Tem tanta coisa fascinante pra falar sobre O Mito da Beleza, livro da Naomi Wolf (foto) de 1990 que só li agora, que vou separar em pedacinhos. Pra gente que é mulher deveria ser leitura obrigatória. Pros homens inteligentes, também. Porque homem inteligente é feminista, se garante, não tem medo de perder seu lugar na sociedade, e quer mais é que todas as minorias tenham direitos iguais. Pra mim, inteligência não rima com preconceito.
O termo “feminismo” é duro, eu sei. Uma amiga me contou que esteve numa conferência tida como feminista nos EUA em que cinco acadêmicas foram convidadas pra falar. E todas as cinco, incluindo minha amiga, abriram sua participação dizendo: “Na realidade, eu não me considero feminista”. Isso num ambiente universitário! Alguma coisa séria deve ter acontecido. No início dos anos 80, mais da metade das americanas dizia ser feminista. Com o backlash (o retrocesso que tomou conta do mundo) na década do Reagan, com a ênfase que se deu à “família tradicional” (cuja mensagem pra mulher é clara e reduz-se à “Saiba o seu papel”), feminismo virou palavrão. Apenas lésbicas e/ou mulheres mal-amadas podem ser feministas. É isso que a falta de homem causa. Porque tudo no mundo, óbvio, gira em torno dos homens. Temos inveja do pênis.
Sei. Não é recente o estereótipo que feministas são ogras horrendas, mulheres falidas e masculinas, que se dedicam a essas causas esdrúxulas porque não conseguem arranjar marido, e por isso decidem castrar todos os homens. Desde que as feministas pioneiras passaram a exigir o direito a voto, lá por 1850, esses clichês começaram. E é incrível como as próprias mulheres caem direitinho nessa ladainha. Será que param pra pensar pra quem interessa essa divisão? Quem ganha nesse jogo que faz mulheres desconfiarem de outras mulheres? Quantas vezes você já ouviu uma mulher dizendo que prefere trabalhar com homens?
Hoje o que mais escuto, sempre que exponho meu feminismo, é que ele não tem mais razão de ser. As mulheres, afinal, conquistaram tudo que queriam. Ocupam 50% dos cargos de chefia no planeta. Ganham o mesmo que o homem. Não têm jornada dupla (ou tripla). Ocupam metade dos cargos governamentais. Podem usufruir da sua sexualidade como bem entendem. Não apanham mais dos maridos. Não são mais estupradas. Não são avaliadas somente pela aparência. E, desde a infância, meninas e meninos são criados com a mesma liberdade. De fato, como dizia um anúncio de cigarro, “You've come a long way, baby” (“Você traçou um longo caminho, baby” - melhor nem mencionar que nunca vi anúncio dirigido a homem ter um tom condescendente desses e chamar o cara de bebê).
Minha opinião sincera? Não foram só as conquistas que ainda não ocorreram, mas o próprio retrocesso da década de 80 ainda não terminou. Muito do que foi conseguido com a revolução sexual acabou se perdendo. Mas a situação é pior, porque antes a gente sabia que precisava lutar. Hoje finge que está tudo bem e que não há mais necessidade. E feminismo segue sendo palavrão.