CRÍTICA: UP – ALTAS AVENTURAS / Excluídos voam com balões coloridos
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CRÍTICA: UP – ALTAS AVENTURAS / Excluídos voam com balões coloridos


Super fantástico: também quero viajar nesses balões.

Adorei a mais recente produção da Pixar, Up – Altas Aventuras. Ela é bonita, poética, e passa uma sensação meio francesa, começando pela bela música (veja aqui um trailer que não dá conta da dimensão da trama, legendado com uns errinhos). Ela começa com uma menina e um menino que sonham em voar pelo mundo. Crescem, se casam, envelhecem, ela morre, ele fica ranzinza. E tudo isso no início, praticamente sem diálogos. Assim: deu dez minutos e eu já tava alagando a poltrona, um verdadeiro dilúvio. Só esse comecinho já é um raro exemplo de um casal sem filhos que dá certo no cinema, o que me fez falar pro maridão após a sessão: “Vamos ser que nem os dois velhinhos? Você morre antes”. Ele não gostou, então eu ratifiquei: “Vamos ser que nem os dois? Mas com sexo?”. E o lembrei que eles nunca brigam. Ele: “Mas você viu como a velhinha era simpática?”. Eu: “O que você quer dizer com isso, seu crapulento?”. Ele: “Nada, meu anjo. O que você entendeu?”.
Depois que Up usa um meio original de expor a passagem do tempo (através de gravatas), aparece um menino gordinho, com traços asiáticos―o tipo que nunca é protagonista num filme. Inclusive, Up inteiro lida com aqueles que são deixados de lado pela sociedade: velhinhos, excêntricos, bobalhões, tomboys (menina que parece menino. Ela só tem voz na infância. Quando cresce, o diálogo termina, o que talvez seja uma boa descrição do casamento), até mãe solteira, se a gente considerar a pássara. Por não ter mais onde morar nem pra quê continuar vivendo, o velhinho sai voando com sua casa, e leva o garoto junto sem querer. Isso da casa móvel me lembrou as casinhas de madeira que vi nas ruas de Joinville. Agora é mais raro, mas já vi muita casa em cima de um carrinho, ocupando a rua inteira, indo devagar de um bairro pra outro. Com balões coloridos fica mais bonito.
E é interessante como o filme sutilmente cutuca o nosso materialismo. Ele critica como a gente se apega a uma casa, e aos objetos dentro dela. A mensagem parece ser que é preciso largar as coisas materiais para poder voar. O protagonista faz isso literalmente.
Já é bacana, e melancólico de certa forma, que um cara que cresceu sonhando em ser explorador vire vendedor de balões de gás. Mas Up aponta que não tem nada de medíocre em não realizar seus sonhos (ou que nunca é tarde pra voar atrás do prejuízo). Ao mesmo tempo, é um pouco frustrante que a mulher não possa alçar voos mais altos, já que ela morre antes. Como no mundo, em Up o espaço também é limitado para as mulheres. Trata-se do conceito ainda não ultrapassado que homens são móveis, enquanto mulheres são imóveis, domésticas. Pra mulher, uma casa, um lar, é o mais importante. Prum homem, o que vale mesmo é um meio de transporte. Up perturba um pouco essa ideia fixa. Se a gente pensar bem, é um filme inteirinho sobre espaço. O casal sonha em ir viver na América do Sul, guarda dinheiro pra isso, mas nunca chega lá. Quando a mulher morre, o espaço do velhinho é ameaçado por grandes empreiteiras, que bloqueiam a sua vista e querem adquirir o seu lote, o único espaço que ainda lhe resta. Já o menino que vai com ele está aprendendo a negociar o espaço que a vida lhe reserva.
Mas nada é muito certinho em Up. A única outra personagem feminina além da velhinha é a pássara, e ela é também a única que pode voar por meios naturais. Seu espaço é ilimitado, embora ela insista em ficar em cima da casa e voltar pro ninho. Ela sente-se miserável, prestes a morrer, quando está enjaulada. Adorei a pássara, tão linda, cheia de cores e divertida. Eu ri nas partes que ela se esconde atrás de um galho, e seu corpo continua aparecendo. E não me identifiquei com ela apenas porque ela pula de um precipício pra ir atrás de um pedacinho de chocolate.
Já dos cachorros falantes eu não gostei muito não. Eles não são animais que falam como os que vemos em todos os desenhos animados. Um inventor criou uma coleira para que seus pensamentos sejam expostos através da fala. Algo assim. Por mim, Up podia ter cães (talvez em menor número) sem voz. A gente se comunica com eles ainda que não falemos a sua língua. E acho que o roteiro exagera no caráter servil dos cachorros. Pelo menos com os nossos nunca foi assim. A gente sabia muito bem quem era o mestre, quem mandava, e lamento dizer que não era a gente. O líder da matilha aqui em casa nunca foi humano.
“Up” é também um título que vem a calhar, porque é bem isso que o filme faz—nos levanta. Só que tem um teor triste por baixo. Acho que ninguém chorou tanto quanto eu, que voltei com os olhos inchados pra casa. Chorei no começo, no meio e no fim, com intervalos entre as partes, graças aos céus. O filme dosa muito bem sentimentalismo com aventura, apesar de ser menos pretensioso que Wall-E, por exemplo. Up é apenas uma animação com muito lirismo. Tanto que nem dá vontade de ver o negócio em 3-D. Ele sobrevive bem sem essa técnica, e a gente sai do cinema mais levinha. Se bem que algumas pessoas, não quero citar nomes, saem também meio encharcadas.




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