ENTREVISTA MINHA SOBRE TROLLS E HATERS
Geral

ENTREVISTA MINHA SOBRE TROLLS E HATERS


Thaiza, estudante de Jornalismo da UERJ, me entrevistou para a revista Subversões. 

1- Qual foi a primeira vez que vc teve que lidar com os trolls ou haters?
Resposta: Praticamente desde que comecei o blog, em janeiro de 2008. Antes disso eu nem conhecia essas palavras. Mas no começo eram bem poucos os trolls. Acho que no primeiro ano eu tive três trolls, e eles não vinham ao mesmo tempo. Nos primeiros anos de blog os comentários eram abertos, sem moderação, e era raro eu deletar algum. Hoje isso seria insustentável, porque o nível de virulência (contra mim e outras leitoras e leitores) é muito grande. 
Preciso dizer que não considero troll quem vem xingar ou insultar esporadicamente. Troll é movido pela insistência, pela obsessão. Só quando o blog começou a crescer muito é que mais blogs apareceram, e haters também. Haters são diferentes, porque em geral eles nem comentam no blog. Eles só falam mal de você e do que você escreve, mas sem necessariamente aparecer no blog. 
E o perfil dos meus trolls é quase sempre idêntico: homem, hétero, branco, de direita, cheio de ódio, muito preconceituoso. Já meus haters são variados. Claro que meus principais haters são reaças e mascus, mas tem gay misógino que me odeia, feminista radical, hipster, ateu, carinha de esquerda... Tem de tudo.

2- Alguma vez você se sentiu verdadeiramente afetada? Já pensou em parar de escrever ou algo do tipo por causa dos comentários? Conhece alguém que já parou?
Pior que os insultos são as ameaças de estupro, de morte, de tortura. Por causa delas já tive que fazer dois boletins de ocorrência. Outra coisa muito desagradável são as falsificações. Gente que literalmente inventa um tuíte pra você, espalha, e depois jura que você o apagou. Fizeram isso pra mim na páscoa. Eu estava viajando, na praia, sem acesso à internet durante vários dias, e quando cheguei em casa havia literalmente mil tuítes pra mim, a enorme maioria com insultos e ameaças. Isso porque espalharam um tuíte fake em que “eu” comemorava a morte do filho do governador Geraldo Alckmin. E poucos dos que espalharam essa mentira se desculparam. 
Essas ações orquestradas não me afetam, mas fazem com que eu gaste muito do meu tempo e energia com besteira. Eu ouço falar de blogueiras que choram ao serem insultadas, ou que ficam muito temerosas quando ameaçadas, mas comigo nunca aconteceu. Desenvolvi uma casca grossa desde o início. Mas claro, tem muita gente que não aguenta, porque realmente é um stress que não para. Nos EUA, há várias blogueiras feministas que deixaram de escrever por conta das ameaças. E mesmo as que continuam estão abaladas. É só ver uma palestra da Anita Sarkeezian, e você nota que ela já não sorri como antes, não tem mais espontaneidade. Certamente isso acontece comigo também. 
Sim, já pensei em parar de fazer o blog diversas vezes. Eu penso como minha vida seria calma sem o blog, e como eu teria muito mais tempo para fazer coisas que preciso fazer na minha vida acadêmica, como ler e publicar textos. Mas ainda não me sinto preparada para parar. É que eu enrolo bastante, mesmo quando não tenho tempo nenhum e milhares de coisas pra fazer. Talvez o blog seja meu jeito de enrolar. Se eu não tivesse o blog, sabe-se lá que páginas horríveis eu iria ler? 
Quero dizer, eu já acompanho (cada vez menos) algumas páginas horríveis, como um fórum mascu. Mas lembro que, em 2004, quando eu tinha que escrever minha dissertação de mestrado, enrolava lendo fóruns de meninas com anorexia e bulimia. Tudo bem que eu tinha muito mais tempo livre naquela época do que hoje, mas ainda assim, receio onde minha procrastinação me levaria. Enfim, faço mais bem à sociedade e a minha saúde mental mantendo um blog feminista do que lendo fóruns com tanta tristeza e ódio.

3 - Qual foi a pior situação em que os comentários odiosos a atingiram?
Não tenho certeza. Eles não me atingem. Não me deixam mal, não me fazem mudar nada. Não estou no Facebook porque não tenho tempo. Não tenho celular, whatsapp, nada disso. Por e-mail é raro receber insultos ou ameaças. Nos comentários do blog é bem comum, e basta deletar. Pelo Twitter os insultos são super frequentes, mas felizmente existe a opção de block. Minha missão é bloquear todos os reaças da internet. 
Em janeiro, Danilo Gentili divulgou no seu Twitter uma montagem de uma foto minha. Como ele tem milhões de seguidores, muitos vieram me xingar. Eu gostaria de processá-lo, porque ele merece, mas depois dá uma preguiça imensa de levar adiante. 
Ah, lembrei que tive um troll que escreveu literalmente quinhentos posts me xingando. Quinhentos posts, entre o final de 2013 e o final de 2014! 
E ele assinava seu blog antifeminista. Foram centenas de calúnias, injúrias e difamações contra mim e meu marido, uma verdadeira obsessão. Tive que fazer um BO contra ele também, e aí ele ficou com medo e pelo menos parou de citar meu nome e usar minhas fotos. Seus blogs continuam, mas recentemente só estão abertos para convidados. Mas veja o nível da obsessão. Esse rapaz de 34 anos, formado em Direito, fazia vídeos em que chorava ao mencionar meu nome. É algo muito doentio mesmo. Se ele morasse no Ceará, e não no Mato Grosso do Sul, eu ficaria preocupada.

