FEMEN E ISLAMOFOBIA, UMA RELAÇÃO PERIGOSA
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FEMEN E ISLAMOFOBIA, UMA RELAÇÃO PERIGOSA


Integrante do Femen queima bandeira em frente de mesquita em Paris

Eu ia publicar um post levinho hoje com o título de "Alá existe", referente à morte dos soldados americanos que mataram Bin Laden, mas vou deixá-lo pra semana que vem. Fiquei relutante porque já falei do deus que matou John Lennon (há indícios que ele também matou os Mamonas e que ele tem planos pro Caetano), e porque nos comentários do post sobre a homenagem do Femen a Thatcher, pra variar, rolou uma discussão sobre islamofobia. Por que será que não dá pra falar sobre o Femen sem falar em islamofobia? Talvez porque o grupo seja de fato islamofóbico?
Aquilo que escrevi no update de um post meu -- "algumas feministas brasileiras acreditam que o Femen seja um grupo de inspiração fascista disfarçado de feminista" -- começa a angariar evidências. Várias participantes do Femen em todo o mundo pertencem a organizações racistas de extrema direita. Ou seja, a escolha de Sara Winter (uma integralista nacionalista até pouco tempo, com uma cruz de ferro tatuada no corpo até hoje) para liderar o Femen Brazil parece não ter sido mera coincidência. 
Ontem uma leitora, a Lu, traduziu algo que foi escrito no FB: 
"Nós sabíamos que a líder do Femen no Brasil está envolvida com grupos neonazi. Nós soubemos que os grupos na França, Rússia, Ucrânia e Turquia acusaram-nos de xenofobia. Nós também sabemos que ativistas foram expulsos do grupo na Alemanha por questionar por que tantos membros faziam parte de grupos da extrema-direita. 
"Nós soubemos sobre os sequestros falsos e notícias falsas. Agora, outra evidência muito importante veio à tona. A página do Femen no Reino Unido é administrada por um membro da EDL [English Defense League, um grupo de extrema direita]. A palavra precisa alcançar as pessoas, especialmente num momento em que Femen está escrevendo para o The Guardian e outros meios de comunicação britânicos, sendo caracterizado como a 'salvação do feminismo'". 
Eu diria que é incrível, mas na realidade é estratégico, que a mídia continue a dar tanto destaque ao Femen. Mostrar eventos do Femen é o tipo de notícia que vende, não só porque inclui fotos de jovens dentro do padrão de beleza com seios nus, mas também porque é a oportunidade pra muito babaca balançar a cabeça e dizer "Essas feministas!...". Sendo que nem o Femen se diz feminista. Se diz neofeminista e sextremista, dois termos que elas não se preocupam em explicar.
Tenho visto várias imagens de integrantes da Femen sendo agredidas, algo que todxs nós devemos repudiar com toda a convicção. Num dos protestos anti-casamento gay na França no ano passado, várias ativistas foram espancadas. Esses dias um fórum mascu publicou isto (imagina, não é misoginia!):
Quer dizer, grupos de extrema direita (como os mascus) odeiam o Femen, mesmo que eles tenham a islamofobia em comum. E feministas não sentem que o Femen as representa, nem sequer que seja um tipo de feminismo, entre muitos. Enquanto isso, a grande mídia as retrata como únicas feministas, sem nunca questionar suas mancadas.
Algumas pessoas têm acompanhado a saga de Amina, uma jovem tunisiana que decidiu postar uma foto na página do Femen-Tunísia no Facebook com os seios descobertos e palavras como "F*dam-se suas morais". Por isso, ela foi agredida verbalmente e ameaçada por um clérigo muçulmano. É francamente temeroso que algo assim ocorra. Mas como o Femen passou a notícia, que ganhou manchetes em todo o mundo? Assim: "Mulher é condenada à morte por fazer topless em protesto". 
Quando você lê uma manchete dessas, o que você pensa? Eu, pelo menos, pensei que o governo da Tunísia tivesse condenado Amina à morte. 
