Dólar e fogos de artifício - VINICIUS TORRES FREIRE
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Dólar e fogos de artifício - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 27/08

Governo pode, 'em tese', baixar imposto a fim de atenuar efeito do dólar sobre a inflação


O PESSOAL DO governo diz que pode reduzir impostos de empresas ou diminuir impostos sobre produtos importados a fim de evitar que a alta do dólar provoque um aumento da inflação.

Na prática, a ideia do governo é dar um dinheiro às empresas a fim de compensá-las pelo aumento de custos ou pela perda de receita que teriam por não faturar o aumento de preços provocado pela alta do dólar.

Trata-se de mais uma tentativa de controlar preços por meio de intervenção direta, ou quase isso. A presidente e seus economistas têm predileção por esse tipo de política, que tem problemas.

Primeiro, controles de preços por meio de impostos têm um histórico de incerto para inglório. O efeito final depende de oferta e procura (bidu), do tipo de produto, do grau de sua necessidade etc. Enfim, o emaranhado de uma economia moderna é tamanho que é muito difícil saber se o que vai entrar por uma porta vai sair pela outra.

Segundo, o governo vai deixar de arrecadar impostos, o que pode até estimular a inflação. Além do mais, com menos dinheiro, ou o governo corta custo (investimento "em obras") ou pede emprestado (aumentam deficit e dívida). Os cortes de impostos do ano passado ajudaram a piorar inflação e deficit.

Terceiro, bulir demais com imposto não costuma prestar. Tratar uma política de médio e longo prazos (tributária) como coisa do dia a dia desorganiza planejamento e expectativas de empresas e governo. Cria oportunidades para favorecer empresas e setores influentes. Etc.

Quarto, usar imposto a fim de lidar com a alta do dólar pode ser vão. O dólar está mudando de degrau devido a uma grande mudança na economia dos EUA e a um problema específico do Brasil.

Como somos uma economia relativamente pequena, não temos como atenuar diretamente o efeito da mudança americana. Como estamos consumindo demais (compramos o excesso lá fora, temos deficit externo), ainda mais nesse contexto de enxugamento de dinheiro no mundo, tendemos a ter menos crédito (menos investimento em dólar), com o que o dólar se desvaloriza.

Quinto, o dólar "está caro demais"? Comparado a qual momento recente? O que é demais?

Por "dólar" entenda-se agora o preço do real comparado ao das moedas de países com os quais o Brasil comercia, de resto descontada a inflação. Grosso modo, isso é a taxa de câmbio real efetiva, que dá uma ideia do preço relativo das mercadorias feitas no Brasil e lá fora.

Por agora, essa taxa de câmbio não é muito diferente da média de 2007. Por que 2007? Sim, meio arbitrário, mas é o ano anterior ao do início da grande crise, antes da biruta das moedas e do "tsunami" de dinheiro de países ricos, que chegaria ao Brasil e valorizaria demais o real, coisa da qual o governo se queixava. Logo, há aí um argumento para dizer que o dólar não está tão caro assim.

Sim, o câmbio é um dos preços mais avacalhados ("manipulados") pelo mercado financeiro. Sim, desvalorização rápida demais causa problemas, por vezes gravíssimos. Sim, é preciso tomar uma ou outra providência, mas raramente intervenção direta, que muita vez não dá em nada, sai caro, causa distorções e desvia a nossa atenção de problemas de fundo. Vira mágica e fogos de artifício. Miragem.




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