PROFESSORA TRABALHA GÊNERO NA PRIMEIRA SÉRIE
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PROFESSORA TRABALHA GÊNERO NA PRIMEIRA SÉRIE


Gênero (feminino/masculino) é uma questão importantíssima, mas que raramente é discutida nas escolas. Como mencionei ontem, eu fiz Pedagogia, e não me lembro de uma aula sequer em que tratamos do assunto. Gostaria de acreditar que a situação mudou dez anos depois, mas duvido. E isso que a orientação sexual (que englobaria gênero) é um dos Temas Transversais dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) desde 1997.
Vou deixar com vocês um lindo relato de uma professora que ensina gênero na primeira série. Está em inglês, e eu fiz um resumo (mal) traduzido. Se vocês souberem de livros infantis em português apropriados pra abordar gênero com crianças, por favor, avisem nos comentários.
Era uma vez uma professora de primeira série. Na mesma escola, nos EUA, alguns anos antes, ela tinha considerado estranho uma colega falar sobre gênero no maternal. Achou exagerado, seria cedo demais! Mas depois de ter duas filhas e perceber toda a divisão que há entre os “sexos opostos” (opostos a quê? Por que essa oposição?), esta professora mudou de ideia. Ademais, ela teve uma aluna, Allison, que preferia ser chamada de Allie, que não tinha um gênero muito definido. As crianças muitas vezes se referiam a Allie como menino. A professora ligou pros pais (compreensivos) de Allie, que perguntaram a ela o que queria que fosse feito: ela, a professora, deveria corrigir quem chamasse Allie de menino, ou não dizer nada? Allie pediu pra corrigir. Quando a professora disse pra turma pela primeira vez que Allie era menina, alunos fizeram perguntas na sala: “Por que Allie se veste como menino?”, “Se você é menina, por que se parece com um menino?”
Esta professora então decidiu a começar a falar com alunos sobre gênero. Primeiro, trouxe um livro infantil sobre um menino que queria uma boneca mais do que nada (veja vídeo em inglês), contra os desejos de seu pai. Em seguida, ela fez duas colunas, meninas e meninos, e pediu que as crianças citassem brinquedos para cada gênero. Quando as duas colunas estavam cheias, ela passou a perguntar se meninas podiam brincar de Lego, por exemplo. A maior parte não viu problema nenhum nisso. Perguntou se meninos podiam brincar de boneca. Como haviam acabado de ler o livro, não houve oposição. “Será que alguma menina aqui brinca de carrinho?”. “Eu! Eu!”, algumas responderam. Só houve hesitação quando chegaram na parte de esmalte e maquiagem. Nisso as crianças pareciam irredutíveis: aquilo era só pra meninas. A professora então lembrou que alguns roqueiros usavam maquiagem. Alguns alunos começaram a se lembrar de casos, inclusive casos na família: “Meu tio pinta as unhas de preto”. E as barreiras de gênero foram se misturando.
Allie tinha vergonha de ir ao banheiro, e quase nunca ia. Nas vezes em que queria ir, a professora lhe dava a chave para um banheiro que não era nem para meninos nem para meninas. Mas o problema persistia porque, como tantas professoras, esta também pedia para as crianças fazerem duas filas, uma para cada gênero. A professora pensou em novas maneiras de fazer as crianças se dividirem em duas filas: “Quem gosta mais de gatos fica nessa fila. Quem gosta mais de cachorro, fica nesta”. Ela testou várias categorias, que eram variadas diariamente, e as crianças adoravam: leite ou suco, calor ou frio, futebol ou basquete, praia ou piscina, sorvete ou bolo. Ela também passou a adotar termos como “crianças”, em vez de “meninos e meninas”.
Como um garoto havia sido alvo de brincadeiras por ter um estojo da Hello Kitty, e sua irmã, por ter um estojo com caveiras, a professora usou alguns livros de Tudo Bem Ser Diferente (ela já havia usado outros livros da série, como Tudo Bem Usar Óculos, Tudo Bem Vir de Outro Lugar, Tudo Bem Ser de Outra Cor). Ela começou perguntando quantos já tinham ouvido que não podiam fazer determinada coisa por serem meninos ou meninas. Muitas mãos foram levantadas. Ela leu um livro em que um garoto é bullied por preferir dançar a praticar esportes. As crianças empatizaram com o personagem.
Já que a professora queria não apenas ampliar as fronteiras de gênero, mas também contestá-las e eliminá-las, ela pediu aos alunos para fazer desenhos para ilustrar o tema de “Tudo Bem Ser Diferente”. Uma aluna desenhou duas noivas. Os desenhos foram expostos no mural da escola.
Allie continuou enfrentando muitos problemas, mas pelo menos a situação na escola melhorou pra ela. E, lógico, melhorou para as outras crianças. Todo mundo ganha em viver num mundo mais tolerante, mais inclusivo.
A professora diz que seu papel não é responder perguntas como “Por quê?” ou julgar -– é ensinar, e ela não pode ensinar se as crianças estão desconfortáveis na sala. E que seu trabalho é preparar alunos para serem parte da sociedade e conviver com todos os tipos de pessoas. Ela termina o relato contando que uma manhã recebeu uma mensagem de uma mãe: “Andrew diz que quer uma boneca de ninar e ele não liga se é só pra meninas. Obrigada, Ms. Melissa!”.
Claro que em muitas escolas a reação dos pais talvez não fosse "Obrigad@!". É preciso transformar a todos, não só as crianças. Mas pra isso a gente tem que se dar conta que a segregação por gêneros, esta divisão binária e ultrapassada, é nociva pro mundo.




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