Só que não tem pena de morte na Tunísia, como este texto bem explica. A "condenação" não veio do governo da Tunísia. É a opinião de um líder religioso, que não tem poder nenhum de açoitar ou apedrejar alguém. Também não parece ser uma FATWA (uma perseguição contra os hereges, como existe faz décadas contra o escritor Salman Rushdie). O que parece é que um maluco e fanático religioso condenou o que Amina fez. Em outras palavras, imagine pegar o que mascus sanctos dizem sobre mim quase todo dia ("Lola a feminista de nome proibido deveria ser açoitada e morta por escrever essas porcarias feministas") e transformar na manchete "Velhinha feminista é condenada à morte por ter um blog". Ficaria um pouco exagerado, né?
Para protestar contra essa "condenação", o Femen promoveu um "topless jihad day", em que várias manifestantes mostraram os seios pela liberdade das mulheres muçulmanas. As Femen chamaram a data de "nova primavera árabe" e escreveram que o evento era um grito contra "o ódio letal dos islâmicos, bestas desumanas para os quais matar uma mulher é mais natural que reconhecer o direito dela de fazer o que quiser com o corpo dela". 
Isso gerou um outro movimento, o Muçulmanas contra o Femen, que, além de postar fotos de mulheres islâmicas com cartazes com dizeres como "A nudez não me liberta e eu não preciso ser salva", escreveu na sua página no FB: "Entendemos que é difícil para muitas de vocês 'feministas' coloniais brancas entenderem que muçulmanas e mulheres não-brancas podem pensar em sua própria autonomia, e reagir também, e falar por si. Temos orgulho de sermos muçulmanas, e estamos cansadas das suas besteiras coloniais e racistas disfarçadas de 'liberação feminina'!" 
Uma das líderes do Femen, Inna Shevchenko, respondeu: "Elas dizem ser contra o Femen, mas nós ainda dizemos que estamos com elas. Elas escrevem nos seus posters que elas não precisam de liberação mas nos seus olhos está escrito 'me ajudem'". Ai, ai, Inna... Se uma pessoa que julgamos oprimida diz que sabe lutar sozinha, não diga que ela está fingindo ou que ela está com medo porque, "atrás delas, há homens barbudos com facas" (outra asneira que Inna escreveu). Simplesmente acredite nelas, pô!
(Saber que existem muçulmanas feministas e que elas são capazes de lutar pela sua própria libertação é um dos motivos pelos quais feministas 'ocidentais', eu inclusa, não costumam se intrometer nos problemas de culturas que desconhecem. Claro que os machistas brasileiros, por exemplo, aqueles que não acreditam que existe machismo no Brasil, estão sempre nos mandando pro Oriente Médio -- "vai lá protestar com as tetas de fora pra ser apedrejada" -- ou nos cobrando a salvação de alguma muçulmana, como se não houvesse feministas em países islâmicos ou como se a gente já não tivesse muito pra lutar por aqui.)
A própria Amina, que estava sumida desde que foi ameaçada, apareceu num canal francês para dizer que não quer estar associada com as ações mais recentes do Femen, apesar de continuar apoiando o grupo, porque "elas são verdadeiras feministas". Porém, para Amina, "elas insultaram todos os muçulmanos em todo lugar e isso não é aceitável". O Femen declarou, de modo característico, que era claro que "Amina não estava falando livremente". 
Quando nem uma aliada (o Femen) acredita no que você diz, talvez seja a hora de buscar novas aliadas, não um grupo que faça da islamobofia sua principal bandeira. Ainda bem que, assim como nem todos os muçulmanos (ou os cristãos, ou os judeus) são fundamentalistas religiosos, nem todo feminismo é o Femen. 
Já tem muita gente afirmando que o Femen Ucrânia foi criado, há cinco anos (agora foi aniversário delas), para manchar a imagem do feminismo. Espero não precisar escrever um post daqui a um tempinho citando evidências de que isso seja mesmo verdade. Porque tá parecendo.




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