CRÍTICA: REFÉM DO SILÊNCIO / Don't say a word
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CRÍTICA: REFÉM DO SILÊNCIO / Don't say a word


A primeira crítica à minha crítica provavelmente será: “não acredito que ela não foi ver ‘Harry Potter’”! Pois é, não fui. Nunca li o livro, só estão passando cópias dubladas, e o filme dura quase três horas. São motivos louváveis. Conseguirá a Lolinha resistir à pressão de seus alunos adolescentes, que compraram ingressos antecipados? Será ela capaz de ignorar o fuzuê da bilheteria recorde de estréia? Não perca os próximos e emocionantes capítulos.

Enquanto isso, numa galáxia distante, fui assistir a um suspense menor chamado “Refém do Silêncio”. Este bem poderia ser o título da minha auto-biografia não-autorizada pós-linchamento público devido à crônica sobre estágio. O nome em inglês é “Don’t Say a Word”, “Não Diga uma Palavra”, o que também é altamente sugestivo. Logo, nem preciso mencionar como me identifiquei com a proposta do filme. A refém do silêncio da película, porém, sofreu traumas ainda mais severos que os meus. Trata-se de uma moça que, quando criança, viu seu pai ser assassinado. Depois, passou sua existência em institutos psiquiátricos, até matar um cara. Ela sabe um número que vale um dinheirão pra uns ladrões de banco.

Entra na parada um brilhante psicólogo infantil, quase tão laureado quanto o Bruce Willis em “O Sexto Sentido”. Como notamos que ele é brilhante? Ora, porque é interpretado pelo Michael Douglas, um ator de primeira linha. A menina também se dá conta disso imediatamente, pois ela, que até então não havia aberto a boquinha pra ninguém, começa a tagarelar com ele. Não culpe os roteiristas do filme. Se o Michael surgisse na sua frente, você não iria querer conversar com ele? Sei lá, perguntar sobre a covinha no queixo? Sobre o convívio com a Catherine Zeta-Jones? Quiçá, se você for do tipo mais assanhada, o que definitivamente não é o meu caso, você prefira pular a parte do papo e ir logo pros finalmentes. De qualquer modo, a garota fica amiguinha do Michael. Um trauma de dez anos é curado em, o quê, dez minutos? Isso é que é eficiência. Se faz tempo que você gasta uma grana com psicólogo, reclame. Exija um Michael pra você também. Lute pelos seus direitos.

A trama toda se passa no dia de Ação de Graças. Há uns vilões na história, pessoas da pior espécie, que matam velhinhas e raptam criancinhas. Inclusive, eles seqüestram a filhinha do Michael. Agora, você me diga como são os menores de idade nas produções americanas. Uns gênios, certo? Sem exceção. A menina dá um chapéu nos bandidões, em Freud, em tudo. Por que cursar Psicologia se já se pode ser uma grande psiquiatra aos 8 anos? Tem também a esposa do Michael. No começo, ela pede pro marido trazer um peru pra casa, e as coisas dão errado. Adiante, ela pedirá que ele traga a filha viva pra casa, o que nos deixa um tanto apreensivos, considerando-se o retrospecto. Até esta valente mãe imobilizada na cama com a perna engessada é bem sucedida em aniquilar um dos crápulas. É o lema de Hollywood: família que mata unida permanece unida.

Ah, existe uma detetive. O maridão disse que ela lhe lembrou a heroína de “Fargo”, mas, quando eu quis saber o que ambas tinham em comum, fora o fato de serem do sexo feminino, ele se calou. É o tipo de personagem que tem seu destino traçado desde a aparição inicial. Caberá a ela dificultar um tiquinho a vida do Michael para depois salvar nosso herói e ser carregada de maca pro hospital mais próximo. Por favor, não me acuse de contar a o fim da história. É você quem já viu este filme antes.

Apesar dos pesares, “Refém” mantém um ritmo decente que segura o interesse até derrapar no final batidaço. Está longe de ser um programa ruim, embora cause dejà-vu, este velho conhecido nosso. Decepcionante mesmo, só a gente não chegar a ver o peru do Michael no jantar de Graças. O resto é silêncio.





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