CRÍTICA: SEXTO SENTIDO / Enfim, um terror que dá medo no cinema
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CRÍTICA: SEXTO SENTIDO / Enfim, um terror que dá medo no cinema


O menininho que não quer ver dead people

"O Sexto Sentido" faz todo o sentido. Este suspense psicológico, em cartaz em SC, pelo jeito vai continuar nas salas por um bom tempo. Até agora, não conheci uma só alma que não tenha gostado do filme, se assustado com ele e adorado o final, a grande vedete. Pode ler isso sem susto que não tenho a mínima intenção de ser uma estraga-prazeres e entregar o desfecho.

A história envolve dois personagens principais. Um, o psicólogo infantil que, após levar um tiro de um ex-paciente, tenta recomeçar sua vida. Seu casamento está em frangalhos, já que a mulher não fala com ele. E seu arsenal de pacientes fica reduzido a um menininho que lhe lembra muito aquele que atirou nele.

Este garoto de uns oito anos tem uma peculiaridade: ele vê pessoas mortas. Nós, os espectadores, não vemos o que ele vê até mais ou menos metade do filme, o que ajuda a criar um clima. Como todo mundo está cansado de saber, o que não enxergamos é bem mais aterrorizante do que o que nos é mostrado em technicolor. Tal qual o menino, não entendemos o que os fantasmas querem com ele. Serão perigosos, podem machucá-lo, ou simplesmente querem se comunicar com ele?

É então que o diretor e roteirista Shyamalan exibe toda a sua perspicácia. Antes dos plufts aparecerem, ele usa um recurso hitchcockiano. Quem assistiu a "Os Pássaros" notou que, anteriormente ao ataque das aves, o mestre põe na tela a sua cena mais gráfica, uma vítima sem os olhos, para que saibamos que os passarinhos não estão pra brincadeira. Em "O Sexto Sentido" é parecido. Shyamalan tranca um garoto em pânico com um fantasma. Ouvimos seus gritos e depois checamos as marcas. Quando os mortos realmente começam a pipocar, ficamos com medo porque vimos como eles podem ser perigosos.

Meu fantasma favorito é o do pré-adolescente que entra no quarto do nosso pequeno herói e diz, "Vem cá que vou te mostrar onde papai guarda o revólver", e, ao se virar, exibe um belo rombo na cabeça. Outros cadáveres não são tão bem sucedidos e parecem mais saídos de filmes trash. É o caso da fantasma do trânsito e dos três enforcados na escola. Pode ser porque as cenas estão iluminadas demais, e aparição combina mais, até rima, com escuridão.

Sobre o tão aclamado final, tenho uma confissão a fazer. Não pensem que estou me gabando não, mas eu adivinhei o fim. Isso é incrível - eu, que até hoje não entendi como termina "De Olhos Bem Fechados"; eu, para quem meus alunos teens, ó suprema humilhação, tiveram de explicar o desfecho horripilante de "A Bruxa de Blair". O que quero dizer é que se até eu, uma negação para prever conclusões cinematográficas, pude decifrar o remate de "O Sexto Sentido", então talvez ele não seja tão surpreendente assim. Mas é super bom, do tipo que faz com que a gente relembre o suspense e queira vê-lo mais uma vez, só pra conferir.

Bruce Willis está bem no que deve ser seu melhor papel desde "Pulp Fiction", mas quem rouba o filme é o ator-mirim Haley Joel Osment, que certamente será indicado ao Oscar de coadjuvante, e já entra como favorito. Tomara que este menino tenha futuro e não desapareça como os talentos precoces Culkin, Linda Blair, Tatum O'Neal. A lista é infinita e só quem se salva mesmo é Jodie Foster. Primeira coisa que Osment deve fazer para assegurar seu lugar em Hollywood? Mudar de nome. Três nomes dificilmente pegam.

Shyamalan homenageia todos os clássicos certos, como "O Bebê de Rosemary" e "Repulsa ao Sexo", ambos de Polanski; Hitchcock, "O Exorcista", e, obviamente, "O Iluminado". Ganha um doce o primeiro diretor de terror desta década que não diga que sua maior influência seja Kubrick.

Eu não acredito em fantasmas, almas penadas ou duendes, certo? Mas devo confessar que fiquei petrificada durante a exibição do filme. Olhava para a poltrona vazia do lado e por alguns microsegundos da minha fértil imaginação imaginava uns cadáveres sentados. Depois de assistir a "O Sexto Sentido", você também vai ver pessoas mortas por um tempo.





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