Não sei se é por andar vendo muito blockbuster americano, o que pode ter afetado meus neurônios, mas confesso: não tenho mais paciência pro tipo de filme independente, pretensioso, “artístico”, que é Savage Grace. Estranho que o drama só chegou a Detroit agora em julho, porque ele foi apresentado em Cannes no ano passado, e estreou no Brasil no final de abril, com o título Pecados Inocentes (agora deve estar estourando em dvd aí). Pode ser por causa do moralismo americano que tenha demorado tanto pra ser lançado aqui. Ele não foi bem recebido pela crítica dos EUA. Pra mim, o Metacritic deu uma média alta demais: 52. E não é que Grace (vou chamar pelo título original, já que a tradução é genérica demais, e lembra o muito bom Little Children, traduzido pra Pecados Íntimos) seja chato. Ele só é uma bagunça.
A trama é baseada numa história real sobre gente rica que nunca ouvi falar (e prefira não conhecer a tal história, pra não saber como o filme acaba). Julianne Moore faz uma mulher de classe média que se casa com um milionário, herdeiro de uma indústria de plástico. O casal vive em diversas cidades da Europa entre 1946 e 72. Não faz nada na vida além de receber alguns poucos convidados, também ricos. Tem um filhinho, que mais ou menos narra algumas partes. Bebê fofinho, adolescente bonito, ele cresce pra virar um Eddie Redmayne. Tá, você não sabe quem é, eu também não sabia, mas ele fez o filho do Matt Damon naquela outra bomba, O Bom Pastor. Você continua sem saber quem é, e eu te entendo. Deixa eu só dizer que eu o acho feinho pacas. Magro que dói, com grande gogó, sardas, branquelão... a espécie de modelo que faz anúncio da Calvin Klein, e todo mundo menos eu acha o máximo. Mas claro, não é a beleza (ou falta de) que está em questão, é a sua interpretação. Como não deu pra notar, tive que me ater a sua aparência. Porque Grace é o tipo de filme em que nem a atuação de uma grande atriz como a Julianne Moore diz a que veio. Os personagens não se desenvolvem, não têm profundidade psicológica, começam como estranhos e continuam sendo estranhos pro espectador até o final. E a gente nunca se importa com eles, por serem tão banais. O único personagem minimamente fascinante é o de um carinha gay contratado pra reintroduzir Julianne aos altos círculos. Ele aparece uns quinze minutos, se tanto. E o melhor momento da Julianne é gritar “En el culo!” num aeroporto, mas ela – e eu – poderia viver sem isso.
Ver um filme assim ou ler um livro sobre o vazio existencial dos ricos me faz ter devaneios e até pensar num absurdo – será que o trabalho realmente enobrece o homem? Será que esse pessoal, se tivesse que mexer uma palha pra ter o pão de cada dia, teria tanto tempo pra se dedicar a suas crises? Tá, não precisa ser rico pra ser extremamente infeliz, e deve haver rico extremamente feliz, imagino. Mas pensa só: se você nascesse milionário e não precisasse trabalhar nem um segundo da sua vida, você gastaria todo o seu tempo ocioso em ser tão ativamente infeliz? Ah, sei lá, vai jogar golfe, que seja! Mesmo num universo pré-internet como o deles, imagino que eles deviam ter mais o que fazer além de jantarzinhos enfadonhos com pessoas igualmente enfadonhas.