CRÍTICA: SOB O DOMÍNIO DO MAL / Sob o domínio do país em guerra permanente
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CRÍTICA: SOB O DOMÍNIO DO MAL / Sob o domínio do país em guerra permanente


Fui ver “Sob o Domínio do Mal” e me sentei entre o maridão e a minha mãe. E o que aconteceu foi uma sinfonia de roncos em dolby-stereo-surround-sound. Eu não dormi, que o thriller até que é bastante bom, mas eles... Se você foi ao cinema nos últimos meses, deve ter visto o trailer umas 55 vezes, em média. Eu não agüentava mais encarar aquele trailer, ainda mais que eles contam tudinho. E fica pior se você conhece o original. “Mal” é uma refilmagem de um clássico de 1962 com o mesmo título (“The Manchurian Candidate”, em inglês – tudo a ver com a tradução), a obra-prima do Frankenheimer com o Frank Sinatra no papel principal. Esta deve ser a melhor paródia política que Hollywood já fez. E claro que, comparado ao clássico, esta refilmagem sofre.

O Jonathan Demme, do grande “Silêncio dos Inocentes”, foi ousado em querer refilmar uma obra assim tão importante. Ele trocou o Frank pelo Denzel Washington e, lógico, atualizou a trama. Agora ela não começa na Guerra da Coréia, mas na primeira Guerra do Golfo. O legal é que dá pra refazer o filme daqui a quarenta anos que os Estados Unidos já vão ter uma nova e vasta gama de guerras pro diretor escolher. Existe país mais bélico? E depois eles querem que a gente fique com medo que o Irã tenha bomba atômica, quando a única nação a usar arma nuclear foram eles, ué. E agora, com a reeleição bushenta, os americanos tão mais fundamentalistas do que nunca. Anyway, o filme. O Denzel, um major, desconfia que seu colega herói de guerra e atual candidato a vice-presidente não age por conta própria. Quando o Denzel descobre um chip implantado nele próprio, ih, pronto, suas suspeitas de lavagem cerebral se confirmam. A história envolve toda sorte de politicagem e teorias da conspiração. A Meryl Streep brilha como mãe maquiavélica do vice.

O problema é que o original tá cheio de humor, e este aqui é de uma seriedade a toda prova. No de 62, em plena guerra fria, bem quando mataram o Kennedy, a lavagem cerebral é feita num grupo de homens que pensa estar numa convenção de floricultura. O que ativa o controle do nosso anti-herói é uma carta de baralho, a dama de ouros. O clímax ocorre numa festa à fantasia, quando alguém aparece vestida de carta de baralho. Contando assim é ridículo, e o filme tem um incrível senso do ridículo, mas não liga pra isso. Ele não se leva a sério. E a mãe do carinha trata seu marido (um senador) como se ele fosse um bebê, dizendo pra ele coisas como “Agora vá embora que os adultos precisam conversar”. Isso em pré-revolução sexual! Esta refilmagem não tem nada disso. Sai o absurdo delicioso, entra uma trama política solene e meio confusa. Há várias cenas que parecem estar sobrando. Por exemplo, todo o discurso do Denzel sobre uma medalha de honra, serve pra quê? As cenas imitando noticiário da CNN são monótonas, e há flashbacks demais da batalha. Se a gente sabe que essa batalha não existiu, por que ficar repetindo as seqüências? Mas o pior é o final, que deturpa o original e vai contra o “domínio do mal” que tava sendo exercido até então. A mensagem do fim é que o bem triunfa, e que dentro de todo americano, mesmo aquele cerebralmente lavado, há um herói patriota querendo sair. Ainda assim, “Mal” é legal, vale ser visto. É só não esperar que ele se iguale ao original. E ir bem descansado pra não dormir no cinema, que coisa feia.





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