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FEMEN, UMA FRANQUIA DO (NEO)FEMINISMO
Está rolando um debate interessante na caixa de comentários em que falei do meu encontro com a Sara, do Femen Br. Eu ia responder lá nos comentários, mas, como ficou longo e tem bastante gente acompanhando a história, resolvi trazer pra cá. Num último papo, a P.R., uma professora de Goiânia, escreveu que discorda de mim em dois pontos:
PR: 1)"Se acreditamos que o feminismo é plural, temos que estar dispostas a aceitar que nem todxs as feministas serão relevantes". Exato! Só que o Femen não é feminista, como você mesma já colocou (pelo menos foi o que eu entendi do que li aqui). O problema não é só a mídia estar dando espaço demais pro Femen. É o Femen (em todas suas "sedes") correndo atrás da mídia deturpando o feminismo.
Minha resposta: Então, acho que muita gente que não concorda com alguma coisa que dissermos sobre qualquer assunto pode achar que aquela pessoa que tem mais voz na mídia esteja deturpando a causa. Eu ouço isso bastante sobre mim, pra vc ter uma ideia. Tenho desafetos, inclusive feministas, que dizem que sou um desserviço ao feminismo, que deturpo a causa, que não as represento, etc etc etc. E isso tudo porque discordam em algum ponto que nem sei qual é do meu feminismo.
Mas a gente pode pensar em qualquer causa, como na defesa dos animais, que dá na mesma. O grupo de defesa dos animais mais conhecido do mundo é o PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). É o que arrecada mais dinheiro também. Muitas de suas ações são bem duvidosas, principalmente no que diz respeito à objetificação de mulheres. E vários grupos de defesa dos animais criticam o PETA pelo desserviço à causa. Mas, independente do que os outros grupos pensam, o PETA continua existindo. E muita gente ouve falar em ativismo animal através dele (minha opinião pessoal é que o PETA causa mais bem que mal).
A gente pode pensar em mil e um exemplos. Não há o que fazer. Não podemos proibir o Femen de fazer o seu neofeminismo, sextremism, sei lá o que elas querem chamar. Certo? Temos todo o direito de criticar o grupo (e é aí que está minha queixa: vamos criticar o grupo, não a Sara individualmente. A gente nem saberia que a Sara existe se ela não fosse parte do Femen). Mas acho que temos também que criticar a mídia. Que tal escrever pra Marilia Gabriela, Jô, Saia Justa etc (os veículos que abriram espaço pro Femen, embora não ache que alguma feminista tenha estômago pra ir ao Gentili ou ao Super Pop) e explicar pra esses veículos que o Femen está longe de representar a totalidade do feminismo, e que eles deveriam entrevistar grupos e indivíduos feministas mais sérios e engajados?
PR: 2) A responsabilidade do Femen Br ser um fiasco é do Femen Ucrânia? Não consigo estar de acordo com essa afirmação... O Femen (Uc, Br, Lua ou Marte) é um grande fiasco, mas a responsabilidade do estrago que esta agrupação está fazendo em solo tupiniquim é também de sua coordenação/liderança/direção brasileira, totalmente despreparada, isolacionista e mal-intencionada. O simples fato de permitir que um indivíduo como [o rapaz que antes queria tirar Sara do comando do Femen Br e que agora, aparentemente, é porta-voz do Femen Br] responda às perguntas no FB é a prova disso (entre outras zilhões de coisas mais relevantes que tomei conhecimento aqui).
Você mencionou que não tem uma conta nesta rede social, mas quem possui pode dar um pulo lá e verificar isso. No mais, estamos tod@s de acordo com a necessidade de superarmos eventuais picuinhas que ocorrem dentro do feminismo, mas também temos a obrigação de distinguir picuinhas de bandeiras políticas, que é o que me parece ser o questionamento coletivo dos Femens no mundo e, em especial, em nosso país. Fico muito triste em ver que uma m*rda como o Femen está conseguindo criar desentendimentos entre nós, @s feministas.
