CRÍTICA: RAMBO 4 / Mesmo Vietnã, orientais diferentes
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CRÍTICA: RAMBO 4 / Mesmo Vietnã, orientais diferentes


Não vale a pena discutir “Rambo 4” com o pessoal que adora o Stalla e vai ver qualquer filme com montes de explosões. Esses homens, se sabem ler, certamente não lêem o meu blog, então não preciso me preocupar com eles. Caso algum páraquedista distraído sem querer cair aqui por obra do Google, tudo que você precisa ler é: “Rambo 4” é um filme de ação bem legal, com um bom ritmo e tal. Agora posso falar desse lixo abertamente?

Pra começar, tem que fazer um esforço enorme e eliminar muito todo o contexto pra conseguir ver a lucrativa franquia Rambo apenas como um filminho de ação. Ela surgiu na década de 80, quando o conservadorismo varreu a América. Os anos 60 e 70 tinham sido épocas de questionamento, de críticas ao sistema, de liberação dos costumes, mas também da Guerra do Vietnã, que os americanos, apesar de todo seu poderio militar, perderam feio. Tava na hora do cinema acompanhar a moral e os bons costumes dos anos Reagan e, de quebra (por que não?) fazer uma releiturazinha do Vietnã. Stallone (entre outros) foi mandado de volta pra lá pra ganhar a guerra sozinho. Que o Stalla foi o poster-boy do conservadorismo da década de 80 não tá em discussão. O que alguém mais desinformado pode perguntar é: o que os anos 80 têm a ver com agora? Tudo! Sete anos de Bush, o fundamentalismo cristão cada vez mais forte, outro país exótico invadido, mais uma guerra perdida... Volta, Rambo! A América precisa de você! Sabemos que você tá velhinho, mas isso não importa! O Reagan não era exatamente um garoto, e o nosso candidato a presidente, John McCain, já tem 70 anos. Idade é relativa! O que importa é a juventude da alma.

E lá vai o Stalla servir à nação. Desta vez Rambo mora perto de Burma, um país arrasado pela guerra civil. Rambo é um velhinho musculoso desiludido que captura cobras e as vende pra orientais estúpidos, no que parece ser uma nova versão da velha roleta russa de “O Franco Atirador”. A vida do sessentão não tem mais sentido até que surge uma jovem missionária americana que quer ir pra Burma salvar alguns asiáticos, convertendo-os ao cristianismo. Ela tá com um grupo de outros missionários, mas, sendo a única mulher, e o Rambo sendo homem com H, ele só tem olhos pra ela. De novo, a história se repete. Os americanos não deveriam estar lá. Mas, já que estão, cabe ao Rambo resgatá-los. Há também outros mercenários, todos boa gente. Só que o Rambo é o mais puro de todos por não aceitar pagamento.

De cara, fica bem estabelecido quem são os vilões: os malditos vietcongues, ou quase, que espancam, matam e estupram mulheres, explodem suas vítimas e ainda fazem apostas, e roubam meninos de suas mães. E, pra colocar a cereja no topo, o comandante deles ainda é gay! Parece um manual pro pessoal da direita cristã ver junto, levar as crianças, e apontar: tá vendo? A gente não bebe. Os inimigos bebem. A gente não participa de jogos de azar. A gente não faz sexo fora do matrimônio (e ainda assim, só pra reprodução). E a gente certamente não é gay. Porque aquele comandante deles é um sanguinário sádico que comete genocídio, mas o que o Todo Poderoso não vai perdoar mesmo é sua orientação sexual. Entendeu bem, meu filho? Pois é, matar a gente mata, mas sempre por uma boa causa, com a graça de Deus.

Minha parte preferida é no barco, quando Rambo liquida alguns vietcongues pra salvar os missionários americanos, e segue-se um momento de tensão. Os missionários hesitam se devem continuar no caminho a Burma, mas decidem: “Vamos! Lá tem muito mais gente massacrada precisando da gente”. Chegando lá, Rambo praticamente acaba com a população masculina do país. Fica difícil entender como americano perde guerra, se é só mandar um carinha lá que ele resolve tudo em dez minutos. E de graça. Minha segunda cena favorita é quando Rambo explode uma bomba nuclear em Burma. É sério, sai até fumaça em forma de cogumelo. Ah, interessante: qualquer soldado americano tem uma bomba nuclear portátil à disposição? E a gente tem medo do Irã?





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