No filme essa fala é estendida um pouco, então dá pra entender que isso é código pra “ó, não se esqueça de voltar vivo pra casa mais tarde”. Quer dizer, eu entendi. Já o maridão... Perguntei pra ele: “Por que ela pede que ele volte com um galão de leite?”. E ele: “Porque eles têm dois filhos e devem beber muito leite”. Expliquei pro meu geninho que o leite não é literal, e que a minha pergunta é a mesma que o Denzel faz pra ela: “Por que um galão? Por que não meio galão?”. Mas o maridão não se deu por vencido: “Deve ser porque eles não bebem muito leite. Aí o leite estraga e tem que ser jogado fora, e eles não gostam de desperdício”. Desisti.O filme é fraquinho que só ele. Não começa mal, mas vai indo a lugar nenhum. Os personagens são rasos, sem motivação, o que impede os astros de brilharem (o Denzel, que pra mim sempre foi um dos astros mais lindos do mundo, ainda por cima tá feio, com barbicha e pouco cabelo. Igual ao Travolta). E, pensando bem, não acontece grande coisa. É uma trama bem falada, e bastante parada também. Portanto, o que precisamos para que uma história nesse estilo seja boa? Personagens interessantes, ótimos diálogos, e interpretações marcantes. Em Sequestro não temos nada disso. Um sinal claro do desperdício do elenco é como ótimos character actors como o John Turturro (Transformers 2) e o Luis Guzman (Sim Senhor) não tem nada pra fazer. O Turturro não decola em momento algum (embora ele ande de helicóptero; tá, essa foi fraca, eu sei). E o Guzman, devem ter cortado um monte de cenas dele. Porque ele é o quarto nome na lista e mais parece um figurante. Outro sinal é que, pô, há 17 reféns presos no metrô. Não dá pra falar um pouquinho deles? Nadinha mesmo? A gente fica sabendo algo que pode ser resumido em meia frase sobre dois carinhas, mais ninguém. Lógico que temos certeza que o único garotinho no vagão não vai sofrer nem um arranhão. Se permitissem um cãozinho no metrô, esse estaria são e salvo também. Mas por que não aproveitar o momento? O sequestro está sendo transmitido ao vivo pela internet, porque o laptop de alguém tá gravando o negócio. Deve haver milhões de pessoas assistindo, montes de comentários. Não dava pra desenvolver essa subtrama? Não, porque o filme só tem olhos pros dois astros. Agora imagina o seguinte: você sequestra um vagão de metrô de Nova York (cidade que, entre o Bin Laden e Hollywood, tem enorme experiência com terroristas querendo destrui-la). Há grandes chances de você acabar morto. Você decide fazer toda a negociação através de um funcionário do metrô. E aí você descobre, pelo Google, uma ou outra coisinha sobre esse funcionário. Responda francamente: você pararia tudo que está fazendo pra interrogá-lo sobre sua vida pregressa? Tipo, quem dá a mínima? Lembre-se: ele é só um funcionário do metrô que atendeu o telefone. Você está sequestrando um metrô. Concentre-se. Mantenha o foco.E, já que estou reclamando, por que precisa de um monte de legenda dizendo que horas são, quantos minutos faltam e tal, se a gente vê closes de personagens checando seus relógios? Até o prefeito, que é uma anta feita pelo James Gandolfini (Sopranos), pergunta por que diabos o dinheiro está sendo levado de um lado de outro pelo trânsito infernal de Nova York, e não por um helicóptero. Ahn, é porque a gente precisa ver cinco perseguições de carro e uns trinta acidentes. Aliás, tô pra ver polícia mais incompetente do que essa. E lógico que o clichê do herói individual prevalece―toda a força policial da cidade pode estar à procura do meliante, mas quem vai encontrá-lo e resolver a situação é o protagonista. Aí é muito engraçado o Turturro dizer, do alto de um helicóptero, que a vista aérea é maravilhosa, porque assim “a gente entende melhor pelo que está lutando”. Por uma população de imbecis, um prefeito anta, e uma polícia inepta? Quando tudo que a gente precisa é do Denzel? No final, umas trezentas pessoas falam pro herói quão heroico ele é. Sério, praticamente se forma uma fila pra congratular o protagonista. Mais uma pessoa que falasse “Ô cara, tu é bom”, e eu já ia sequestrar o cinema. E não ia nem querer negociar com o gerente. Já ia começar atirando nos reféns direto.
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