GUEST POST: "QUE BIXETE VOCÊ JÁ COMEU?"
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GUEST POST: "QUE BIXETE VOCÊ JÁ COMEU?"


Um guest post da PoliGen, o grupo de estudos de gênero da Politécnica da USP. Sim, não só há cada vez mais mulheres nas engenharias, como cada vez mais mulheres feministas.

Que banheiros públicos não têm paredes brancas, nós sabemos. Na Escola Politécnica (USP), seus sanitários são ocupados por vários assuntos, de perguntas contra ou a favor da greve, até desenhos, os mais variados possíveis. Mesmo perguntas filosóficas já encontramos: ¨Você já existiu hoje?¨, em um feminino da elétrica. Infelizmente, nem tudo é engraçado ou reflexivo nesse ambiente; chegou ao nosso conhecimento mais uma forma de desrespeito e ataque às mulheres: a violência de listá-las, classificando-as segundo seus atributos físicos, inclusive citando supostos fatos de suas vidas sexuais.
Em vários banheiros, o mesmo cenário se repete: contornando desenhos pornográficos que beiram a agressão sexual, perguntas sobre as estudantes e outras pessoas do sexo feminino que frequentam o ambiente politécnico -- “Você comeria a …?”, “E as bixetes 2014?”, “Quais as bixetes mais gostosas?” -- são seguidas de citação nominal das meninas. E a agressão não para por aí. São inclusas informações e comentários, do tipo com quem a moça em questão se relacionou ou não (inclusive detalhes sexuais), se seu corpo é aceito pelo machista que a citou (se ele acha sua bunda quadrada, por exemplo).
Mais do que qualquer banalidade descrita nessas paredes, essa listagem tem um cunho machista e ultrajante, porque objetifica a mulher, a reduz a um mero corpo que existe para o bel-prazer masculino. Além disso, há a característica humilhante dessa atitude -- a menina se torna referência fácil para comentários entre os homens, difamação essa que transborda o banheiro, afinal, as conversas estão na sala de aula, nos grupos de estudo, nos centros acadêmicos, enfim, nos locais comuns que as mulheres frequentam.
Novamente o ambiente politécnico se coloca como sexista e opressor. Não é difícil lembrar de vários outros casos -- várias provas de vários Integrapoli's*, a Barraca do Tapa**, e, para além de eventos, o próprio dia a dia, com piadas e outras provocações vexatórias, inclusive por parte dos professores. 
Nem mesmo o hábito de fazer listas é algo novo -- um grupo de homens, principalmente da Engenharia Mecânica, faz até mesmo uma tabela eletrônica há algum tempo, também citando nominalmente as meninas, dando detalhes de suas vidas sexuais (quais parceiros conhecidos elas já tiveram) e as classificando (para casar, só sexo, só sexo anal, etc).
Vale lembrar que, há cerca de um ano, houve uma tentativa de estupro no prédio da produção, sendo sua sindicância abafada e o caso “esquecido”. Essa ocorrência trouxe debates superficiais sobre segurança no campus pautados na hipótese de que o agressor não pertencia à comunidade politécnica (ou mesmo uspiana), e a questão da violência de gênero não foi de fato levantada. 
A verdade é que, como está comprovado atrás de cada porta de banheiro, o machismo existe dentro da faculdade, em suas salas de aula, em seus banheiros e dentro da cabeça de muitas e muitos. E o  machismo que faz os autores das pichações se sentirem no poder para objetificar as mulheres é o mesmo machismo que faz com que mulheres sejam estupradas todos os dias.

* O Integrapoli é uma tradicional gincana da Escola Politécnica que ocorre todos os anos, com objetivo de promover a integração entre estudantes. Ela consiste de várias provas, muitas delas de caráter machista e opressor, que variam ao longo dos anos mas mantém esse mesmo tom. Exemplos de algumas provas já ocorridas: "construir uma metralhadora de elásticos a ser testada em uma bixete de biquíni ao vivo"; "gravar um vídeo com um 'cumshot surprise' (vídeos em que um aluno ejacula em uma mulher sem o consentimento dela)"; "bixete colocando uma camisinha com a boca em uma banana"; "bixete de menor biquíni".
É importante dizer que essa gincana se apresenta como uma grande oportunidade de bixetes e bixos se integrarem aos seus CA's, o que aumenta a pressão sobre as bixetes para submetê-las às provas, pressão essa que se manifesta explicitamente ou não, seguindo a mesma lógica de sempre: naturalizar as opressões ("é só uma brincadeira").
** A Barraca do Tapa era uma tradicional barraca da festa junina da Poli. A ideia da barraca era que uma mulher pagasse para dar um tapa na cara de algum homem da barraca. Para incentivá-las a participar, os homens da barraca lançavam às mulheres que passavam expressões como "gorda nojenta", “preta fedida”, “puta”, dentre muitos outros termos, explicitando o caráter totalmente opressor da "brincadeira".




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