GUEST POST: EU CONTRA O NAMORADO DA MINHA AMIGA
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GUEST POST: EU CONTRA O NAMORADO DA MINHA AMIGA


A M. me enviou este relato:

Olá Lola, escrevo para compartilhar contigo uma história que infelizmente representa uma realidade na nossa cultura. Tenho uma grande amiga que por um ano namorou um rapaz. Foram tempos terríveis, ele a agrediu fisicamente (“nada grave, só a derrubou, apertou o braço e empurrou”) três vezes nesse tempo, e emocionalmente quase que todos os dias.
Eram falas bem tristes. Ele falava que ela é burra por cursar uma graduação não tão concorrida, que era gorda e deveria emagrecer, que se vestia mal, que era uma pessoa difícil de lidar... inúmeras afirmações desse gênero feitas constantemente. E, lógico, como ela era uma menina tão desqualificada, isso fazia dele um rapaz quase heroico, tamanha benevolência em manter o relacionamento com ela.
Daí ele aproveitava para aconselhá-la a nunca, nunca, nunca largá-lo, já que se trata de uma moça tão sem atrativos. Segundo ele, se ela não estivesse com ele, seria sozinha para o resto da vida, pois nunca iria encontrar outro alguém disposto a se submeter à relação com uma garota gorda/feia/burra/chata.
Aí imagina eu, que além de ser feminista sou puro amor pela amiga em questão, vendo tudo isso. 
E eu falava, e aconselhava e me sentia falando com as paredes, daí ficava brava, e brigava, e por um triz, consciente do valor da minha amizade, não apelava pro “ou eu, ou ele”. Foi um execício de paciência para mim também, aprendi que eu não podia (infelizmente) enfiar todos os conceitos na cabeça dela do dia pra noite, e entendi que se tratava de um processo de construção gradual. Afinal, tinha que fazê-la se ver forte, tinha que fazê-la não acreditar nas coisas que o rapaz dizia, e ainda tinha que mostrar o quão ruim pra ela era a companhia dele, além de ter que dizer que lógico que há outros rapazes que poderiam se interessar por ela.
Eu achava que depois que ela conseguisse terminar, o pior teria passado. Ledo engano: ele começou a persegui-la, chantageá-la, ameaçava se matar, matar a ela, matar o mundo. Ele se cortava e mostrava os cortes pra ela, e assim o coração dela amolecia, e ela nunca dava um basta. Nisso foram quase seis meses de terror. Eu juro que quando ela sumia, sem atender o celular ou responder a uma mensagem, eu já ficava com muito medo do pior.
Finalmente, ela resolveu dar um basta: trocou de número, contou pra família, o bloqueou em todas as instâncias da internet, falou com a família dele (que pra nossa alegria ofereceu total apoio a ela, e a julgar pelo quanto ele está sem procurá-la, imagino que eles devem estar mesmo em cima). Aí me veio outra surpresa: a mãe dela (e mais algumas colegas, mas o que mais me espanta é a postura da mãe) falou coisas terríveis, como dizer que a culpa disso tudo era dela, que ela deveria procurá-lo para pedir desculpas por tudo o que ela fez com ele (eu sempre morro um pouco quando lembro disso).
Bom, atualmente, como ela mesmo descreve, ela está em processo de desintoxicação de todas as coisas ruins que ouviu, mas lógico que vejo grandes mudanças e me orgulho de todas elas. Vejo uma menina que se fortaleceu, que se desvencilhou de uma série de autoconceitos bem ruins, um namorado maluco, uma mãe que não ajuda. Ela agora está se relacionando com outros meninos e conhecendo um mundo novo.
E é por isso que compartilho essa história, vai que tem alguém por aí vivendo algo semelhante, seja no papel de namorada oprimida ou de amiga desesperada. Fica o exemplo, e o pedido para que nunca jogue a toalha, seja paciente, porque pra construção ficar firme, deve-se fazê-la tijolo a tijolo, num árduo porém compensador processo.

Meu comentário: Concordo, M.! É sempre uma situação complicada porque, por mais que a gente perceba tantos pontos negativos naquele namorado ou marido da amiga (ou, muitas vezes, na namorada do amigo, ou na namorada da amiga, ou em todas as variações possíveis), se ela está com ele, é porque tem alguma (ou muita) coisa que ela gosta nele. 
Porém, se é pra ajudar a amiga, é péssimo se colocar na posição de "ou ele, ou eu". Você agiu corretamente, tentando reconstruir a autoestima dela (que certamente já era baixa antes de conhecer o ex manipulador). Tem que ter paciência mesmo. 
É triste ver que tanta mulher é condicionada a suportar um relacionamento abusivo por ter autoestima baixa. Não creio que isso ocorra muito com os homens, de modo geral. Eu pelo menos nunca vi uma mulher falar pro namorado que ele é tão desprezível que, se não ficar com ela, não vai ficar com mais ninguém. Não sei se a experiência de vocês é diferente.




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