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Energia = precariedade ambiental? - MOISÉS NAÍM
FOLHA DE SP - 07/06
Encarecer o consumo de fontes que emitem CO2 e investir em tecnologias limpas são objetivos óbvios
Em minha coluna anterior ("A Revolução Mais Importante"), descrevi as transformações profundas no mundo da energia. A explosão do consumo energético na Ásia, liderada pela China; a irrupção das Américas como possível fonte principal de petróleo e gás para o mundo; a nova hiperconcorrência entre países e empresas e a iminente autossuficiência energética dos EUA são algumas das mudanças que nos alertam para o surgimento de uma nova ordem energética mundial.
Talvez o mais inesperado tenha sido que as discussões entre especialistas passaram da ênfase sobre a escassez de energia para a abundância. Um estudo do Citigroup conclui que o consumo de energia chegará ao nível mais alto em 2020, passando a declinar a partir daí.
Tudo isso, que pode passar uma impressão muito boa para os consumidores de energia, é também devastador para o planeta. Como nós, consumidores, somos habitantes do planeta, também é devastador para nós e nossos descendentes.
Nesta nova ordem energética reinam o carvão, o gás e o petróleo, enquanto a energia solar, nuclear, eólica e as outras que provêm de fontes renováveis e não são tão prejudiciais ao ambiente ficam em desvantagem.
Isso significa que as emissões de gás carbônico que contribuem para o aquecimento global causado pela atividade humana não só não vão diminuir, como seria desejável, como, pelo contrário, vão aumentar.
(Se você não acredita que as mudanças climáticas sejam causadas pelas emissões de CO2 produzidas pelos humanos, leia os 11.944 artigos científicos publicados entre 1991 e 2011 por 29.083 autores; 98,4% concluem que o aquecimento global é produzido por nós.)
Parece inevitável que continuemos a emitir CO2 a uma velocidade que levará a temperatura média do planeta a subir ao menos 2ºC. Esse aumento mudará o mundo tal como o conhecemos. E não para melhor. A que se deve tanta complacência?
Existem várias razões. Ignorância. Desconfiança em relação aos "especialistas" e ceticismo quanto à validade das pesquisas.
Prazos aparentemente muito distantes para que os efeitos se façam sentir em toda sua magnitude e que, com isso, criam a ilusão de que o aquecimento global não é uma emergência.
Crise econômica e outras urgências que não deixam espaço, dinheiro ou capital político para problemas que não sejam imediatos.
Insuficiente solidariedade intergeracional (os adultos não temos mostrado muita disposição em fazer sacrifícios para legar aos jovens um mundo mais habitável). Sensação de impotência e resignação diante da informação de que as tendências são irrefreáveis.
O que fazer, então? Não existem soluções mágicas, mas sim uma série de esforços que podem, se não reverter, ao menos desacelerar a marcha rumo ao desastre.
Encarecer o consumo de energia que emite CO2 e investir maciçamente em novas tecnologias são dois objetivos óbvios. Mas o problema não é o que fazer, e sim ter a disposição de fazê-lo. É isso o que falta.
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