Minha resposta: Pra mim, a responsabilidade pelo fiasco do Femen Br é do Femen Ucrânia. Pensa só: o Femen não é uma ONG, certo? É o quê? Um grupo, um movimento? Vamos dizer que é uma franquia, embora esse nome tenha uma conotação comercial, de lucro, e também não acho que seja o caso do Femen, pelo menos por enquanto. Pra vc abrir uma franquia de qualquer marca num outro lugar –- sei lá, vamos dizer que vc queira abrir uma franquia da Wizard –- vc precisa, além de pagar caro, seguir uma série de normas e exigências. Tem que ter um treinamento, tem a parte visual, tem os livros.
Isso porque, se houver num lugar uma Wizard que trabalhe totalmente fora do padrão, isso vai atingir a marca Wizard. Portanto, imagino, quem vende franquias Wizard não vai vendê-las pra qualquer um. A marca Wizard vai fiscalizar o franqueado, haverá um contrato, quem abriu a franquia se compromete a seguir um monte de passos... Claro, nada impede que um dissidente da Wizard saia e abra sua própria escola de inglês, com método similar, que é o caso da Wisdom -– se bem que a Wizard entrou na justiça contra a Wisdom, pelo que ouvi falar.
Não seria a mesma coisa com o Femen? Uma moça, a Sara, se interessou em começar o Femen aqui no Brasil. Ela falou com o Femen Ucrânia. E o Femen Ucrânia não quis saber nada do seu passado? Não a entrevistou? Não procurou descobrir se ela entende minimamente de feminismo? Não a treinou? Não pesquisou pra perceber que pouco tempo atrás essa mesma moça havia falado mal da Marcha das Vadias por algumas manifestantes andarem sem camisa e sutiã? Não ligaram pro seu passado nazista? Impossível não terem visto o símbolo nazista que Sara tem em cima do peito! E assim, mesmo depois disso tudo, parece que falaram pra Sara: Vá em frente, comece o Femen Br, que demais! Pra começar o Femen em algum país, suponho que seja preciso mais que botar uma guirlanda de flores na cabeça, sair por aí com os peitos desnudos pra protestar, e avisar a mídia do local e horário do protesto. Imagine se EU quisesse ter começado o Femen Br. Desconfio que o Femen Ucrânia não me deixaria. Porque sou gorda, porque tenho 45 anos... E se deixasse (o que eu duvido mesmo!), eu, gorda e de meia idade, não iria contra a imagem do Femen? Eu conseguiria essa mídia toda que elas conseguem?
Continuando minha comparação, se a Wizard permitisse que, vamos dizer, a Sra. Joaninha, uma pessoa com passado recente de escolas de inglês que não deram certo, abrisse uma franquia em Fortim, e quase que imediatamente essa nova escola se revelasse uma porcaria, a gente centraria nossas críticas na pessoa da Sra. Joaninha? Ou criticaria a Wizard como um todo? A marca Wizard estaria isenta de culpa ao permitir que seu nome fosse usado por uma pessoa despreparada como a Sra. Joaninha? E vamos supor que, mesmo depois que a escola da Sra. Joaninha, a Wizard Fortim, se provasse um fracasso total, a Wizard lançasse um comunicado dizendo que os professores e alunos de inglês de Fortim é que não sabem falar inglês direito, que só sabem falar inglês para fins acadêmicos. E aí a gente descobre que o site oficial da Wizard tem uma aluna de inglês com os seios de fora segurando um foice numa mão e bolas sangrentas do concorrente na outra mão. A gente perderia tempo falando da Sra. Joaninha ou se daria conta que o problema maior é a própria Wizard?
Se a Sra. Joaninha se afastasse da direção da Wizard Fortim, isso limparia a barra da escola? Você iria correndo se matricular lá? Acho que não. Por isso, eu insisto: o problema não é a Sara na direção do Femen Br. O problema nem é o Femen Br. O problema é o Femen.
E minhas desculpas à Wizard. É só uma comparação – eu ia usar o McDonald's. Por mais que a Wizard seja muito fraquinha, ela vai eventualmente ensinar alguém a falar inglês. Que é mais do que se pode dizer do Femen em relação ao feminismo.
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