CRÍTICA: SENTINELA / A primeira-dama e o vagabundo
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CRÍTICA: SENTINELA / A primeira-dama e o vagabundo


“O Sentinela” seria mais atraente se ousasse contar a história que não quer contar: o escândalo do adultério da primeira-dama com o guarda-costas. Imagine os tablóides e suas manchetes (“A dama e o vagabundo”, “Orgia na Casa Branca”). Seria uma delícia, não? Ao invés disso, temos um suspense muito inferior à “Na Linha do Fogo” sobre um agente secreto, o Michael Douglas, fazendo de tudo pra proteger o presidente americano. Ou seja, é pura propaganda imperialista, mostrando que nada pode ser mais importante que preservar o manda-chuva do planeta. O próprio cartaz já é um comercial pra anunciar que “Nunca houve um traidor em 141 anos de Serviço Secreto”. Mas em nenhum momento alguém faz a pergunta que não quer calar: ahn, por que será que tem tanta gente doida pra liquidar o presidente dos EUA? E é por isso que geralmente detesto filme desse tipo—sempre torço pra que (que a CIA não me leia) o presidente morra.

A impressão é que dá pra trocar o mandatário da nação por qualquer um de seus guarda-costas e ninguém sentiria falta. Nem a mulher, vivida pela Kim Basinger. Aqui a Kim tá meio magrinha e abatida, mas devo dizer que nenhuma primeira-dama na história dos EUA se pareceu com ela. Lembra da Nancy Reagan e da mãe do Bush? Ambas aparentam ser as tataravós da Kim. A Hillary e esta agora de plantão são loiras, mas sinto que esta é a única coisa que elas têm em comum com a estrela de “9 e ½ Semanas de Amor”. Agora, eu entendo perfeitamente a primeira-dama. Ela olha pro lado e vê seu marido de três décadas com um rosto tipo o do Bush. Olha pro outro lado e se depara com um monte de guarda-costas saradões. Não é uma decisão difícil. Difícil é só saber por onde começar: com o Michael, o Kiefer Sutherland (amaldiçoado a salvar presidentes pro resto de seus dias), ou o Martin Donovan (de “Insônia”), que é um pitéu?

O que levou o maridão a sugerir que, pra trabalhar na Casa Branca, todos os seguranças deveriam ser eunucos. Mas no fundo eu não acredito que esse pessoal faça sexo, pelo menos não com seus respectivos cônjuges. Poder substitui qualquer outro prazer. E tem tanta gente o tempo todo que é impressionante que o Bill Clinton tenha conseguido ficar alguns segundos sozinho com a Monica.

“Sentinela” (daria pra fazer alguns trocadilhos vulgares com o título, mas não neste horário) tá cheio de pistas que não fazem sentido. Por exemplo, suponha que você seja um terrorista que planeja liquidar o presidente. Vai ficar enviando mensagens pra CIA? E não posso entrar em detalhes pra não entregar segredos, mas se alguém descobrir quem chantageia o Michael com fotos da primeira-dama, por favor, me avise. Ademais, poderia dizer que minha cena preferida, fora aquela em que o helicóptero presidencial vai pelos ares, ocorre quando um agente atira num vilão. O vilão tá lá, sem respirar, prestes a morrer em alguns segundos, e o agente acha que essa é a hora certa pra uma confissão e grita: “Rápido! Diga o nome do seu chefe!”. Mas o que eu realmente quero dizer é que morro de vontade de passar por um detector de mentiras. Como não minto, passaria tranquilamente num desses testes. Mas, se eu tivesse que mentir, qualquer um perceberia no ato. Nem precisaria do tal polígrafo.

O legal desses filmes de direita é que manifestantes anti-globalização são pintados como vagabundos sem outro propósito no mundo, além do de infernizar a vida dos seguranças. E “Sentinela” não revela quem quer riscar o presidente do mapa-múndi. A gente só sabe que os vilões obviamente são estrangeiros, porque americanos jamais cometem crimes contra o seu próprio país. Aquele prédio detonado em Oklahoma, os caras que atiraram no Lincoln e no Kennedy, o outro demente que tentou matar o Reagan—esses sujeitos provavelmente só cometeram esses atos anti-patriotas porque algum terrorista árabe ameaçou matar a família deles. Ai, ai. Só quero chegar aos 60 anos com a disposição física do Michael. E de preferência com um presidente americano menos reaça no poder.





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