EU, MAQUIAGEM, E MINHA CARA DE PAU LAVADA - PARTE 2
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EU, MAQUIAGEM, E MINHA CARA DE PAU LAVADA - PARTE 2


Este anúncio é de fast food, não de maquiagem, mas é bem perturbador

Vou continuar e finalizar minha saga sobre maquiagem, que levou uma leitora a manifestar seu desapontamento comigo ("Você usa corretivo? Que decepção!"), se bem que a maior parte respirou aliviada ao ver que mesmo uma feminista radical como eu (devo fazer rafting e base jump sem saber, só pode) não confisca a carteirinha de feminista de ninguém se a pessoa for pega com tons estranhos na cara.
Batom eu odeio. E piorou bastante desde que descobri que lábios na boca têm o mesmo nome de lábios vaginais e que a gente se maquia pra instintivamente passar a mensagem que nossos lábios vaginais estão mais vermelhos, o que é sinal de excitação, e não sei se isso tudo é invenção da psicologia evolucionista, mas digamos que eu fiquei com mais pé atrás com batom do que antes, porque juro por tudo que é mais sagrado que não quero que um estranho na rua fique pensando na cor dos meus lábios vaginais.
Mas minha razão pra não gostar de batom é mais prosaica. Eu bebo muita água, bebo água o tempo todo. E nas poucas vezes que eu encostava meus lindos lábios com batom num copo ou, pior, diretamente na minha garrafinha de água que eu carrego pra todo lugar, bom, ela ficava marcada de batom. E isso não é legal. Por outro lado, batom protege, e meus lábios muitas vezes ficam ressecados e precisam de proteção. 
Quando eu vivi nos EUA, eu vivia em Detroit, uma cidade que fica metade de ano meio que submersa na neve e no frio. Então paguei um dólar por um bastãozinho de manteiga de cacau que funciona muito bem, obrigada. Ainda assim deixa marquinha ao beber água, mas menos. Isso foi em 2007, só que cinco anos depois o bastãozinho, apesar de provavelmente estar já fora do prazo de validade há alguns anos, segue vivo (talvez não a palavra apropriada pra se usar pra um produto fora do prazo de validade), e eu sigo usando. 
Mas eu, sempre antenada às últimas tendências da moda, e percebendo que algum dia o bastãozinho pode acabar, quando estive na Europa entrei em inúmeras farmácias e perguntei “Tem manteiga de cacau?”. Em muitas, cansada de tentar me comunicar em francês ou, pior, italiano, eu levava o bastãozinho que tenho, e que já conheceu três continentes. A mulherada atrás do balcão ficava meio assim de tocar no troço (que não está com a melhor das aparências, confesso), e dizia que não tinham nada parecido. Na Europa inteira! Só depois, já de volta ao Brasil, e completamente sem querer, é que vi em algum blog que o must hoje é proteção pros lábios feita de silicone. Que a manteiga de cacau foi aposentada. 
Eu até comprei dois bastãozinhos baratos feitos de sei lá o quê em algum lugar da Europa, mas ainda não abri a embalagem. Pra quê, se meu bastão de manteiga de cacau segue vivo? Vai demorar um pouco. Mas foi lá na Europa que comprei maquiagem. Não porque eu ache que Paris, Roma e Madrid sejam chiques e tenham produtos maravilhosos que aqui não existem, mas porque lá eu tinha tempo livre pra andar e entrar nas farmácias. E no Brasil eu sou uma eremita que só sou vista ao ar livre pra ir de casa até a faculdade. Sem falar que é impressionante como as coisas são caras no nosso país.
Lá estávamos nós, parando num lugar pra almoçar chamado San Sebastian, Espanha, e o guia mandou a gente aproveitar os banheiros de um shopping próximo, e os banheiros (um dos raríssimos lugares sem fila pra usar o toalete feminino em toda a viagem) ficavam ao lado de uma loja de produtos de beleza e cosméticos. E eu tava precisando de, ahn, máscara? Não, não é isso. É tipo um creme que a gente coloca e fica meio duro na pele, sabe? Muitas vezes é feito à base de lama, mas aí eles põem corante azul, e sem falsa modéstia eu fico divina de azul, pareço um smurf, e lamento que sair com a cara azul não esteja na moda, e nem ligo pro maridão, que me olha e diz: “Amor, você tá estragando”.
Mas sério, esses creminhos são muito legais porque eu sou uma mulher espinhuda. Quase 45 anos na cara e meu metabolismo ignorou a parte que dizia que espinhas são coisas de adolescente. Então eu tenho espinhas, quase todo dia alguma nova, muitas vezes em pleno nariz, desde que tenho 13 anos até hoje. São três décadas de espinhas ininterruptas. Sou praticamente uma expert, só esperando o Guiness me descobrir (será que com a menopausa que já está rondando a esquina as espinhas desaparecerão? Não perca os próximos e emocionantes capítulos).
Outra coisa que eu adoro é gel esfoliante. Gosto dessa palavra, esfoliante, nada mais apropriado que esfolar a própria pele do rosto. Mas sei que os gels esfoliantes são feitos com grande amor e carinho e o que parece ser areia pra esfregar na pele e tirar as células mortas. Enfim, eu realmente estava precisando de creme máscara e gel esfoliante, e naquela lojinha tinha tudo em muitas faixas de preço. Acho que não preciso dizer a faixa de preço escolhida por mim.
E lá fui eu pagar no caixa. E eu tava super contente de estar na Espanha, o primeiro país que visitei lá (depois fomos pra Portugal) que adotava como língua natal um idioma que eu falo. Eu me senti hiper fluente em espanhol, e desandei a falar com a caixa, que em dois minutos me interrompeu pra perguntar  “De onde você é?”. E eu crente que tava abafando como nativa espanhola (mas tudo bem, porque um carinha da República Dominicana do nosso tour também foi indagado daonde ele era). Pra encurtar a conversa, como a moça não era muito simpática, eu passei a olhar pra outras coisas perto do caixa, e eis que eu vejo uma espécie de bastão fininho da Garnier que promete cobrir e corrigir olheiras (diz que funciona como maquiagem e tratamento cosmético ao mesmo tempo). 
Como era baratinho, só 7 euros, eu comprei. E mais tarde usei. E devo dizer que adorei, porque eu não fico o tempo todo me lembrando que tô usando, e não dá pra notar (eu acho) que eu tô cheia de algum troço embaixo dos olhos. E disfarça um pouco as olheiras. Gostei tanto que passei o resto da viagem entrando em várias lojas e perguntando “tem o troço tal?” e só ouvindo “Não trabalhamos com produtos da Garnier” (eta marquinha boicotada, viu?). O único outro lugar que vi o produto foi num hipermercado em Lisboa. Mas aí custava 16 euros e o meu forte senso ético não permitiu que eu comprasse.
Logo, se ultimamente eu ando menos quati, é por causa dessa coisa. Que algum dia vai acabar, assim como meu bastãozinho de manteiga de cacau.




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