GUEST POST: A HOMOFOBIA COMO MÁSCARA
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GUEST POST: A HOMOFOBIA COMO MÁSCARA


Um rapaz que não quer se identificar, o L., enviou o email abaixo. Imagino que muita gente vai se identificar. Toda a teoria de performance diz que atuamos o tempo todo. Temos papéis fixos para cada tipo de relacionamento. Não somos a mesma pessoa com nossos pais, namoradxs, filhxs, chefes, professorxs. 
E talvez o papel que desempenhamos com mais afinco seja mesmo o de gênero. Como diz Judith Butler, o gênero é uma performance. Pra ser "másculo", o cara tem que ser uma caricatura de um machão que ninguém consegue ser. Lembra do Zeca Bordoada do TV Pirata? Pois é, não dá pra ser essa caricatura de homem sem ser homofóbico.

Lola, já faz certo tempo que venho acompanhando o seu blog, embora raramente comente em seus posts. Devo ter comentado apenas duas ou três vezes. Senti vontade de escrever sobre algo que passei nos últimos meses e de como isso me fez perceber que muitos ainda estão presos a imposições retrógradas. Escrevo de forma anônima, pois as coisas que digo aqui não seriam encaradas com naturalidade pela maioria das pessoas que vivem, estudam e trabalham comigo.
Tenho 22 anos e, assim como a maioria dos homens em nosso país, venho de uma família machista e aparentemente incapaz de enxergar além do mundinho em que vive. Quero mesmo é falar sobre essas imposições comportamentais às quais muitos homens precisam se submeter para serem aceitos em seus círculos sociais. Não apenas por parte da família, mas por todos: colegas de trabalho, amigos, familiares etc.
Não sei se é por causa dos novos tempos, sei lá, (talvez sempre tenha sido assim), mas existe toda uma pressão para que você fique provando a sua masculinidade. Acho até que eu, entre boa parte dos meus amigos, sinto com mais força essa pressão, pois ela não parece natural pra mim. Não corresponde à forma que realmente sou. Talvez para os outros seja apenas o jeito "normal" de ser.
Meus amigos são daqueles que veem um gay na rua e viram o rosto. Não são rudes, não provocam ninguém diretamente e não são pessoas ruins, mas são assim... Homofóbicos contidos/moderados? Se alguém lhes perguntar o que acham dos homossexuais, a resposta será aquela padrão: “Nada contra, mas...”. E tem essa coisa de todo momento precisar afirmar a própria macheza, seja no modo de falar, na maneira de se referir a mulheres, de brincar com os amigos. O que me incomodava era que eu tinha (e ainda tenho um pouco) esse comportamento.
Tem um conto chamado “Os Buracos da Máscara” [ou, em outra tradução, "A Máscara Vazia"], do escritor Jean Lorrain, que mostra bem a forma como me sinto. Nesse conto um homem se encontra numa sala em que outras pessoas estão com as faces escondidas por máscaras. Quando ele puxa as máscaras dos rostos delas ele percebe que não há nada por trás. Mas o pior é quando ele se vira para um espelho e percebe, no reflexo, que também está usando uma máscara. A meu ver esse conto diz muito sobre mim, pois é como se eu precisasse usar sempre uma máscara para poder ser reconhecido, mas sem haver nada por trás dela.
Crise de identidade? Acho que está mais para crise de aceitação de algo que faz parte de mim e que agora vejo com mais clareza. Enfim... Não quero me alongar muito. O que eu quero falar mesmo é como um amigo, tão machista como todos os outros, que tece comentários do tipo “olha aí, isso é falta de cinto na bunda quando era criança” se referindo a gays, simplesmente, num momento de descontração e na maior espontaneidade, segurou o meu rosto e, sem se dar conta da linha que estava cruzando, me beijou. E como um cara com um comportamento idêntico ao dele -- eu -- retribuiu.
Não estou dizendo que todo machista no fundo é gay, mas sim mostrando como é triste ter que enganar a si próprio e todos ao redor. Estou falando sobre como muitos usam o machismo como forma de se integrarem ao meio em que foram criados e participar das rodas de amigos que perpetuam essa maneira arcaica de ser.
Passado o momento de euforia veio o medo: “Nos beijamos... E agora?”. 
Para ele, se isso viesse à tona, toda a forma como existimos até ali simplesmente ruiria. O que nossos amigos e pais diriam? Mas pra mim, naquele momento, tudo já tinha desmoronado. A máscara se quebrou e percebi (não de imediato, mas após ficar bastante perturbado pensando no assunto) que havia sim algo atrás da máscara. Não estou falando que me descobri gay do dia pra noite, mas sim que me dei conta de que não preciso ser esse robô que sempre fui. Que não preciso e não devo reproduzir preconceitos e que posso, ao menos parcialmente, ser eu mesmo. Por mais clichê que isso possa parecer.

Minha breve resposta: L., querer ser você mesmo não é clichê. Clichê é continuar nessa farsa de fingir ser quem você não é. Não é que você ou seu amigo sejam homossexuais. Mas vocês repararam que não precisam ser homofóbicos. Vocês não têm que provar nada pra ninguém.
Um estudo do ano passado apontou o que muita gente já desconfiava: que homofóbicos, na verdade, têm desejo por homossexuais. Primeiro verificou-se a intolerância de alguns homens diante da homossexualidade, e depois todos os objetos da pesquisa viram filmes pornôs gays. Adivinha qual grupo ficou mais excitado? Os homofóbicos. 
Parece óbvio: se você não se sente atraído por alguém, você não passa o tempo todo falando naquela pessoa. Por exemplo, eu não gosto de banana. Portanto, não como banana. Não fico pensando em banana, nem fico falando pra todo mundo o quanto eu odeio banana, nem pregando que gostar de banana é anti-natural, e muito menos vou sair por aí esmagando bananas no supermercado.
Então, L., cada vez mais tem-se a certeza que a homofobia é uma máscara.




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