CRÍTICA: OS NORMAIS / Apagão de ideias
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CRÍTICA: OS NORMAIS / Apagão de ideias


Lá estava eu muito entediada vendo “Os Normais – O Filme”, quando a luz do shopping caiu e a sessão acabou. Isso na mesma semana que Floripa ficou às escuras durante uns dois dias. Em homenagem, o maridão imediatamente perguntou: “Joinville tem ponte? A Síndrome do Apagão se alastrou por toda Santa Catarina?”. A energia não voltou, vimos só a primeira hora da hora e meia da comédia, e confesso que não ficamos com a mínima vontade de ver o resto. Tudo bem, é possível que tenham deixado a melhor parte pro final, e que perdemos os trinta minutos mais divertidos da história do cinema. Assim como é possível que eu perca vinte quilos graças a minha dieta à base de chocolate.

É verdade que eu nunca fui fã da série de TV, mas o maridão até que era. Acho que eu não gostava porque, dos poucos episódios que assisti, nunca vi nada que não fosse clichê. E esse humor burguês cansa depois de um tempo. Tá, sei que eu e praticamente todos os espectadores de cinema somos classe média, mas, falando sério: piadinha sobre tamanho de pênis ainda tem graça? No filme, além dessa gracinha, ainda há umas quatro tentativas de fazer rir com a largura dos absorventes internos. Desconfio que isso só produza cócegas naqueles que consideram esses assuntos tabus. É o risinho nervoso da platéia que diz: “Olha só, o Rui falou ‘pau’! Uau, a Vani falou um palavrão pro padre!”. Essas reações me lembram algumas peças de teatro em que o autor enche o texto de palavrões pra parecer transgressor e matar parte do público de rir. Em “Os Boçais – O Filme”, os atores pronunciam bem os palavrões pra mostrar como a versão cinematográfica é diferente da televisiva. Os atores enchem a boca pra enfatizar as palavras proibidas. Como eles são ousados!

Eu até achei graça de alguns chistes mais visuais, que é a especialidade do diretor José Alvarenga Jr., que já fez comédias com os Trapalhões. Por exemplo, a primeira piadinha sobre jogar arroz nos recém-casados foi fofinha, mas a terceira reprise da mesma piada me deu sono. A Vani (Fernanda Torres) batendo num segurança é legal. No entanto, há flagrantes explícitos da mão pesada do roteiro. Na disputa pelo buquê da noiva, pode ser divertido, pra quem nunca viu isso antes, que uma moça derrube outra. Pode até ser divertido mostrar a moça no chão, desmaiada. Mas mostrar uma poça de sangue saindo da cabeça da moça já meio que mata a piada, né? Tampouco é engraçado exibir o Rui (Luís Fernando Guimarães) dançando logo depois. Os figurantes olham pra ele com pena, e a platéia também. Cá entre nós, se eu já não gostava dos personagens antes, não vou gostar agora que descobri que a Vani não apenas votou no Collor, como fez campanha pra ele. Nessa a roteirista Fernanda Young e o marido pegaram pesado mesmo. Aliás, é hilário presenciar Rui e Vani furarem todas as filas? Até quando a gente lê que a escritora e queridinha da mídia Fernanda tem orgulho de seguir o padrão na vida real?

Claro, eu posso estar enganada. As duas senhoras do meu lado riram bastante. Mais do que isso – elas telegrafavam as piadas. Assim: a Vani declara que vai dar pro primeiro que aparecer. Corta pro Rui num carro, indo naquela direção. A senhora do meu lado fala pra outra: “Ah, ele vai ser o primeiro a aparecer!”. Ela deve ser vidente. E, pelo jeito, ela não é a única apreciadora de gracinhas previsíveis. O filme já fez quase um milhão de espectadores só na primeira semana. Quem sabe? Talvez eu e o maridão fomos os únicos anormais a não reclamar do blecaute.





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