CRÍTICA: O COLECIONADOR DE OSSOS / Não colecione bugigangas
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CRÍTICA: O COLECIONADOR DE OSSOS / Não colecione bugigangas


Inspiração clara em filmes consagrados não salva O Colecionador de Ossos do fiasco

A vantagem do trailer de O Colecionador de Ossos sobre o filme em questão é que, no trailer, você vê dois minutos, acha ruim e esquece, enquanto você precisa de quase duas horas do longa-metragem para não se lembrar do que viu. O trailer não mente, só resume o filme. Até antecipa cenas que deveriam ser surpreendentes. Então, se no trailer você já se pergunta, "o que esta moça tão magra e chique está fazendo vestida de policial?", as chances são de que você ficará com essa dúvida cruel também durante o filme.
Ai, ai, a história. O belo Denzel Washington é um detetive que sofreu um acidente e está irreversivelmente paralítico, como se algo fosse irreversível em Hollywood. Um serial killer seqüestra suas vítimas
usando um táxi e depois as liquida de forma original e nojenta, deixando pistas para a polícia. Há também uma jovem policial que revela um talento nato para a perícia e ajuda o Denzel a desvendar os crimes.
Então, desde o começo, você já sabe o que vai presenciar. O detetive olha para uma prova recolhida no local e consegue detalhar, a olho nu, do que o material é composto, de onde veio, porque o matador o usou, e a data e lugar onde atacará novamente. Nem Badan Palhares faria melhor. E tem aquele trivial d'a força policial em massa procurar as vítimas, com helicóptero e tudo, e a jovem guarda encontrá-las fácil fácil.
Angelina Jolie é filha de Jon Voight e acabou de ganhar o Globo de Ouro de coadjuvante por Garota, Interrompida. Em O Colecion
ador de Ossos, ela segue a tradição de Meg Ryan como neurocirurgiã e não convence nem um pouquinho como policial. Tanto não convence que incluíram um diálogo totalmente fora do contexto explicando que sua personagem havia sido modelo. Angelina tem cara de bebê chorão. Seus lábios, que alguns podem chamar de "carnudos", outros de "inchados", dependendo do gosto, estão sempre ligeiramente entreabertos; seus olhos, lacrimejantes. E ela é tão raquítica que a gente começa a desconfiar que os ossos do título sejam dela, e talvez Denzel seja o colecionador. Angelina não faria feio nos Morumbi Fashions da vida. Depois de desfilar, claro, ela deveria comer alguma coisinha.
Denzel Washington é lindo e maravilhoso e quiçá o favorito ao Oscar por Hurricane - Furacão. Mas aqui ele não tem muito o que faze
r. Ficar deitado na cama levantando a sobrancelha não constará entre os pontos altos de sua biografia. Até pinta um clima entre ele e Angelina, mas como um é negro e a outra é branca, eles não passam dos olhares. O espectador americano não tem com que se preocupar, pois o cinemão não vai chocar o respeitável público com miscigenações, argh. Sexo interracial, nem pensar.
De impressionante mesmo em O Colecionador de Ossos, só um episódio em que o assassino c
orta sua vítima, ainda viva, e a abandona aos ratos. Não se vê grande coisa, mas o close do ratão pulando é bastante assustador. No resto, o filme é banal. Alguns diálogos chamam a atenção, talvez involuntariamente. Um exemplo é o de um investigador que liga para o Denzel e diz: "Não sei se tem ligação com o caso, mas um taxista baleou um policial e saiu em alta velocidade com dois passageiros que desapareceram. Pode ser só coincidência". Dãããã. Precisa ser detetive para deduzir isso?
E o final é tão, mas tão terrível, que devem ter filmado uns dois ou três e depois deixado para as platéias das exibições-teste decidirem. Ou pior: eles já rodaram desse jeito convencional e feliz, que é para não desiludir ninguém. Afinal, eles sabem do que o povo gosta.
Para quem acha que O Colecionador de Ossos pega carona em Seven, sinto decepcioná-los. A inspiração clara é o magnífico Silêncio dos Inocentes e há um quê de Janela Indiscreta, mas é pecado profanar o santo nome de Hitchcock em vão. Olha, vamos ficar assim. Esqueça os ossos da Angelina e assista ao Colecionador puro e simples, de William Wyler, de 1965. Este, sim, um suspense psicológico de arrepiar.

Leia aqui a resposta da Mica criticando a minha crítica, publicada no jornal em março de 2000 (mais ou menos no meio da página).





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