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CRÍTICA: RESIDENT EVIL 3 / Que chegue logo a extinção
Agora o subtítulo de “Resident Evil” não é mais “Apocalipse” ou “O Hóspede Maldito” (vulgo “A Visita do Meu Cunhado”), mas “A Extinção”. Como disse um crítico americano, esse título nos dá esperança. Outro sugeriu que a aventura poderia se chamar “Resident Evil: Game Over”, já que é baseada num videogame. Trata-se do embate básico entre crítica e público: os críticos (eu inclusa) odeiam a franquia, e quem joga deve adorar. Bom, não é que eu odeie com todas as forças. Acho que até prefiro essa tortura a “Tomb Raider”. É so que não entendo a história direito, então nem tentarei resumi-la. Como no início de “Resident Evil 3” eu já não estava sacando muito, virei pro maridão e disse: “Acho que a gente perdeu alguma coisa, tipo as partes um e dois”. O pior é que eu não só vi os dois filmes anteriores como também escrevi sobre eles, pra você ver como a experiência foi marcante.
O filme já começa a todo vapor, com a Milla Jovovich no seu típico vestido vermelho da Turma da Mônica sendo atingida por algum objeto não-identificado e sendo enterrada numa vala comum cheia de Millas (a maior parte com o mesmo modelito). Mas não se preocupe que são clones. A Milla original e única tá mais ocupada imitando o Mel Gibson no badalado “Mad Max 2”, explicando por que precisa viajar e evitar cidades grandes, cheias de zumbis. Tirando a parte dos zumbis e o fato de que, pro meu gosto, o Mel é muito mais bonito que a Milla, o resto é idêntico. No caminho a margarina que veio do milho Milla é capturada por um bando de humanos depravados (a gente esperaria que, num mundo pós-apocalipse repleto de mortos-vivos, os vivos fossem mais solidários) e mata todos em legítima defesa da honra, não sem antes lidar com dobermans do além. Já no primeiro “Resident Evil” eu comentei que sou contra um filme que chuta cachorro morto, nem que seja cachorro morto-vivo. Neste terceiro a Milla não apenas distribui pontapés como eletrocuta e tosta uns cãezinhos mais atrevidos. Teve uma hora que o maridão não compreendeu por que os mortos-vivos humanos não atacavam a Milla, e eu ofereci a minha explicação científica: “Acontece que a Milla é magra demais, quem gosta de osso é cachorro, e como os cães já foram todos mortos, não sobrou ninguém pra pegar os ossos”.
Tem também uma cena que só não é cópia de “Os Pássaros” porque os produtores devem considerá-la uma homenagem a Hitchcock. Mas é igualzinha: corvos se reúnem em cima de um fio e de repente atacam os humanos. Tem um potpourri de várias cenas clássicas do filme de 1963: troços explodindo, pássaros cobrindo de bicadas um corpo que cai, uma ave arrancando os olhos de uma vítima. O que impressiona é como algo feito quatro décadas atrás pode ser tão superior. Não tô falando por um ter sido dirigido pelo hiper-mestre Hitch e outro por um tal de Paul W. S. Anderson . Tô falando dos efeitos especiais mesmo. E é muito mais aterrorizante ver corvo atacando criança do que gente crescidinha. Aliás, nenhum dos sobreviventes parece ter mais que trinta anos. Eu e o maridão aparentemente não teríamos a menor chance de sobreviver a um apocalipse. E, que eu saiba, Alasca fica pra cima, e Las Vegas pra baixo, mas o grupinho decide que tem que enfrentar uma jogatina antes de chegar ao congelador. Lá pelas tantas eles precisam optar: vocês preferem ficar aqui nesse deserto apocalítico ou ir rumo ao Alasca sem roupas adequadas pro inverno? Imaginei que alguém iria levantar a mão e sugerir o Havaí, mas essa gente do fim do mundo não tem senso de humor.
Daí, numa cena chupada de “Dia dos Mortos”, do George Romero, dois cientistas dão objetos a um morto-vivo em processo de domesticação enquanto um terceiro cientista observa. Eles dão um celular, e o zumbi consegue abri-lo. Um cientista fala pro outro: “Puxa, ele sabe pra que serve isso!”. Sussurrei pro maridão: “Tá melhor do que a gente”. Em seguida dão uma máquina fotográfica pro zumbi e ele, no ato, tira uma foto do pessoal pra guardar de lembrança. Reclamei com o maridão: “Você demora dez minutos pra dar o clique”. Quando os cientistas dão pro morto-vivo um joguinho de encaixar, e ele acerta todas as peças nos buraquinhos, não me contive e gritei pro maridão: “Mal posso esperar pra que você vire um zumbi!”.
P.S.: Embora “Mad Max 2: A Caçada Continua” (1981) seja mais cultuado que o “Mad Max” original, de 1979, eu prefiro o primeirão (do terceiro, “Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão”, de 1985, é melhor nem falar). Lá podemos encontrar um filme de ação perfeito, apesar do tema fascista – afinal, o Mel Gibson vira um justiceiro querendo se vingar dos motoqueiros apocalíticos que mataram sua família. A cena da morte da mãe e do filho, aliás, é um primor. E se você tinha alguma dúvida de onde o pessoal de “Jogos Mortais” tirou aquela idéia sádica de um carinha ter que serrar o próprio tornozelo pra salvar sua vida – bom, tá em “Mad Max”.
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