CRÍTICA: MULHER INVISÍVEL / Beijos de língua no ar
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CRÍTICA: MULHER INVISÍVEL / Beijos de língua no ar


Luana não existe; Selton não desiste.

Desde que voltei de Fortaleza, fui duas vezes ao cinema, o que é incrível, considerando que Joinville tem ocupado suas cinco míseras salas com uma média de três filmes. Uma dessas idas foi pra ver Trama Internacional, e infelizmente não posso falar sobre ele, porque me esqueci completamente. Evaporou-se da minha mente. Acho que tinha uma cena de tiroteio no Guggenheim, e isso é só. Com quem era mesmo? Ah, com o Clive Owen. Depois eu revi Os Infiltrados na TV pra constatar como se faz um ótimo thriller de ação. E na sexta fui ver A Mulher Invisível. É, sei que essa comédia romântica estreou no Brasil faz meses, mas por aqui foi só semana retrasada, tá? E aproveitando que ainda me recordo um tiquinho do troço, lá vai: nem achei dos piores. É bem superior a Se eu Fosse Você 1 e 2. E deve ser melhor que Os Normais 2, que eu não vejo nem morta e ressuscitada. E, em matéria desse gênero de comédia que precisa urgentemente ser reinventado, é mais legalzinho que A Proposta, só pra ficar num exemplo recente. Isso não quer dizer, de forma alguma, que gostei de MI. Apenas que esperava algo muito mais detestável.
A história é sobre o personagem do Selton Mello, que, após ser abandonado pela esposa, se apaixona pela Luana Piovani, que só existe pra ele. Há também uma trama paralela sobre a vizinha (Maria Manoella) do Selton, que é gamadona nele e o considera o marido ideal. Selton é meio chatinho pra ser ideal, mas ela também é. Deve ser falha de roteiro que todos os personagens sejam assim tão rasinhos.
Teve momentos em que MI me fez pensar num filme infinitamente melhor mas que não é comédia romântica, A Garota Ideal (Lars and the Real Girl, 2007), aquele em que o Ryan Gosling quer casar com uma boneca inflável. É interessante como em Garota todo mundo trata o Ryan com carinho, enquanto em MI o Selton é visto como louco desvairado. E aí vislumbrei uma outra hipótese: e se o Selton se lixasse pros amigos (na realidade, ele só tem um, o Vladimir Brichta) e pra sociedade e mantivesse sua relação com a Luana? Ele parece ter um sexo fantástico (que me fez pensar no Woody Allen dizendo “Não fale mal de masturbação. É sexo com alguém que amo”) com ela―que não vemos, porque a censura é pra 14 anos. Bem ou mal, ele encontra tudo arrumadinho no seu apê e recebe comida boa (aliás, se Luana não existe, quem limpa o lugar e prepara as refeições? Ele mesmo? Ou ele não come e o apê é uma zona, e só na fantasia dele é que tá tudo bem? O roteiro não entra nisso). E, de bônus, ele pode fazer o que quiser: sair com o amigo e até com outras mulheres, já que Luana não é ciumenta. Se ele tem uma fantasia tão legal, por que se curvar à realidade?
Ah, porque do outro jeito não haveria filme... Entendi. Selton não é um sujeito bem resolvido. Ele se importa demais com o que o seu amigo lhe diz. Tipo, ele fala pro Selton: “O que você sabe do passado dessa mulher? Nada! Pra quem ela deu?”. Uau, como se isso fosse importante! O que importa o passado sexual de alguém? O que a pessoa (mulher ou homem) fez antes de conhecer o/a parceiro(a) não influi em nada, ué. Uma amiga minha teve que terminar com o noivo porque ele era super ciumento. Não ciumento do presente, mas do passado! Ele estava obcecado com os parceiros que ela tinha tido antes de conhecê-lo. Como se ela devesse ser virgem, ainda mais aos trinta e poucos anos! E além do mais, eu detesto esse termo, “dar”. Odeio mesmo. Nunca usei na vida. E nem “comer”. Porque são termos de acordo com cada gênero, né? Mulher, que é passiva, “dá”. Homem, que é ativo, “come”. Em inglês não existe isso. Por mais que seja muito mais comum pra um homem falar “I f***ed her” e pra uma mulher falar “we f***ed”, não é tão dividido por gêneros. Eu sempre usei “a gente transou” e pronto, ou “transei com ele”. Ok, mas obviamente MI não é o primeiro ou último produto cultural a adotar esse vocabulário de dar/comer.
O que é verdadeiramente detestável e machista é que a Luana é a mulher ideal, que não existe, ou melhor, que é uma criação dele, uma fantasia de tudo que ele procura numa mulher, e aí essa mulher ideal é uma que foi estuprada pelo padrasto aos 13 anos... e adorou?! Que ela curta ver joguinho de futebol da terceira divisão, zuzo bem. Que ela goste de limpar a casa de lingerie, até vai. Mas realmente precisa ter sido estuprada pelo padrasto? Pros homens a mulher dos sonhos é uma que foi violentada na adolescência? Isso não parece um tanto doentio?
Enfim. Toda vez que se critica uma comédia nacional, fala-se de como ela é parecida com o que a Globo faz na TV. E é mesmo. Mas ultimamente não assisto mais televisão, e, pelo que ouço, o que passa lá (crueldade contra animais em No Limite? Hello?) é tão ruim que até uma sessão de Mulher Invisível no cinema parece melhor. Embora tenha me cansado já na terceira vez que vi o Selton dando beijo de língua no ar. Será cedo demais pra deixar de gostar do Selton? Porque pra comédia romântica meu prazo de paciência já se expirou faz tempo.




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