4 - Você conhece o caso de pessoas que passaram por situações de perseguição na internet e tiveram problemas de depressão etc?
Não conheço essa gente pessoalmente, mas recebo alguns relatos. Geralmente o que é comum são meninas que são stalkeadas, e isso as afeta muito. Várias não têm nem blog nem nada. A verdade é que não é fácil ser mulher no mundo, e a internet é um reflexo deste mundo. Por um lado, eu encorajo mulheres a encontrarem sua voz, a não se calarem, a não se esconderem por trás de avatares. Por outro lado, eu não quero que nenhuma passe pelo que eu e tantas outras passamos, porque, sinceramente, ninguém merece.

5 - Você pode me contar um pouquinho do caso que você denunciou trolls para a PF? A atuação da polícia foi eficaz? Você sentiu que eles estavam preparados para lidar com esse tipo de caso?
Foram duas vezes. A primeira vez foi em janeiro de 2012, e eu senti um estranhamento forte da parte da delegacia, como se não soubessem como lidar com isso. A segunda vez, quase três anos depois, na mesma delegacia em Fortaleza, eles pareciam estar muito mais familiarizados. Inclusive, enquanto eu esperava para ser atendida, conversei com uma mulher que também iria fazer um BO por algo acontecido na internet. Portanto, hoje é muito mais comum. 
Ironicamente, você não pode fazer um BO de algo acontecido na internet pela internet. Eu sei por que tentei fazê-lo na ocasião das calúnias na páscoa, até escrevi um relatório imenso, mas quando fui enviá-lo, recebi o recado de que não se pode fazer BOs pela internet de crimes ocorridos na internet. Parece uma grande incoerência. 
Sobre a eficácia da polícia, creio que ela não faz muito, só registra mesmo. Não há investigação. Demorou três anos para que a Polícia Federal entrasse em contato comigo. Eu enviava pra eles prints de ameaças contra mim, e nada acontecia. Continuo recebendo ameaças, e continua acontecendo nada, mas pelo menos a Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal me contatou este ano.

6 - Por que isso é tão recorrente em blogs feministas e de direitos LGBT?
Porque a gente incomoda. Porque, ainda que lentamente, estamos tendo sucesso na nossa vontade de mudar o mundo. Se fossemos insignificantes, não seríamos tão atacadxs. E também porque à medida que crescemos e avançamos, cresce também a resistência contra nós. Há muita gente revoltada por não ter mais o privilégio de, por exemplo, contar uma piadinha machista, racista ou homofóbica e não ganhar mais os velhos tapinhas nas costas. Essa gente sente nostalgia da época em que podia ser preconceituosa à vontade sem ser criticada.

7 - Por que isso é tão recorrente na internet? Se é algo ligado à ideia de anonimato ou se é pelas pautas específicas (feminismo, lgbt etc). Você acredita que o anonimato fomenta isso, acredita que deveríamos lutar contra esse tipo de "liberdade" na web que acaba dando vazão pra comportamentos de ódio?
Há muito ódio na internet. Gente demais não quer debater, não quer trocar ideias, quer apenas amedrontar, xingar, marcar território. Creio que o anonimato tem muito a ver com isso. Muitos “machões” se sentem Rambos do Teclado. É visível a diferença de tratamento que recebo na internet e nas dezenas de palestras que dou por todo o Brasil. Em quase 150 eventos nos últimos quatro anos, nunca fui hostilizada. Há discordâncias, lógico, há debates, mas é tudo civilizado. Já na internet, sou hostilizada diariamente. É uma diferença gritante.
No meu mundo ideal, só haveria anonimato quando alguém quisesse contar algo que fez ou que sofreu sem se expor. Por exemplo, uma mulher quer relatar o estupro do qual foi vítima, mas sem se identificar. Nesses casos, considero o anonimato totalmente válido. Mas se você vai xingar ou ameaçar alguém, tenha a coragem de dizer seu nome. Acho até engraçado quando vem algum anônimo comentar no blog e reclama que sua opinião não está sendo levada a sério. Quer ser levado a sério? Deixe seu nome e rosto e responsabilize-se pelo que você diz. 




- Atacada Na Net AtÉ Dizer Chega
Semana passada recebi uma notícia muito triste: Iara de Dupont, leitora antiga, blogueira querida, estava fechando o blog que mantinha há quatro anos, o SMM (Síndrome do Mundo Moderno).A decisão da Iara, que espero não ser definitiva, é uma prova...

- Guest Post: VocÊ Ainda Vai Incomodar Muita Gente
Às vezes é bom publicar coisas bonitas, pra não passar a impressão que só recebo insultos e ameaças.  Acho que, apesar de tudo, as manifestações de carinho que me chegam estão na proporção de dez pra um em comparação às ofensas. ...

- Trolls, Haters, E Outras Pragas
Eles não costumam ser tão fofinhos Outro dia vi uma palestra interessante da consultora Nicole Sullivan sobre trollagem (aqui, em inglês; dura quase treze minutos). Começo não concordando com sua definição de troll: pessoas que buscam conflito....

- Por Uma Caixa De ComentÁrios Mais Paz E Amor
Favor não alimentar os trolls, diz a plaquinha ao fundo Queridas pessoas, como domingo é um dia que muita gente tira pra descansar da internet (eu mesma estou na praia, até que enfim!), vou aproveitar pra falar um pouquinho da política de comentários...

- Comentaristas AnÔnimos Sa
Gente, quem acompanha a política de comentários aqui no blog sabe que não há moderação, e que não excluo praticamente nenhum comentário (tirando alguns do meu troll de estimação, principalmente quando ele insulta leitor@s, e uns que colocam...



Geral








.