CRÍTICA: SIM SENHOR / Só diga “não”
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CRÍTICA: SIM SENHOR / Só diga “não”


Com a fortuna que o Jim tem, ele podia ter dito não a esta bomba.

Após ver Sim Senhor, só pude pensar: coitado do Jim Carrey. Quem é o agente que tá escolhendo seus roteiros? Porque, pelo amor dos meus filhinhos, SS é uma barbaridade. E veio depois de Número 23. E antes de I Love You Phillip Morris, que parece ser uma comédia gay em que o Jim se apaixona pelo Ewan McGregor (bom, quem não se apaixonaria?) e que, por causa de uma cena de sexo, não encontra distribuidor nos EUA e tá arriscado a ir direto pro vídeo. Li que, pra fazer SS, o Jim abriu mão do seu salário habitual de 20 milhões de dólares. Ele “só” vai receber 33% dos lucros. Isso deve dar mais grana que o Coringa deu pro Jack Nicholson, então eu começo a entender o motivo do Jim se envolver num projeto tão deplorável.
Mas, quer saber? Pela primeira vez, eu, que sou grande fã do Jim, reparei que ele tá envelhecendo. Ok, todos estamos, certo. Mas são poucos os que ganham o pão de cada dia com comédia física. Desta vez notei cada ruguinha do Jim, e acho que ele aparenta os 47 anos que tem. Pode ser porque o personagem que ele interpreta em SS devia ter uns trinta anos no roteiro. Sua ex-mulher, seu melhor amigo, seu par romântico, todos têm umas duas décadas a menos que ele. Não se convenceu? Quer um argumento definitivo? Pois bem, a velhinha do filme, que usa dentadura, é apenas vinte anos mais velha que o Jim.
Deixa eu resumir logo a trama pro caso de algm estar boiando. Lembra de O Mentiroso, em que o Jim fazia um advogado proibido de mentir durante 24 horas? Aqui é quase idêntico. Jim precisa falar sim pra tudo. Ou seja, a fórmula do filme é a coisa mais simples possível: mostre o Jim dizendo não pra um convite pra sair com os amigos, pra empréstimos bancários, pra emails tipo spam, pra ir a um show de rock etc. Daí mostre-o numa palestra de auto-ajuda onde aprenderá com o Terence Stamp, o Wilson Grey americano, a dizer sim pra tudo. Agora repita todas as situações da primeira parte, mas com ele dizendo sim. Mostre o lado maravilhoso dessa atitude. Mostre o lado negativo também. No final mostre como ele encontra o verdadeiro equilíbrio. The end. Dormiu? É, eu também. Quase.
Nisso de dizer sim pra vida, Jim acaba se envolvendo em altas aventuras. Eu fui comparando essas diversões com a minha Fuck It List (as coisas que eu não preciso fazer antes de morrer). Bungee jumping? Já tá lá. Patinar com o corpo inteiro e ter de brecar com o queixo? Eu nem sabia que isso existia, mas é só me dar um nome pra entrar correndo na minha listinha. A impressão que eu tive ao ver o trailer confere: Sim Senhor é um Antes de Partir sem o câncer. Mas com Red Bull. Acho que dá na mesma. Quanto merchandising num filme só, ó senhor! Além da bebida energético, tem também propaganda de uma moto super cara que nunca ouvi falar (Ducati) e de Lincoln, Nebraska. A cidade é promovida a excelente roteiro turístico onde a gente recebe um tour pra aprender como frangos são abatidos. Pena que eu e o maridão nos casamos faz tempo, porque senão nossa viagem de lua de mel estaria garantida. Ah sim, e se você estiver se perguntando “Por que toda essa obsessão de SS com Harry Potter?”, e, principalmente, “Por que o Jim tem uma cena numa locadora e ele pega logo 300?”, eu tenho a resposta. É merchandising interno. Esses filmes são da Warner, o mesmo estúdio de Sim Senhor.
Eu gostei exatamente de duas cenas. Uma é com o Luis Guzman querendo pular de um prédio. Eu me identifiquei, porque o suicídio passou pela minha cabeça enquanto eu via a comédia. No final da cena, pra quem é muito jovem e não entende a piada, o Jim diz “Estou com bolhas nos dedos”, numa referência à reclamação do Ringo após tocar “Helter Skelter” (se você perguntar “Quem é Ringo?”, você não tem salvação). A outra cena é com a Zooey Deschanel com uma espingarda, apontando pra todo lado, e o pessoal se jogando no chão. Pra ser franca, achei a Zooey a melhor coisa da SS. Sua canção performática é muito fofa. Ela desfez um pouco a péssima impressão causada por Fim dos Tempos.
Em compensação, olha só o desperdício total de talentos na comédia. Sabe quem faz o chefe do Jim? O Rhys Darby. Ok, ok, você não tem que saber quem é ele. Não é um Ringo. Mas o Rhys é o agente da dupla neozelandesa no adorável Flight of the Conchords (veja um clip aqui, um onde o Rhys aparece, aqui, e melhores momentos dele aqui). Ele é hilário na série. Aqui, no entanto, parece que está se esforçando demais. Ou pode ser o papel dele como gerente bancário. Quando Jim passa a aprovar empréstimos, o banco onde trabalha descobre que microcrédito pode ser uma boa ideia. Puxa, o filme é de 2008? Alguém já avisou pros roteiristas que um indiano ganhou o Nobel da Paz de 2006 por fazer justamente isso, microempréstimos? E nunca na história do cinema alguém aprendeu uma língua estrangeira tão rapidamente. Não, sério, é oficial. O Jim aprende a falar coreano fluentemente em apenas uma lição. Nem aqueles cursos que prometem inglês em seis meses conseguem ser tão eficientes. Coreano em cinco minutos! Tudo bem que deve ser uma língua facinha, mas...- Puxa, preciso aprender a falar coreano e pilotar um avião! O que mais tem na lista do "Que se Dane" da Lolinha?




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