“Sin” é uma adaptação de uma história em quadrinhos, perdão, de uma graphic novel do Frank Miller. São três ou quatro episódios meio interligados à la “Pulp Fiction”. Como quase tudo é em preto e branco, e como três personagens, todos homens, têm narração em off, o filme chega perto do noir. O problema é que o roteiro da narração é estupidamente fraquinho. Não sei quanto a você, mas quando eu penso no Humphrey Bogart, lembro d’ele dizendo palavras mais sagazes que “I love you, Goldie”. E a narração é redundante, às vezes simplesmente repetindo o que a imagem mostra: “Atirei nele”, sabe? Os três narradores são basicamente um só: um cara durão salvando alguma moça em apuros. Inclusive, há dois módulos de personalidades em “Sin”: homem de sobretudo e mulher com fio dental. É uma fantasia masculina, entende? Todas as representantes do sexo feminino são prostitutas. Melhor ainda: prostitutas com armas potentes. Quando não é prostituta, é agente de condicional lésbica que anda semi-nua. Já os heróis são indestrutíveis. Pulam de prédios, são atropelados, e, pra não dizer que não sofrem nem um arranhão, recebem curativos brancos que brilham no cenário escuro. Um herói tem um problema cardíaco, várias pessoas atiram nele, ele é enforcado, surrado, etc, mas pra ele morrer, morrer mesmo, só se for via suicídio. Aliás, o Bruce Willis não convence como um cara frágil de 60 anos (talvez porque na vida real ele tenha 50 e viva em academias). Daí o Bruce vai preso por salvar uma menina. Só tem uma menina no filme, certo? A menina vai visitá-lo. Em seguida, o Bruce recebe cartas de uma menina durante oito anos. Todos seus inimigos ficam pensando, “Puxa vida, quem é essa menina que escreve carta pra ele? Como ela é esperta, ela não dá nem uma pista de quem possa ser!”. Hã, esses bandidos não pecam exatamente pela inteligência. Quem se sai melhor é o Mickey Rourke. Estranho o Mickey e o Bruce no mesmo filme, pois o Mickey sempre foi tratado como o irmão menos esperto do Bruce. Mas agora ele aparece super maquiado. E no entanto, o público não vibrou nadinha com as piadinhas sádicas, o canibalismo, as castrações e a apologia à tortura. Opa, minto. Houve uma reação numa das DUAS vezes em que alguém enfia a cabeça de outrem numa privada como método de interrogação. Surgem algumas fezes flutuantes, e nessa hora ingrata ouvi diversas espectadoras gritando “Uh!”.
Como “Sin” torna-se interminável depois de um tempo e não segura o interesse, vamos falar das sempre fascinantes entrevistas pra imprensa. Por exemplo, li que a Jessica Fiat Alba fez a cena do strip tease sem precisar de um coreógrafo! Não é incrível? Ela não é espetacular? Sem querer desmerecer o trabalho insano da moça de subir em cima de um palco e rebolar vestida de caubói durante um minuto, e sem querer me gabar – eu também faço! E ainda falo “Olha mãe, sem coreógrafo!” E o que eu aprendi no cinema era que strip tease envolve tirar a roupa. O próprio diretor Robert Rodriguez (cujo maior crédito no currículo, pra mim, é ser amigão do Tarantino) já tinha mostrado um strip mais real naquela bomba chamada “Um Drink no Inferno”. Nele a stripper pelo menos virava lobisomem.