A MENTALIDADE QUE ESTUPRA
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A MENTALIDADE QUE ESTUPRA


O mundo é pequeno. Dois posts que eu pensava não ter relação nenhuma: este, da Frente Feminista de São Carlos contando como foi hostilizada por alunos machistas da USP por protestarem contra o trote da Miss Bixete, e este, um relato de uma moça que foi estuprada numa festa universitária após ter bebido demais.
Pois bem, agora recebi um email da moça que foi estuprada, a R. E ela me diz que seu estuprador foi um integrante do GAP (Grupo de Apoio à Putaria), o mesmo grupo da USP São Carlos que promove trotes machistas, o mesmo grupo que agride feministas.
O estupro foi em 2008, e ela não deu queixa. Porque, como ela contou no guest post, ela só teve certeza que foi estupro anos mais tarde. Ela era aluna da USP São Carlos, ele também. Ela não sabe por onde anda seu estuprador hoje. Mas achou que era seu dever informar –- mesmo correndo o risco de perder seu anonimato -– que a violência de um grupo misógino pode ir além de transformar calouras em objetos ou de jogar bombinhas em feministas.
Não estou dizendo, de jeito nenhum, que todos os integrantes do GAP sejam estupradores. Muito menos que todos os alunos da USP São Carlos sejam estupradores. Agora, que todos os integrantes do GAP sejam machistas, bom, acho que não resta muita dúvida. As fotos e imagens e depoimentos não mentem. 
O mais bonzinho dos integrantes do GAP (aquele que condenou seus colegas por mostrarem o pênis) disse pra um jornal que não deixaria que a namorada dele participasse do Miss Bixete. Deixaria -– essa foi a palavra que ele usou. Porque, obviamente, a namorada precisa da permissão dele pra fazer o que quiser com o corpo dela.
Fica patente também que o tal GAP defende uma putaria unilateral. Uma putaria só pra homens. O desejo da mulher não importa. Pelo contrário, incomoda. O desejo da mulher é uma afronta pros machistas, que precisam estar no controle. Sem dominação, pra eles, não há tesão. Não é à toa que o símbolo de sua ideologia seja uma boneca inflável. Não se faz sexo com uma boneca inflável, se faz sexo em uma boneca inflável. Não se faz sexo com uma mulher desacordada, se faz sexo em uma mulher desacordada. Só que, como a mulher é um ser humano autônomo com poder de consentimento, nesse caso o sexo tem outro nome –- estupro.
Nada disso é exclusividade de São Carlos. Aliás, imagino que a inspiração para “brincadeiras” machistas, contratar prostitutas para animar festas, fazer sexo sem consentimento, e agredir qualquer mulher que ouse protestar, venha dos frat boys americanos. Sabe aquelas festas de fraternidades que a gente vê nos filmes adolescentes? O número de estupros com mulheres inconscientes nas universidades americanas é alarmante. Claro, tem gente que culpa a mulher que bebeu demais. E tem gente que culpa o estuprador. Em que grupo você está?
A culpa é de uma mentalidade que vê a mulher como objeto, nada muito diferente de uma boneca inflável. De uma mentalidade que vê a mulher como um ser incompleto, só corpo, um ser inferior ao homem, este sim agente do seu desejo. De uma mentalidade que enxerga homens e mulheres como seres de espécies diferentes, como rivais, sexos opostos, em que um sexo deve subjugar o outro.
Se acabarmos com essa mentalidade arcaica, diminuiremos o número de estupros. Se a incentivarmos –- e é isso que o GAP faz através de seus trotes e agressões -–, teremos cada vez mais histórias de horror pra denunciar.




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