EU SEI O QUE EU FIZ NA SEMANA PASSADA
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EU SEI O QUE EU FIZ NA SEMANA PASSADA


Mas não molhei nem os pés

Adorei ter ido pra Campinas pela terceira vez. Sempre conheço gente ótima por lá que me trata super bem, me leva pra comer batata suíça (note to self: nunca mais pedir a batata grande se não for dividi-la pelo menos entre duas pessoas), e me conta um monte de coisas que eu não sabia. Além disso, tem voo direto de Fortaleza pra Campinas, e o hotel, dentro da própria Unicamp, é incrível. Da próxima vez juro que inauguro aquela piscina (até agora não vi ninguém nem no deck).
A recepção as duas palestras foi muito boa também, mas até aí, sempre é. A pior recepção que tive até agora foi na aula inaugural que dei a uma tuma de especialização de coordenadores pedagógicos da UFRJ, sobre gênero na escola. Não que tenha sido ruim, nenhum ovo ou tomate me atingiu, mas houve bastante resistência. Numa palestra dessas eu sempre cito o modelo da Egalia. Muita gente acha que a experiência (radical até para os parâmetros suecos) de evitar ao máximo separar as crianças por gêneros na pré-escola equivale a tolher a liberdade individual de uma menina se cobrir de rosa, por exemplo.
Desta vez, no começo da semana, a primeira palestra foi na Unicamp, sobre como a educação deveria levar a questão de gênero mais a sério. A melhor intervenção, que eu vou adotar, foi a de uma professora de escola pública, que contou que um menininho estava brincando de boneca. O pai chegou, viu aquilo, e quis saber, revoltado: “Quequifoi?! Virou gay agora?”. E o garoto, com toda a inocência que é peculiar às crianças que ainda não aprenderam a ser preconceituosas, respondeu, calmamente: “Não, virei pai”. Não é o máximo?
A outra palestra foi à noite, numa escola estadual de periferia, quadra de esportes lotada de adolescentes muito curiosos e entusiasmados. A minha foi a que abriu uma semana de debates, e claro que o tema prometia: estereótipos de gênero, machismo e homofobia. Embora eu tenha estourado meu tempo em muitos minutos, foi bárbaro. No final, os alunos tinham mil perguntas. Algumas delas (que vieram por escrito, assinadas):
- “Na sua opinião, o que nós devemos fazer para mudar essa situação ridícula e opressora que a sociedade machista nos impõe?”
- “Que a mídia nos influencia, isso sabemos, mas por que deixamos ela nos influenciar tanto? Por que não temos direito de expressar o que sentimos e achamos sobre esse assunto?”
- “Será que uma pessoa homofóbica seria capaz de espancar ou matar seu próprio irmão se soubesse que ele ou ela é gay? Ou quando acontece na própria família é diferente?”
Outras quase me transformaram em sexóloga:
- “Não sou virgem mas tenho curiosidade se dar o ânus dói”.
- “Na relação sexual entre lésbicas é preciso o uso da camisinha? Ou não corre risco nenhum?”
Não preciso nem dizer como um espaço para falar de combate a preconceitos e de educação sexual é fundamental pruma escola, né? Adorei.
E, entre as inúmeras pessoas incríveis que conheci, destaco o prof. Renê, que é lindo por dentro e por fora. Numa das conversas que tivemos, perguntei casualmente pra ele há quanto tempo ele era professor na Unicamp. Ele responde: quinze anos. E eu, muito confusa, balbucio: “Mas como, você começou quando era adolescente?”. E ele: “Não, vou fazer 50 anos ano que vem”.
Gente, ele não parece ter nem 35! Fiquei incrédula. Ainda estamos tentando desvendar o segredo. Pode ser o ar de Campinas, um retrato de Dorian Gray bem escondido no sótão, um processo de reversão à la Benjamin Button... Um de seus alunos contou que lhe ofereceu um pãozinho de alho e ele recusou. E que o próximo projeto será constatar se seu reflexo aparece no espelho. Acho digno pesquisar essas coisas.




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