GUEST POST: ANA ATACA NOVAMENTE
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GUEST POST: ANA ATACA NOVAMENTE


Esta é a segunda parte do delicioso guest post (que o crash do Blogger eliminou. Eu coloquei de novo, e recomendo que você o leia pra refrescar a memória, mas infelizmente todos os 33 comentários sumiram. Fora os que foram impedidos de comentar na semana passada) da Ana, gaúcha de 17 anos. Essa é das minhas! Mas pô, por que uma menina dessas não tem um blog?

Ser feminista não tem sido fácil por aqui. E é aí que o seu blog entra, Lola: é bom saber que eu não estou sozinha. Tem gente que concorda comigo! Que acha que mulher serve pra mais do que decoração! Uma luz no fim do túnel!
Os sutiãs foram a gota d’água porque esse é um tema comum aqui em casa -– minha mãe anda atrás de mim reclamando “Vai pôr um sutiã! Seus peitos vão cair!”, como se eu estivesse tentando enfiar os dedos na tomada. Quer dizer, peitos caídos? É o armagedom da existência feminina!
Mas toda família tem uma ovelha negra, e adivinha, a feminista do clã sou eu.
Quando eu comecei a comentar sobre feminismo com a minha mãe, eu achei que ela fosse agir como sempre, debatendo o assunto comigo. Mas ela fez cara de nojo, não quis nem saber do assunto. E disse, “se não fossem as feministas, hoje eu tinha um homem me sustentando!”. Vergonha alheia 300%. Vindo de alguém que sempre se sustentou sozinha, e que criou uma filha sozinha, é no mínimo decepcionante. Minha mãe é uma mulher tão esclarecida -- nunca imaginei que ela fosse se comportar como alguém do século retrasado.
Descobri também que ela, que sempre condenou qualquer demonstração homofóbica, odeia lésbicas. Gays, dois homens, tudo bem. Gays, duas mulheres, um horror! Engraçado, será porque eu sou mulher? Quer dizer, tudo bem ser homossexual, contanto que não seja a minha filha. Pra sorte dela, sou hétero. Mas e se não fosse? E pensar que ela é conhecida na família, cheia de preconceitos, pela luta dela a favor de direitos iguais... “Somos todos iguais, mas não somos”. Era pra fazer sentido?
Minha mãe é gorda. Eu também sou. Nunca dei bola pra isso, minha saúde sempre foi de ferro, e sinceramente, quem precisa de cintura escultural? Eu fui ensinada a valorizar o que se tem por dentro. Porque esse é o certo, e porque é isso que importa, se a história dos meus pais me ensinou algo sobre caráter. Eu acreditava nisso, piamente. Entre as minhas amigas, sempre fui a do discurso anti-ditadura-da-magreza, a que mandava cuidar da saúde e fugir das dietas malucas. Minha mãe sempre me alertava sobre as propagandas enganosas na TV e os distúrbios alimentares, e como não valia a pena se arriscar.
Aí um dia ela chega em casa: “quase te trouxe aquele remedinho pra emagrecer que a gente viu na tv...”.
Não era piada.
Ah, é. Esqueci de dizer: ela é médica.
Uma profissional da saúde sugerindo remédio fajuto pra própria filha.
Para o mundo que eu quero descer!
Eu tenho um sério problema em me enfiar em suplex e sair pra fazer exercícios que eu odeio porque outra pessoa acha que eu devo. Vai contra a minha natureza.
O sutiã? Eu odeio aquele troço! Sempre odiei! Parei de usar em casa depois de ler um artigo sobre saúde, mas minha mãe não se conforma. Como eu sou gorda, meus seios são enormes. Não tem musculatura que os segure. Mas sendo eles caídos ou não, eu não podia me importar menos. Os sutiãs que tem por aí simplesmente não foram feitos pra mim. Hoje em dia você é sortuda se eles vêm sem enchimento (não só as mulheres têm que usar, como têm que usar só os feitos para o padrão de beleza). Eles me machucam, deixam marcas, são extremamente irritantes. Mas eu por acaso tenho opção de usar ou não? Até agora eu achava que eu era a única a me incomodar com isso, mas pelo jeito não sou.
Tenho inveja dos homens. Poder andar por aí sem ficar se importando com a harmonia entre o tom da meia-calça e o tom da echarpe. Poder andar sem camisa. Poder se vestir sem ter medo de ser obsceno -– aliás, me explica uma coisa, Lola: ter peito e bunda é bom ou ruim? Porque se você não tem, você é uma tábua, não é atraente. Precisa dos tais enchimentos. Mas eu tenho, e passo metade do meu tempo tentando escondê-los. Porque não tem nada pior que uma calça marcando a sua calcinha ou os peitos pulando enquanto você anda. É como pedir pra ser insultada. Então afinal, eu rio ou choro?
Toda vez que eu vou sair de casa, preciso ficar de olho em um possível estuprador. Parei de ir à praia aos 13 anos, porque sempre pareci mais velha e era impossível andar sem ser alvo de olhares e cantadas (eu queria usar uma camiseta por cima do biquíni, que pra começo de conversa era pequeno demais pro meu gosto, mas a mulherada da família entrava em pânico se eu não me bronzeasse direito). E ao contrário do que pensam os mascus, cantada me enoja e me dá medo.
Ah, os mascus. Sem palavras pra descrever como eu fiquei pasma quando descobri que eles existem. “Nós homens somos criados com contos de fadas que nos ensinam a ser gentis”. Oi? Quem cresce assistindo as princesas da Disney somos nós, mané. Vocês assistem Transformers. Que aliás é muito mais legal. E violência doméstica, cantadas, estupros, que bela maneira de ser gentil. Gosto desse argumento dos fairy tales porque me lembro das minhas amigas que eram populares com os garotos. Eu gostava de observar a diferença de comportamento dos rapazes: quando elas estavam presentes, era "eu te amo"; quando ausentes, "me deixou passar a mão! sério! mó vadia!". Me parece que a parte ingênua eram elas, não eles. Porque nós acreditamos em contos de fadas, e ninguém nos previne sobre o risco de o príncipe ser um tremendo mentiroso. Somos criadas para crer no romantismo, nas juras de amor, e eles sabem disso muito bem. (Quanto a mim, não arranjei um príncipe; mas soube por outras garotas que os rapazes costumavam me citar como exemplo de menina que eles respeitavam. É idiota dizer que eu prefiro isso aos "eu te amo" fake? Porque eu prefiro. Gosto de respeito... Mesmo que isso não me faça popular.)
Outro exemplo muito bom dos mascus é “A mulher não tem sua sexualidade reprimida”. Ah, não. Não mesmo. A gente fala de sexo o tempo todo, sem se preocupar em ser tachada de puta, de safada, de pervertida. A gente assiste pornografia, tem revistas voltadas pra nós, somos incentivadas por nossas mães a passar o rodo. Masturbação não é sinal de lesbianismo, é só uma coisa corriqueira. E eles aprendem a cozinhar e fazer tricô.
Ai, Lola. Não disse que eu ia escrever pra caramba? Acho que vou parar por aqui.
Mas taí, uma amostra da realidade de uma das tuas leitoras. Vou continuar acompanhando o blog. Escreva, Lola, escreva! Não me deixe sozinha à mercê da lavagem cerebral. Eu também quero queimar os sutiãs.




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