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O BC e o excesso de calmantes - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 15/10
Dólar volta ao preço anterior ao da febre cambial. BC ainda vai dar tranquilizante ao mercado?
ATÉ QUANDO O Banco Central vai intervir no mercado, oferecendo dólar e similares derivados? O preço da moeda americana anda agora pela casa de R$ 2,18, por onde andava em meados de junho, logo antes do início da mais recente febre cambial.
O BC começou as injeções sistemáticas de tranquilizantes cambiais no dia 23 de agosto. Um dia antes, o dólar fora a R$ 2,43. O BC colocou ordem num mercado que então ficava histérico, propenso a gracinhas especulativas, barbeiragens e acidentes. Muito bem.
Menos de um mês depois, o BC americano, o Fed, abortou o plano anunciado desde maio de fechar um pouco sua torneira de dinheiro, o que daria um tapinha para cima nas taxas de juros americanas (e do mundo).
O plano do Fed levara os donos do dinheiro grosso do mundo a antecipar essa história. Desde maio, os juros subiram na praça do mercado americano, escalada acompanhada degrau por degrau pela taxa de câmbio no Brasil. Como o Fed deu para trás, os juros por lá se acalmaram e o tumulto financeiro deu um tempo. Mas voltará.
Pelo menos em agosto, o plano do BC brasileiro era, em tese, apenas o de atenuar a volatilidade, altas e baixas amplas de preços (e evitar, por tabela, que a inflação já alta fosse contaminada, bidu).
A calmaria mundial e os tranquilizantes do BC levaram o dólar de volta a uns R$ 2,18. Não estaria agora o BC estocando volatilidade, por assim dizer (por ajudar a empurrar o dólar para baixo)? Isto é, quando os americanos voltarem a tratar de mudar sua política monetária, o dólar tende a dar saltos de novo.
Está certo que, além da calmaria e dos tranquilizantes do BC, existem condições para uma curta temporada de valorização. Como a finança mundial anda mais calma, empresas brasileiras pegam algum dinheiro lá fora. Deve entrar uma dinheirama do leilão do pré-sal, na segunda que vem. A alta da taxa de juros no Brasil em um ambiente externo mais calmo (e com juro real abaixo de zero) chama dinheiro para cá.
Ainda assim, até o final dos tempos ninguém poderá dizer o "preço certo" da taxa de câmbio. Mas R$ 2,18 não parece o bastante para limitar nossos excessos de consumo (deficit externo) e, enfim, o real provavelmente estaria mais desvalorizado sem o esteio do BC brasileiro.
Pode ser que o Banco Central esteja à espera do fim da pendenga ridícula do Orçamento dos Estados Unidos (o governo americano está sem Orçamento desde o fim de setembro e pode não ter como rolar sua dívida neste final do mês devido à crise no Congresso). Na hipótese louca de tal impasse dar em besteira grossa (ameaça real de calote americano), haveria tumulto nos mercados.
Segundo essa hipótese, passada a demência sazonal americana, o BC brasileiro estaria seguro para dar uma fechada em sua torneira de dólares e similares, deixando o câmbio "achar seu preço".
Isto é, reduziria o tamanho de suas intervenções no mercado.
Sim, o BC brasileiro havia avisado que o programa de injeção de tranquilizantes duraria até o final do ano, pelo menos. Mas a situação mudou. Caso o mundo permaneça calminho e o BC continue a dar um "sossega leão" para o mercado, vai parecer que quer um dólar baratinho. Para quê?
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