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GUEST POST: COSMÉTICOS, FUTILIDADES, JULGAMENTOS
Ísis, uma universitária e professora de inglês em Brasília, quis comentar um artigo publicado num jornal inglês sobre uma mulher, viciada em maquiagem e demais produtos de beleza, que ficou um mês sem se maquiar ou fazer as unhas. Quando eu leio essas coisas, eu penso: um mês?! Grande coisa. Que tal uma vida inteira? Certo, não sou padrão de comportamento feminino, nem mesmo de comportamento feminista (conheço muito mais feministas que usam maquiagem do que feministas, digamos, como eu. E, como não me canso de repetir, não me considero inferior ou superior a quem age diferente).
Tem bastante coisa que discordo do guest post da Ísis. Mas eu a compreendo, porque já pensei parecido. Quando eu era jovem, ficava agoniada em sair com amig@s ou ir a suas casas e constatar que rapidamente dois grupos se formavam, homens e mulheres. E as conversas nos grupos de homens pareciam mais atraentes pra mim que falar de cabelo, blush, moda, dietas e bebês. Mas acho que resolvi isso escolhendo melhor os amig@s e evitando divisões. Nunca mais participei de papos "masculinos" ou "femininos".
Mas uma coisa que concordo demais com a Ísis é que precisamos parar de ser tão duras com a nossa própria aparência e com a das outras. Pra quê ficar julgando mulheres? A mídia e nossas famílias já não fazem isso por nós? Por que participar do jogo do patriarcado, e competir entre nós como se o que mais importasse fosse a aparência física? Eis o guest post da Ísis.
Achei interessante ler esse texto em que a mulher se submete a um mês sem nenhum cosmético que não seja relacionado à higiene, porque eu, como qualquer mulher, sofro de uma constante pressão social implícita para estar constantemente bem em relação a como aparento. Em algum momento entre a infância e adolescência, fui apresentada ao "maravilhoso" mundo dos cosméticos, e isso foi algo decisivo na minha vida, talvez pela minha ânsia de ser aceita, ou talvez pela curiosidade que eu tinha com esses produtos que todas as mulheres usavam e minhas amigas, logo cedo, também. Quando comecei a estudar mais o feminismo, uma coisa que me deixava um pouco atrás era sempre a questão da beleza, dos cosméticos e das maquiagens, porque acabei tendo pra mim a concepção disso como meio de expressão, e modo de me sentir melhor comigo mesma, porque nunca vi tais artifícios como maneiras de agradar ninguém que não fosse eu. Mas acabo percebendo que na vontade de me sentir melhor em relação a mim mesma, entro também na tênue linha do que é a visão de nós mesmos através dos olhos do outro. A percepção alheia de quem somos acaba sendo fundamental na experiência de como nos vemos, e não estritamente aquilo que julgamos ser. No fundo no fundo, parece que estamos sempre numa correria para aparentarmos estar bem, mas quando chegamos em casa não ficamos maquiadas, com salto e bem arrumadas, perfumadas, porque parece que essa visão nossa através dos olhos admiradores alheios é o que importa, e claro que nos faz sentir bem, mas não deveria ser o único fator de aceitação e tampouco a única maneira de ser vista de forma positiva. Por que não incentivar os debates, as discussões e a troca de ideias como forma de aceitação e empatia com o outro, ao invés de a aparência em primeiro lugar? Digo isso porque sempre fui uma aluna participativa, e sempre gostei de saber mais e perguntar para os professores e os colegas os pontos de vista, o que achavam, tirar dúvidas, e não via isso da maioria das outras meninas da minha classe. Recentemente tenho debatido várias questões com amigas, a maioria via internet, e muitas vezes recebo comentários do tipo "não estou querendo brigar com você", ou "não sei tanto sobre o assunto" e sempre esquivas, porque parece que não somos estimuladas a esse tipo de coisa, como se fosse algo ruim e fora do universo delas, enquanto que em debates do mesmo tipo com homens, é sempre algo a ser acrescentado, analisado, e tudo levado numa boa, uma coisa natural e uma troca de ideias. A maioria das mulheres que tenho como exemplo nem se atrevem a dar a opinião mais bem embasada e aprofundada em relação às coisas, é tudo superficialmente estudado, só para troca rápida de ideias, porque parece que o mais importante é debater a roupa que a outra está vestindo, o cara bonitão, o paquera da vez, criticar a maquiagem da fulana, as técnicas de alisamento da moda, ou a maquiagem da estação. Mas isso tudo cansa muito, Lola. Eu não queria ter que admitir pra mim mesma que a maioria das mulheres é muito chata pra se conversar, porque parecem que só sabem falar de assuntos como esses, e claro que são gostosos às vezes, mas isso cansa demais, parece que só temos isso a acrescentar pro mundo. Queria muito poder dizer que a maioria das mulheres se interessa em aprender e debater mais, e estimula seu intelecto com coisas além do universo a que estão acostumadas. O que mais me chocou no relato da mulher do texto, foi ela dizer que não se sentia mais ela mesma, que a falta de maquiagem não era libertadora, que ela sonhava com seus cosméticos, e que o pior era encarar o julgamento dos outros. Passo a me questionar em que, de fato, reside o núcleo do que somos: nos cosméticos ou no nosso cérebro? Nunca vi um homem que temesse não ser ele mesmo se não fizesse sua barba, ou não usasse um terno, sei lá. Achei interessante que no final a autora do texto falou: "Com nossos julgamentos constantes entre nós, nós mulheres somos nossas piores inimigas. A busca da beleza é tanto uma felicidade como uma maldição. É uma expressão da sexualidade feminina e do gosto pessoal. E no entanto ela nos torna competitivas, fazendo com que gastemos nosso tempo e dinheiro. Ela é, de várias maneiras, um vício -- um a que entusiasticamente voltarei no momento que esta experiência terminar".Não concordo que a busca da beleza seja uma expressão de nossa feminilidade e sexualidade, porque acho que ser mulher é muito mais que isso, e que para ser mulher não é necessário ser feminina, e não estamos presas a nossa sexualidade (ou ao menos não deveríamos estar), mas acho que é primordial que passemos a buscar maneiras de incentivarmos umas às outras coisas maiores que somente nossa aprência, e principalmente pararmos de julgar umas às outras baseadas nela, e isso desde pequenas, como fala-se nesse texto ("How to talk to little girls"). Uma pena que a autora da experiência tenha achado melhor voltar a como estava, entusiasticamente, do que criticar os motivos para se encontrar em tal posição frente a sociedade, ou de procurar saber por que muitas mulheres preferem nem pensar muito em relação a isso. Afinal, de que mais poderíamos ser constituídas senão do fantástico pó de arroz que habita nossa necessaire de maquiagem?
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