EXCLUIR MULHERES TRANS DO FEMINISMO NÃO É SÓ TRANSFÓBICO
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EXCLUIR MULHERES TRANS DO FEMINISMO NÃO É SÓ TRANSFÓBICO


Outro dia encontrei um texto muito bom que explica por um viés acadêmico a briga eterna entre transfeministas e feministas radicais.
O artigo de Haline Santiago e Júlia Moita (apresentado no Seminário Internacional Desfazendo Gênero de 2013, em Natal; a segunda edição do evento será em Salvador, em setembro) é bem abrangente e traz várias posições, embora esteja restrito ao cenário dos EUA, que é onde essa briga toda começou. O principal motivo de disputa entre feministas radicais e feministas queer, ou transfeministas, está na questão de gênero. Gênero, para as radfems, é um sistema de relações de poder estruturadas no modelo binário (homens/mulheres). 
"Preciso de um feminismo inclusivo"
Para as transfem, a rigidez do sistema binário gera a opressão. A identidade social é atribuída no momento do nascimento, também baseado no modelo binário. Debbie Cameron resume que, para as radfems, o número ideal de gêneros seria nenhum. Já para a perspectiva queer, o número ideal seria o infinito (2010).
A radfem Cathy Brennan sendo
transfóbica só pra variar
Se tanto radfems quanto transfems veem gênero como uma construção social e se opõem ao sistema binário que reconhece apenas dois gêneros, não entendo por que essa birra não acaba nunca. Não seria possível ter uma discussão saudável, sem transfobia, a partir dessas concordâncias? Ou realmente importamos pro Brasil uma guerra raivosa que não permite qualquer diálogo?
No artigo de 2013 as autoras citam um trecho de Emi Koyama, ativista feminista e intersex lésbica e autora de um manifesto transfeminista publicado em 2001. Decidi traduzir o trecho:
"Falando da perspectiva e da tradição das lésbicas de cor, a maioria se não todas as razões para excluir mulheres transexuais não é apenas transfóbica, como também racista. Argumentar que mulheres trans não deveriam entrar na Terra Prometida porque suas experiências são diferentes seria assumir que as experiências de todas as outras mulheres são as mesmas, e este é um pressuposto racista. Até o argumento que mulheres trans vivenciaram algum grau de privilégio masculino não deveria barrá-las de nossas comunidades pois aceitamos que nem todas as mulheres são igualmente privilegiadas ou oprimidas. 
Confundindo radfems com
direitistas cristãos conservadores
"Sugerir que a segurança da Terra estaria comprometida oculta, talvez de propósito, as maneiras em que mulheres podem cometer atos de violência e discriminação contra outras. Até o argumento de que 'a presença de um pênis poderia servir de gatilho para as mulheres' é equivocado porque neglicencia o fato que a pele branca é tanto uma lembrança da violência quanto um pênis. A história racista do feminismo lésbico nos ensinou que qualquer mulher branca dando essas desculpas para uma opressão já deu e vai dar a mesma desculpa para outras opressões como racismo, classismo e capacitismo".
É também desolador que radfems só aceitem homens trans no seu feminismo por acreditarem que eles não são homens, mas mulheres. Ou seja, por negarem-lhes a identidade que escolheram.




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