Geral
Firme, sem bravatas - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 07/09
O comentário sarcástico do senador Francisco Dornelles de que o governo brasileiro está "faturando" esta crise de espionagem com os Estados Unidos, mas tem de mostrar indignação em dose certa, "não dá para declarar guerra", resume bem o que está acontecendo desde que documentos secretos obtidos pelo analista de segurança Edward Snowden revelaram que o esquema de espionagem internacional da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) tinha no Brasil um alvo prioritário na região, o que incluía até mesmo, ficou-se sabendo domingo passado pelo "Fantástico", da TV Globo, o rastreamento das comunicações pessoais da presidente Dilma Rousseff.
O governo brasileiro está tratando do assunto com muita propriedade desde o início: reagiu duramente, mas evitou bravatas no transcurso da crise. Havia sugestões diversas, desde dar asilo a Snowden até o cancelamento da viagem de Estado da presidente Dilma marcada para outubro aos Estados Unidos. Todos os passos foram dados pela diplomacia brasileira de maneira segura, tanto que, até o momento, o mais longe a que se chegou foi suspender a viagem de assessores que preparariam a visita oficial, que continua mantida "a depender das condições políticas oferecidas pelo governo dos Estados Unidos", segundo definição perfeita da própria presidente Dilma.
No primeiro momento, o governo brasileiro diferenciou- se claramente de governos populistas da América Latina, como o da Venezuela, que vinha negociando nos bastidores uma reaproximação com os Estados Unidos, mas não resistiu a oferecer asilo a Snowden quando a oportunidade surgiu.
A situação do Brasil seria mais delicada devido ao Mercosul, que reúne países da região na sua maioria hostis aos EUA, e a reação negativa, como era esperado, ganhou um tom acima do que vinha sendo utilizado pelo próprio governo brasileiro quando o presidente da Bolívia, Evo Morales, na volta de uma viagem oficial à Rússia, teve os espaços aéreos de França, Espanha, Portugal e Itália fechados a seu avião oficial devido à suspeita de que Snowden estivesse a bordo.
Não obstante, o governo brasileiro saiu-se bem da situação constrangedora, apoiando a reação de seus parceiros regionais, mas deixando abertas as portas para uma explicação dos EUA suficientemente satisfatória para que as relações bilaterais não fossem alcançadas.
Dilma ainda fez um gesto de boa vontade atendendo a um telefonema do vice-presidente americano, Joe Biden, em vez de direcioná- lo ao Palácio do Jaburu para uma conversa com seu par, o vice Michel Temer.
A descoberta de que a própria presidente teve sua correspondência com assessores e amigos monitorada, mesmo que não tenham sido lidos e-mails nem ouvidas conversas telefônicas, deixou a situação mais desafiadora, e o governo brasileiro voltou a agir com firmeza, mas sem bravatas. Exigiu explicações "por escrito", sinalizando que não aceitaria mais conversas diplomáticas, e a própria Dilma transmitiu ao presidente Obama sua "indignação" e a do país com essa invasão de sua privacidade.
Ao mesmo tempo em que aguarda as explicações pessoais de Obama, que se comprometeu a encontrar "a fonte da tensão" entre os dois países, Dilma vai propor, na ONU, em 24 de setembro, em Nova York, "uma nova governança contra invasão de privacidade".
Não foi por acaso que também o presidente do México, Peña Nieto, teve suas comunicações pessoais monitoradas.
Brasil e México são os dois líderes da América Latina e ganham relevo internacional à medida que o multilateralismo vem se firmando nas relações globalizadas.
Não é à toa também que os dois disputam a mesma vaga no Conselho de Segurança da ONU.
O Brasil tem conseguido até o momento enfrentar com soberania a crise diplomática armada pelo sistema de espionagem dos EUA, numa posição que reconhece pragmaticamente a inevitabilidade dessas ações de espionagem, mas que pretende colocar- lhes os limites que a democracia impõe.
Ainda bem que Dilma não acatou o conselho do ex-presidente Lula para dar "um guenta democrático" em Obama. A crer-se na maneira quase afetuosa com que Obama despediu-se de Dilma, com beijinhos na face, tudo indica que o modo firme, mas delicado, com que tratou do assunto dará mais certo.
Sem falar que os políticos brasileiros gostariam muito que também internamente a presidente agisse dessa maneira.
-
Cada Um Na Sua - Merval Pereira
O GLOBO - 25/09 Os dois presidentes trataram dos assuntos que são prioritários para seus respectivos governos. A presidente Dilma Rousseff tem razão de levar essa indignação do governo brasileiro à Assembleia da ONU, mas fica sem sentido pedir uma...
-
Para Americano Ver - Editorial Folha De Sp
FOLHA DE SP - 18/09 Adiamento de visita de Dilma aos EUA é resposta adequada, ainda que inócua, a caso de espionagem e abre espaço para acordos mais favoráveis É compreensível e razoável, embora no fundo inócua, a decisão da presidente Dilma...
-
Resposta Pragmática - Editorial Zero Hora
ZERO HORA - 11/09 Todos os brasileiros, das autoridades aos cidadãos, têm sobradas razões para indignação diante das informações de espionagem norte-americana sobre assuntos internos do país, com especial ênfase neste episódio da Petrobras....
-
Resposta Adequada Na Crise Da Espionagem - Editorial O Globo
O GLOBO - 10/09 As revelações da quebra de sigilo no Brasil pelo braço de espionagem eletrônica americano, a Agência Nacional de Segurança (NSA), só se agravam. No início de julho, a partir de documentos vazados pelo ex-funcionário terceirizado...
-
Extrapolação Na Espionagem Americana - Editorial O Globo
O GLOBO - 03/09 É correto levar-se a defesa da privacidade a fóruns multilaterais. No plano interno, o governo daria o exemplo se apressasse a votação no Congresso do Marco da Internet Em mais um vazamento de informação capaz de constranger a política...
Geral