FEMEN HOMENAGEIA MARGARET THATCHER
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FEMEN HOMENAGEIA MARGARET THATCHER


Da página do Femen Br no Facebook

Eu não ia falar nada da morte de Margaret Thatcher porque estou incrivelmente sem tempo e porque várias pessoas morrem todos os dias e nem por isso eu tenho que escrever sobre elas (por exemplo, só tratei da morte de Hugo Chávez no Twitter: um político que eu inicialmente achava apenas um populista, e que aprendi a admirar ao ver sua lucidez em todas as entrevistas).
Mas um leitor me enviou um link pro Facebook do Femen (com a imagem que postei aí em cima), fui lá e não pude acreditar no que vi. My eyes, my eyes! Pensei que de repente alguém tivesse hackeado a página. Antes de mais nada, eu sou de esquerda e acho complicado um feminismo de direita (como mudar o mundo sem mudar o mundo?), e tenho uma opinião não muito favorável a respeito do Femen. O que está escrito lá na página do FB (clique para ampliar):
É verdade que Thatcher transformou o Reino Unido. O problema é que não transformou pra melhor, né? Com sua política neoliberal (que o Femen parece aplaudir), a primeira-ministra cortou gastos do governo -- em outras palavras, gastos com educação e saúde -- e bloqueou qualquer tentativa de regulamentar a indústria. Quem acha que o capitalismo não precisa de regras, que as empresas se regulamentam sozinhas, bom, sei lá, sério que vocês ainda acreditam nisso depois de 2008?
Recomendo muito o documentário A Doutrina do Choque, baseado no livro de Naomi Klein. A eleição de Thatcher em 1979, e a de Ronald Reagan, no ano seguinte, foi um sonho para os Chicago Boys como Milton Friedman, ansiosos para implantar seu modelo de capitalismo selvagem em algum país rico, e não numa republiqueta comandada por um ditador plantado pelos EUA, caso de Pinochet, no Chile (aliás, Thatcher nunca abandonou Pinochet).  
Os resultados desse choque liberal na economia foram desastrosos. No primeiro ano do governo Thatcher, as taxas de desemprego dobraram, e houve uma explosão de greves por todo o país. Para Klein, a impopularidade gigantesca de Thatcher parecia provar que a doutrina liberal era odiada demais para ser implantada numa democracia. Só funcionaria numa ditadura mesmo, em lugares onde não houvesse voz para a discordância. 
Thatcher só não perdeu a eleição seguinte porque iniciou uma guerra, e guerras despertam instintos patrióticos e irracionais e unem um país (sempre funciona: foi só assim que George W. Bush conseguiu ser reeleito em 2004, atacando um país que nunca atacou os EUA, o Iraque). A maior parte dos britânicos nunca havia ouvido falar nas Ilhas Falkland, mas Thatcher quis lutar pelas Malvinas durante uma das muitas ditaduras argentinas, em 1982. Apesar da guerra ter durado apenas três meses, foi suficiente para erguer Thatcher das cinzas (pra quem duvida como as privatizações podem quebrar um país, veja o documentário Memórias do Saque, sobre a bancarrota da Argentina).
Porém, o Femen acha o máximo reduzir o tamanho do Estado. Acontece que é o Estado, através dos nossos impostos, que financia creches, escolas e universidades públicas, hospitais públicos, segurança etc. Ser contra políticas de bem estar social é ser contra as mulheres de modo geral, porque a maior parte dos pobres no mundo são mulheres (e crianças). É ser contra negros. É dar um belo dane-se pra qualquer pessoa que não teve a sorte de ter os seus privilégios. 
Não sei se é ignorância do Femen achar que Thatcher foi um ícone feminista (será que o Femen pensa que o filme A Dama de Ferro é um documentário?), ou se esta é mesmo a linha política do grupo (afinal, a líder brasileira orgulha-se da sua tatuagem nazista). Na vida real, Thatcher foi uma notória anti-feminista, que lutou contra os direitos de gays e mulheres. Junto a Reagan, ela foi uma das principais figuras do backlash, a reação conservadora dos anos 80 contra o feminismo -- reação que sentimos até hoje. 
Seria ótimo se todas as (poucas) mulheres no poder fossem pró-mulher. Assim como seria uma maravilha se todas as mulheres fossem feministas, lutando por um mundo com mais igualdade. Mas não é assim que as coisas funcionam. Eu já ficaria mais aliviada se um grupo que se diz (neo?) feminista parasse de dar tanta mancada.




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